Como seu pai, Emílio, o ex-presidente do grupo Odebrecht, Marcelo
Odebrecht, também disse em sua delação que era comum a empreiteira dar
apoio financeiro a veículos de mídia.
O empresário mencionou especificamente a revista “Carta Capital” e os
jornais “Correio Braziliense”, “Estado de Minas”, “A Tarde” e “Jornal
do Brasil”. Genericamente, indicou todos os jornais da Bahia.
O depoimento do executivo foi prestado em relação ao tema “pedidos de ajuda financeira de Lula para terceiros”.
Sobre esse assunto, Marcelo afirmou que a “Carta Capital” sempre teve
uma “linha muito pró PT” e tinha problemas de prejuízos, então o
ex-ministro Guido Mantega pediu a ele um auxílio da empresa para a
revista.
Marcelo disse que concordou em dar o apoio financeiro, porém com a
condição de que o nome da Odebrecht não aparecesse na operação.
A ajuda à revista então começou com a constituição de um fundo com
recursos de caixa dois oriundos do Setor de Operações Estruturadas da
Odebrecht (área especializada em repasses de valores não contabilizados e
de propinas), disse o empresário.
“Esse fundo, no qual a gente não aparecia, ele fazia um investimento…
eu acho que esse investimento foi oficial. Quer dizer, do ponto de
vista de Carta Capital, era um investidor minoritário. Não do ponto de
vista nosso, que foi feito com caixa dois”, afirmou.
“O alinhamento com o Mino [Mino Carta, diretor de redação da Carta
Capital] era que a gente ia entrar como investidor e ia contribuir na
gestão da revista, para que a gente tivesse um retorno sobre esse
dinheiro”, detalhou.
Porém, depois integrantes da equipe da Odebrecht indicados para atuar
nesse investimento sugeriram mudar o tipo de apoio à revista.
“Depois de algum tempo, o pessoal veio e disse: “Marcelo, só vai dar
desgaste, porque a gente fica contribuindo numa gestão profissional, e o
pessoal lá… parece que a mídia é muito confusa nesse aspecto. Então não
vamos ter expectativa de retorno, e vamos trocar isso por publicidade”.
De acordo com o executivo, então a Odebrecht ficou com um crédito perante a Carta Capital.
Após explicar a situação em relação à revista, Marcelo disse que a
Odebrecht realizou outros apoios semelhantes, e citou o grupo que
controla o jornal “Correio Braziliense”, com a ressalva de que nesse
caso o auxílio não foi realizado após um pedido de Lula.
“Da mesma maneira da Carta Capital, fizemos também um fundo para
fazer um empréstimo para o grupo que controla o ‘Correio Braziliense´”,
disse Odebrecht.
Em seguida, citou outros casos de ajuda e disse que em geral os auxílios financeiros eram convertidos em publicidade.
“Nós não fazíamos muita publicidade, então vira e mexe vinha uma
demanda. Isso não era algo que era anormal. Por exemplo, na Bahia, “A
Tarde”… toda hora a gente dava um crédito para o jornal ‘A Tarde'”,
afirmou.
“Era muito comum. A gente fez com “Carta Capital”, me lembro com
“Correio Braziliense”, com “Estado de Minas”… me lembro com os jornais
da Bahia, todos. A gente fazia muito com o “Jornal do Brasil”,
antigamente. A gente fazia o empréstimo e depois gerava crédito em
publicidade”, completou.
Em outro depoimento de delação premiada, Marcelo fez um relato
específico sobre um repasse a título de patrocínio feito pela Braskem,
petroquímica do grupo Odebrecht, à revista “Brasileiros”, no valor de
cerca de R$ 1,6 milhão.
Segundo o executivo, esse repasse foi pedido pelo ex-ministro Guido
Mantega em 2013 e foi descontado dos valores que a Odebrecht havia
prometido repassar ao PT.
O STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou o envio de cópia desse
depoimento de Marcelo à Justiça Federal do Paraná para eventual abertura
de investigação sobre o caso.
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