Uma das discussões mais comuns no meio cervejeiro é o velho embate
garrafa de vidro X lata. A coisa é tão séria que defensores de cada tipo
de envaze têm argumentos apaixonadas para garantir que um é melhor que o
outro. Mas, afinal de contas, tem realmente alguma diferença entre a
bebida de um recipiente ou outro?
Segundo o mestre cervejeiro, professor, diretor e cofundador do
Instituto da Cerveja Brasil, Alfredo Ferreira, é cada vez mais comum
que, no fundo, o produto seja exatamente igual. “Normalmente, o líquido é
o mesmo. Às vezes, a cerveja está saindo do mesmo tanque, abastecendo
uma linha de latas e outra de garrafas”, diz. Mas nem sempre foi assim.
Antigamente, era prática comum em algumas cervejarias fabricar uma
bebida com um pouco menos de gás carbônico para a latinha. “Para não
correr risco da lata estufar no momento da pasteurização”, explica. No
entanto, essa diferença é praticamente imperceptível para o consumidor,
garante. Além disso, é cada vez menos comum, e as especificações da
cerveja para lata ou garrafa são as mesmas.
Vantagens e desvantagens de cada envaze
Apesar de no aroma, no sabor e na cor os líquidos serem quase sempre
idênticos, garrafas e latas têm diferenças. E uma delas pode, sim,
interferir na qualidade da bebida, mas ao contrário do que muitos
pensam, é a lata quem leva vantagem. “A lata protege contra a luz um
pouco mais do que a garrafa”, diz. Isso é importante pois a iluminação,
seja ela natural ou artificial, pode causar um defeito chamado
light-struck.
A grosso modo, esse defeito causa um aroma desagradável na bebida. “Ele
é a degradação da molécula que dá amargor ao lúpulo, o iso-alfa-ácido.
Na presença da luz ele se quebra e da o light-struck, que é associado
com o cheiro de gambá”, explica. Garrafas mais escuras, como as
tradicionais âmbar, são um pouco mais protegidas desse problema do que
outras.
Ecologicamente, ambos os envazes possuem vantagens. As latas são
amplamente recicladas no Brasil. “Praticamente não se acha latinhas
espalhadas pelo chão”, aponta. Já as garrafas, principalmente as de
600ml, podem ser retornáveis. Financeiramente, no entanto, o envaze em
lata no país ainda é restrito às grandes cervejarias, pois a tecnologia
de enlatamento exige um investimento muito alto, dificilmente suportado
por empresas menores. Mas Alfredo acredita que em alguns anos o Brasil
deve ter mais opções de cervejas em lata. “Com base no que está
acontecendo nos Estados Unidos, onde cada vez mais cervejarias optam por
latas, acredito que aqui teremos boa aceitação”.
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