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* Correio da Tarde: Entrevista com Robinson Faria.

CORREIO DA TARDE - Como o senhor entrou para a política?
ROBINSON FARIA - Entrei para a política pois meu pai era um empresário e o acompanhava. Comecei a criar gosto. Então, fui convidado a ser suplente de Dinarte Mariz. Por isso ele começou a atuar mais intensamente, na retaguarda, acompanhando políticos como Jessé freire. Aí fui me apaixonando pela política. De início, só acompanhando meu pai. Saia das aulas para ir para os comícios de Aluizio Alves, e fui me envolvendo e me apaixonando e vislumbrei um dia virar um político. Não foi nenhuma imposição familiar. Meu pai nem queria.

Quando disputou, diretamente, seu primeiro mandato eletivo?
Foi em 1982, que surgiu a primeira oportunidade, mas meu pai relutou. Mas, em 1986, com 24 anos convenci meu pai e fui deputado estadual.

Quantos mandatos?
São seis mandatos de deputado estadual e um de vice-governador

No ano passado o senhor tentou disputar o Governo do Estado, mas acabou sendo vice de Rosalba. O que houve?
Eu era o segundo mais votado nas pesquisas. Em todas as pesquisas, e os estudos internos apontavam que minha candidatura era viável.

O que faltou, então?
Não consegui agregar partidos. Ainda tentei uma aliança com João Maia, de última hora, mas também não deu certo.

O senhor teria topado disputar o Governo do Estado, se João Maia o tivesse apoiado?
Sim. Mesmo que fosse só o meu grupo e o dele, eu teria topado a parada, mas ele se incorporou a campanha de Iberê (Ferreira, vice-governador) e fiquei só.

Mas o senhor não poderia ter sido candidato sozinho já que contava com uma boa estrutura?
Eu liderava um grupo político, realmente, e por isso mesmo, não poderia ser egoísta e pensar só na minha campanha e no meu próprio projeto, quando tinha cinco deputados e mais meu filho Fábio (Faria, deputado federal). Não poderia pensar só no meu projeto, mesmo tendo sido uma candidatura na qual trabalhei cinco anos. Mesmo tendo demonstrando a credibilidade que demonstrei. Não poderia esquecer que eu tinha responsabilidade com os outros.

O senhor chegou a formar um grupo político ao lado dos deputados federais Henrique Alves e Iberê Ferreira de Souza...
O colegiado não funcionou porque os deputados Henrique Alves e João Maia, voltaram atrás. Primeiro Henrique e depois João, os dois optaram por se incorporar ao projeto de candidatura de Iberê.

Nos bastidores políticos e através de setores da imprensa, chega-se a avaliar que o senhor teria sido ingrato com a ex-governadora Wilma de Faria, de quem teve espaços na administração dela, mas acabou não a apoiando para o Senado.
No segundo Governo de Wilma de Faria ela meu deu espaço. Mas é bom lembrar que eu fui convidado a ser candidato a vice-governador na chapa de Garibaldi, em 2006. Isso em um momento que ele aparecia com 30 pontos na frente de Wilma. E Wilma tava quase para desistir, quando Garibaldi me convidou.

Aquele era um momento decisivo da campanha?
Se eu tivesse ido teria sido consagrada a vitória de Garibaldi, logo no primeiro turno e Wilma desistiria. Ela reuniu a família e disse que se eu fosse para Garibaldi, ela desistiria.

O que o fez optar por Wilma, naquele momento?
Foi uma questão de lealdade. Achei que seria oportunismo meu, por isso permaneci com Wilma e ao apoiar o nome dela, conseguimos reverter um quadro que era de total desvantagem e vencemos a eleição

Como estava o quadro no momento de sua decisão?
Já havia uma verdadeira debandada e com eu fiquei com Wilma, deu um novo alento a campanha dela. Tanto que ela fez um ato no América só para comunicar meu apoio, e a partir daí a campanha dela começou a ressurgir. Ganhamos contra esse mesmo grupo que está no Governo do Estado, que estava unido com Garibaldi, Henrique e José Agripino. Vale lembrar que Garibaldi estava invicto, mas perdeu a eleição E o candidato Garibaldi era um candidato imbatível, mas conseguimos ganhar, apesar de Wilma enfrentar um certo desgaste.

Essa posição fez com que Wilma lhe abrisse espaços no segundo governo?
Por conta disso, ela me prestigiou. Mas ela sabia que eu tinha intenção de ser candidato a governador em 2010.

Então, a culpa foi de Wilma por seu rompimento?
Eu não quero culpá-la, pois o vice-governador (Iberê Ferreira) conseguiu torná-la quase uma refém de sua candidatura. Então, Wilma foi obrigada a ceder as pressões do vice-governador e eu me senti nesse momento, de certa forma, injustiçado, pois tinha demonstrado viabilidade política e eleitoral e que seria o nome mais forte para vencer Rosalba. E as pesquisas qualitativas eram muito claras quanto a isto.

