Não é de hoje que os concursos para professor da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN) são atravessados de suspeitas.
Mas uma manifestação concreta hoje no facebook chamou atenção. O
professor efetivo do departamento de Ciências Sociais, Bosco Araújo,
usou sua conta para lançar muitas dúvidas sobre a seleção para docente
de Ciência Política da UFRN.
Segundo o professor, o concurso estava cheia de vícios e a banca atuaria para aprovar uma “criatura de nome Pablo”.
O BG achou gravíssima a denuncia do professor e passamos o dia investigando.
De acordo com edital número No 003/2015 o
concurso para professor efetivo contempla três fases – prova escrita,
prova didática e prova de títulos. A escrita e a didática são
eliminatórias. Com a nota abaixo de sete o aluno está desclassificado e
impedido de ir para a fase posterior. A prova de títulos é
classificatória.
Ao apurarmos um primeiro acontecimento desperta dúvida. Na prova escrita dos seis temas relacionados, duas questões foram escolhidas – ambas na área de marxismo e democracia. Apesar de ser prática corrente das universidades existir um sorteio de qual tema será o da prova escrita no momento da avaliação, segundo o professor Bosco Araújo, a banca preferiu perguntas prontas sem nenhum procedimento claro quanto às suas escolhas.
Na prova escrita apenas quatro concorrentes passaram para a segunda fase, todos com formação marxista e/ou ligados a partidos de esquerda, conforme é possível conferir na base de dados dos currículos públicos da Lattes.
Outro dado é curioso. Um dos concorrentes, Pablo Thiago, tem um
histórico de relacionamento acadêmico com um membro da banca, o
cientista político argentino e marxista Gabriel Eduardo Vitullo. O
professor Gabriel Vitullo, conforme documentos em anexo, orientou vários
alunos do grupo de pesquisa Gepalc-UFPB, que estuda América Latina, com
o referencial teórico marxista e também foi o presidente da banca da
seleção de doutorado em que Pablo foi aprovado. Após essas insinuações
notem também que o tema “escolhido” para a prova didática dos alunos é
exatamente o mesmo que Pablo se aprofundou nos grupo de estudos, no
mestrado e doutorado.
Pablo Thiago também estuda América Latina, democracia e faz parte da
base da banca de pesquisa, conforme documento do Cnpq. Além disso, o
professor e o concorrente já participaram de seminários acadêmicos de
esquerda juntos, de acordo com inscrição pública acessível pelo site de
busca google.
Conforme a RESOLUÇÃO No 108/2013-CONSEPE que
rege o edital, tal aproximação correria o risco de ser enquadrada como
de suspeição. Ou seja, o professor deveria ter sido substituído por
outro membro.
O professor Bosco Araújo entrou com uma reclamação na coordenadoria
de concursos da UFRN e pediu uma consulta a procuradoria da UFRN, mas
essa aceitou, segundo ele, uma plenária irregular (de quórum
insuficiente e sem aviso de 48h de antecedência) para aprovação da banca
e não viu nenhuma suspeição no caso.
O boato da montagem da banca fez com que alguns candidatos
desistissem de fazer a seleção. Também é interessante reforçar que
professores concursados de outros estados e com experiência foram
reprovados.
Na manhã de hoje (23) o professor Bosco Araújo fez outra publicação
levantando suspeitas sobre a corrente ideológica predominante dos
aprovados nessas primeiras fases do concurso. Ainda chama atenção a
“indireta” para o professor Vitullo, de origem argentina, “os portenhos
não morrerão de fome!”.
Depois de ligar para cinco números diferentes do departamento de
Ciências Sociais da UFRN o blog não conseguiu falar com os professores
da banca do concurso. O único contato que conseguimos ter foi com uma
servidora identificada como Conceição. Expomos a situação para ela que
respondeu apenas dizendo que os professores estavam participando da
seleção e provavelmente não iriam emitir nenhuma opinião até que as
fases do concurso fossem encerradas.
Tudo escrito no post foi minuciosamente apurado a partir do relato
do professor Bosco Araújo e de documentos na internet, como editais,
resoluções, páginas do CNPQ, anais de eventos e circulares do
departamento.
Cabe ao Blog como veículo de comunicação denunciar tais atos para que
os órgãos responsáveis, a exemplo do Ministério Público, possam fazer a
apuração de forma legal.
Para encerrar deixamos aqui alguns questionamentos. Por que a banca
preferiu levar as questões prontas, em vez de fazer um sorteio? O
departamento tinha conhecimento que o professor Vitullo possui relação
acadêmica com o aluno Pablo? Se tinha por qual motivo o docente não foi
substituído da banca examinadora? Ser marxista e militante estaria sendo
utilizado como pré-condição para ser aprovado num concurso para
professor da UFRN?
Esperamos verdadeiramente que a política da UFRN não esteja sendo desvirtuada com interesse políticos.
Com a palavra os professores do departamento de Ciências Sociais.
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