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* HISTÓRIA » Ancestrais do homem passaram a andar com duas pernas a 3,7 milhões de anos.

        A receita de um ser humano precisa de um ingrediente sem o qual o mundo provavelmente seria dominado pelos macacos: o bipedalismo. Desde que desceram das árvores, os ancestrais do homem moderno começaram a adquirir habilidades e passaram por alterações físicas que, mais tarde, originariam o Homo sapiens. Mas a data em que os primatas deram seus primeiros passos é um assunto ainda controverso. Agora, parece que a questão foi decidida. Baseada em modelos estatísticos e computacionais, uma equipe de pesquisadores britânicos descobriu que isso ocorreu há 3,7 milhões de anos — quase 2 milhões de anos antes do que se imaginava.
        Os cientistas analisaram as pegadas de Laetoli, rastros impressos no chão por algum primata na região onde hoje é a Tanzânia. Foi lá que, há 35 anos, o antropólogo Marky Leakey encontrou as mais antigas marcas de pé de que se tem notícia. “Muito provavelmente, eram de hominídeos da espécie de Lucy, a Australopithecus afarensis. Nenhum hominídeo conhecido vivia perto de Laetoli naquela época”, diz ao Correio Robin Huw Crompton, professor do Instituto do Envelhecimento da Universidade de Liverpool e especialista em evolução de primatas.
         Crompton é um dos autores do estudo publicado nesta semana no Journal of the Royal Society Interface. Amplamente estudadas — no Museu de História Natural de Nova York há uma cena retratando dois animais meio macacos meio homens no momento em que foram feitas —, as marcas deixadas sobre a lava vulcânica gera controvérsias. De acordo com Crompton, há quem defenda que foram feitas por um primata como o chimpanzé. Porém, a linha dos que acreditam serem pegadas de hominídeos ganhou reforço com o artigo da equipe inglesa.
        Juntamente a cientistas das universidades de Manchester e Bournemouth, os pesquisadores de Liverpool usaram uma nova técnica estatística, baseada em ressonância magnética funcional, que reconstituiu 11 pegadas de Laetoli em três dimensões. As marcas foram, então, comparadas às pegadas de humanos modernos e de outros grandes primatas, que têm um jeito de caminhar diferente do Homo sapiens. Para Crompton, não restam dúvidas de que quem pisou ali tinha muito mais semelhanças com o homem do que com o macaco.
         O especialista na evolução de primatas conta que, até agora, acreditava-se que o Australopithecus afarensis tinha uma postura parecida à dos chimpanzés, que andam meio curvados, apoiando-se nas laterais do pé e pressionando o chão com a parte central do órgão. Já os humanos caminham totalmente eretos, o que pode ser constatado pela marca de sua pegada, mais arqueada do que a dos outros primatas. “O formato do pé humano é provavelmente uma das diferenças mais óbvias entre nós e nossos mais próximos parentes, os grandes primatas. Acredita-se que a diferença na função do pé está ligada ao fato de que os humanos passam todo o tempo no chão, mas há muitos debates sobre quando essas mudanças ocorreram. Nosso trabalho mostra que esse evento ocorreu antes do imaginado”, comenta um dos autores do estudo, o pesquisador Bill Sellers, da Universidade de Manchester.
          Blog: Agora não esqueça nunca, em história não existe verdade absoluta, toda verdade é relativa!
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