Por Josias de Souza
O que os políticos dizem espontaneamente em público nunca é tão
importante quanto o que você ouve sem querer atrás da porta. Repare no
que acaba de acontecer com o presidente do PDT, Carlos Lupi. Discursando
para filiados do partido, em São Paulo, Lupi golpeou o petismo e os
governos Lula e Dilma Rousseff abaixo da linha da cintura. Foi escutado pela repórter Isadora Peron, que obteve uma gravação do discurso.
Lupi disse coisas assim: “O PT exauriu-se, esgotou-se. Olha o caso da
Petrobras. A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram
demais. Exageraram. O projeto deles virou projeto de poder pelo poder.”
Ou assim: “A conversa com o PT, com o meu amigo Lula e com a
presidente Dilma, é qual o naco de poder que fica com cada um. Para mim,
isso não basta. Eu não quero um pedaço de chocolate para brincar como
criança que adoça a boca. Eu quero ser sócio da fábrica, eu quero ajudar
a fazer o chocolate.”
Ou ainda: “A gente não quer ser um rato, que foge do porão do navio
quando entra a primeira água, mas também não queremos ser o comandante
do Titanic, que ficou no barco até ele afundar.”
Quanto à corrupção, Lupi conheceu-a por dentro. Ex-ministro de Lula e
Dilma, foi varrido da pasta do Trabalho pela presidente sob variadas
acusações de desvios. Portanto, é melhor não discutir com um perito no
assunto.
Sobre o rateio que Lula e Dilma fizeram da Esplanada, Lupi participou
gostosamente das conversas —mesmo depois de ter sido expurgado do
ministério. Avalizou a nomeação do atual titular do Trabalho, Manoel
Dias. Vá lá que não quisessem apenas adoçar a boca como criança. Mas
precisava sumir com o chocolate?
Por último, como qualquer outro oportunista, Lupi tem o direito de
escolher a melhor hora para saltar da embarcação. Mas convém não fazer
pose de navio que abandona os ratos. Pode irritrar a turma da terceira
classe.
A notícia sobre as manifestações de Lupi veio à luz na noite de
sábado. Algumas pessoas aguardaram pela reação indignada do PT. E nada.
Imaginou-se que Lula e Dilma reagiriam. Nem que fosse com uma cara de
nojo. E nada. Noutros tempos, costumava-se perguntar: onde essa gente
pretende chegar? Hoje, convém indagar: onde irão detê-los?
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