Em nota escrita do complexo penal onde está preso, em
Curitiba (PR), o ex-deputado Eduardo Cunha rebateu o teor de entrevista
do presidente Michel Temer, no sábado (15), à TV Bandeirantes.
Na nota, Cunha questiona dois pontos principais: no primeiro,
sustenta que o encontro de 2010 -em que delatores da Odebrecht dizem ter
negociado propina para o PMDB em reunião de que ele e Temer
participaram- foi “agendado diretamente com” o presidente.
No segundo, afirma que a decisão de abrir o processo de impeachment
de Dilma Rousseff, em dezembro de 2015, foi discutida com o então vice
dois dias antes de oficializada. O texto foi distribuído a
interlocutores próximos.
Temer confirma a existência da reunião, realizada em seu escritório
político em São Paulo, mas nega que nela tenham sido discutidos valores
ou acertos escusos. Também negou, em entrevista à Band, no sábado, ter
sido ele o responsável por agendar a reunião.
“[Em 2010], o Eduardo Cunha diz: ‘Há uma pessoa que quer colaborar,
mas quer pegar na sua mão, quer cumprimentá-lo’. E ajustamos um dia em
que eu estava em São Paulo. Eu até confesso que cheguei um pouco
atrasado à reunião”, disse Temer.
Na nota, Cunha diz que “o presidente se equivocou nos detalhes”.
“A referida reunião não foi por mim marcada. O fato é que estava em
São Paulo, juntamente com Henrique Alves e almoçamos os três juntos no
restaurante Senzala, ao lado do escritório político dele, após outra
reunião e fomos convidados a participar dessa reunião já agendada
diretamente com ele.”
NÃO FOI BEM ASSIM
Cunha diz, no entanto, que na reunião “não se tratou de valor nem [se fez] referência a qualquer contrato daquela empresa”.
“A conversa girou sobre a possibilidade de possível doação e não
corresponde a verdade o depoimento do executivo”, escreveu o
peemedebista.
Os delatores da Odebrecht sustentam ter recebido, nesse encontro, a
chancela de Temer para o pagamento de US$ 40 milhões em propina a
integrantes do PMDB .
IMPEACHMENT
Na mesma nota, Cunha afirma que sua decisão pela abertura do processo
de impeachment de Dilma Rousseff foi previamente submetida ao então
vice.
Segundo Cunha, o parecer foi “debatido e considerado por ele correto do ponto de vista jurídico”.
“O verdadeiro diálogo ocorrido sobre o impeachment com o então
vice-presidente, às 14 horas da segunda-feira, 30 de novembro de 2015,
na varanda do Palácio do Jaburu, 48 horas antes da aceitação da abertura
do processo de impeachment foi submeter a ele o parecer que aceitava o
impeachment”, escreve.
“O parecer, preparado por advogados de confiança mútua, foi debatido e
considerado por ele correto do ponto de vista jurídico”, diz o
deputado.
Na mesa entrevista à Band, no sábado, Temer havia dito que Cunha o
procurara para dizer que, como o PT havia prometido votar a seu favor no
processo de cassação que tramitava no Conselho de Ética, o então
deputado decidira engavetar os pedidos.
Depois, no entanto, quando o PT anunciou posição favorável a sua
cassação -seguiu Temer- Cunha voltou a procurá-lo para dizer que o
acordo tinha ruído e que o processo seria aberto naquela tarde.
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