Sua candidatura era competitiva?
Minha posição era de um candidato competitivo e em condições de vencer Rosalba Ciarlini.

Esta viabilidade era concreta?
Uma prova de que minha candidatura era viável é que Garibaldi Filho chegou a dizer que se eu permanecesse no bloco de Iberê e Wilma, ele não iria apoiar Rosalba, Na hora que eu fui para Rosalba, eu acabei proporcionando a inda dele também.

O que foi que Garibaldi afirmou, naquele momento?
Ele disse abertamente que se o grupo ficasse unido, ele ficaria conosco, e que se eu fosse o candidato de Wilma, ele permaneceria no nosso grupo.

Então seu apoio a Rosalba teria funcionando como uma espécie de efeito dominó?
Minha ida para o grupo de Rosalba proporcionou a ida de Garibaldi. Sem contar com todas as lideranças que formavam o meu grupo e o efeito que aquele gesto provocou.

Seu apoio foi decisivo para a vitória de Rosalba?
Pela minha posição de integrante do grupo da governadora Wilma de Faria, como parceiro, e por conta da divisão e o estrado na candidatura de Iberê, proporcionou a Garibaldi ter argumento mais consistente para apoiar Rosalba.

O que pesou mesmo para sua decisão de migrar para o grupo que lançou Rosalba ao Governo?
O motivo da minha saída foi o fato de o grupo não ter adotado o critério da consulta ao povo, através de pesquisa para a escolha do candidato do nosso grupo político.

Não houve nada de pessoal com Iberê?
Não, não houve nada pessoal que eu considere grave. O que houve foi um critério que a governadora se rendeu a rede construída pelo vice e que a deixou emparedada. Então, saí.

Havia alguma simpatia de Wilma por seu nome, ou não?
Reconheço que eu era o candidato da simpatia da governadora Wilma de Faria e ela tinha o desejo de me apoiar. E chegou ao meu conhecimento, que a família dela desejava que eu fosse o candidato. Mas com a ascensão de Iberê ao Governo do Estado ela não teve força para me apoiar.

O senhor ficou magoado?
Fiquei muito magoada, pois ela como líder poderia ter chamado e dito que iria usar as pesquisas, mas isso não aconteceu. Mas, não posso deixar de registrar que ela me prestigiou até o dia que eu saí do governo.

Então, quem teria sido o responsável por sua saída do grupo, se Wilma lhe prestigiava no governo e até tinha simpatia por sua candidatura?
Foi o vice-governador Iberê. Ele deu diversas entrevistas tentando me expulsar, me mandando entregar os cargos.

Isso foi o levou para fora do grupo?
O vice-governador passou até a usar um argumento que eu não tinha votada em Fátima Bezerra para Prefeitura de Natal na eleição anterior, e sim, em Micarla. Ora Micarla tinha votada em Wilma para governador. Então, eu não tava apoiando uma candidatura contra o sistema.

O então vice-governador Iberê Ferreira não buscou uma parceria com o senhor?
Nunca. Iberê, ao invés de dialogar comigo, ficou o tempo todo lutando para me enfraquecer; tentando me esvaziar. E ao mesmo tempo articulando nos bastidores contra mim. Então, eu fui obrigado a romper e sair.

Em nenhum momento houve diálogo entre o senhor e Iberê?
Isso fez com que o diálogo se encerrasse. Se ele tivesse tido uma visão mais abrangente, eu teria sido vice dele e o resultado poderia ter sido outro.

Como assim?
Garibaldi não teria ido apoiar Rosalba; meu partido que teve cerca de 300 mil votos não teria ido para Rosalba. Observe que Iberê quase foi para o segundo turno. Os votos dos deputados e do meu grupo ultrapassaram os votos que Iberê precisou para ir para o segundo turno.

O senhor considera então que procovou um estrado na campanha de Iberê quando anunciou apoio ao nome de Rosalba?
O estrago foi tão grande que Iberê passou três meses para arranjar um vice, pois ninguém mais queria ser vice e tudo isso foi a favor de Rosalba. Meu grupo tinha meu capital político de quase 20 por cento, e é claro que desses vinte por cento, na hora que fui ser vice levei para votar em Rosalba para governador e consequentemente, derrotou Iberê.

Então, o senhor e Garibaldi foram decisivos para a vitória de Rosalba?
Claro que sim. A chapa de deputados estaduais e o deputado federal Fábio Faria que levei, é uma soma muita interessante que foi evidenciada com minha ida e acrescida com a posição de Garibaldi.

Foi um erro então, de Iberê, não buscar aliança com seu grupo?
Depois que eu rompi ele fez uns dez convites e ninguém mais quis ser vice em sua chapa. O deputado Mineiro, João Maia, Larissa Rosado e muitos outros nomes recusaram o convite. Acho que ele errou quando não soube segurar o grupo que elegeu Wilma em 2006.

Quanto a Wilma de Faria?
Também acho que ela errou muito ao não procurar manter o grupo que a havia apoiado e participado. Se Wilma tivesse mantido o grupo, teria sido eleita senadora e teria eleito o governador do Estado.

Quem teria errado mais, Wilma ou Iberê?
Considero que a parcela de culpa maior foi do vice-governador que quis apenas conquistar o PMDB, em detrimeto do meu grupo político que ele tentou enfraquecer, com a entrada do PMDB no Governo dele e de Wilma.

Mas, Henrique também participou das articulações...
Acho que Henrique foi na mesma linha de Wilma. Se rendeu aos encantos do vice, e optou por ele, simplesmente, sem nenhuma consideração. A mim não foi dada nenhuma explicação. Foi uma decisão unilateral dele que na época não entendeu a minha importância e a do meu grupo.

Iberê teve mais argumentos que o senhor?
Realmente o poder de convencimento de Iberê foi maior do que o meu.

Não houve nada pessoal, então?
Não, nunca houve nada de pessoal. Ao contrário, não houve arranhão, foi decisão política dele que eu entendi.

Houve tentativa de esvaziamento de sua candidatura ao Governo do Estado?
Quando o governo descobriu que eu seria candidato numa terceira via, passou a assediar João Maia. Pegaram um jatinho e foram à Brasília conversar com ele, quando já estava acordado que disputaríamos o Governo.

Qual foi a de João Maia?
A partir desse assédio ele foi me abandonado e me evitando. Depois se rendeu aos argumentos de Henrique Alves, Iberê Ferreira e de Wilma.

Vamos falar um pouco da situação de Natal. O senhor que teve participação na vitória da prefeita Micarla de Souza, como acompanha a rejeição dela?
Acho que Micarla errou quando ela não soube formar um grupo. Teve o grupo que foi importante para sua vitória, mas ela não soube segurar esse grupo. Ela pecou pela auto-suficiência. Não tenho nada pessoal, mas ela cometeu erros políticos primários.

Por exemplo?
Deixar dispersar o grupo que a elegeu e que tomou posições corajosas como eu e João Maia, de não apoiar o candidato do governo, confiando nela como aliada futura. E ela não valorizou esses apoios.

Ela teve uma grande oportunidade de se firmar como uma nova liderança política do Estado?
Na minha opinião, sim. Teve tudo para ser um liderança. O que sei é que é muito difícil para ela, mas acho que Micarla teve uma grande oportunidade de ter uma carreira vitoriosa. Tava muito fácil ter uma sequência de vitórias na carreira dela e ela não teve a visão necessária para essa oportunidade.

Não teria faltado apoio...
Micarla deve ter suas razões, quando diz que não teve parcerias estaduais e federais e temos que respeitar sua posição.

E politicamente?
Acho que ela errou muito no campo político, pois terminou tentando governar com adversários.

Qual a posição de seu grupo político sobre a disputa da Prefeitura de Natal?
Estamos conversando, não temos nada definido. Passei um tempo fora, tive uma virose, passei uma semana em casa. Agora é que estou voltando.

Quando se decidirá?
Logo. Vai ser logo, pois não pretendemos prorrogar isso para não parecer que estamos querendo fazer jogo de valorização. Eu não trabalho assim, não faço política dessa forma. Tomo minhas decisões e vamos para a luta. Temos projetos.

Está mais para fazer parcerias?
Em Natal nosso caminho será buscar parcerias. Não vamos lançar candidatura própria.

Qual a tendência?
Conversei com todos os pré-candidatos . Com Mineiro, com Carlos Eduardo e, com Wilma, pois todos são candidatos e estão no papel deles. Estão procurando formar parcerias. Fábio (Faria, deputado federal) também conversou com eles. Vamos decidir logo pois não pretendo prorrogar.

Como será a sua decisão?
Existe um grupo, sim. E a decisão, com quem quer que seja vai depender do grupo, pois não sou só eu. Tem os deputados estaduais e outras lideranças e tudo passa por eles.

No escândalo da Operação Sinal Fechado em Natal, houve informação de que o senhor teria sido procurado por um dos envolvidos, mas avisou que era rolo e preferia ficar fora. O que houve?
Não fui procurado por ninguém, pois externei minha posição contrária a inspeção logo de início. E talvez por isso não tenha havido a tentativa de alguém de se aproximar de mim. Achava muito interessante Rosalba acabar com essa inspeção, pois quando foram tornados públicos os valores foram números que a população reagiu. Então, talvez pelo fato de ter externado esse argumento ninguém tenha se sentido a vontade para tratar do assunto que é muito grave como está se provando agora.
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