Foi em novembro do ano passado, quando a Lava Jato mostrou poder para
atingir novos setores políticos e econômicos, que emissários começaram a
costurar um acordo entre dois ex-presidentes e o atual chefe da
República.
O objetivo era que Fernando Henrique Cardoso (PSDB),
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Michel Temer (PMDB) liderassem um pacto
para a classe política, fragilizada pelo avanço das investigações.
Apartamentos
de autoridades e restaurantes sofisticados serviram para que aliados
dos líderes políticos discutissem medidas para limitar a operação e
impedir que o grupo formado por PSDB, PT e PMDB seja, nas palavras de
articuladores desse acordo, exterminado até 2018.
Nas últimas
semanas, a Folha ouviu pessoas relacionadas às três partes e a avaliação
foi unânime: a Lava Jato, segundo elas, quer eliminar a classe política
e abrir espaço para um novo projeto de poder, capitaneado, por exemplo,
por aqueles que comandam a investigação.
O bom trânsito com os
dois ex-presidentes e com Temer credenciou o ex-ministro do STF Nelson
Jobim e o atual ministro da corte Gilmar Mendes como dois dos principais
emissários nessas conversas.
Jobim tem falado com todos. Já
almoçou com Temer e FHC e marcou de encontrar com Lula nos próximos
dias. Gilmar, por sua vez, hoje é próximo ao presidente, que participa
de negociações para articular um acordo para a reforma política, diante
do debate sobre a criminalização das doações eleitorais.
Este é o
ponto que atinge os principais expoentes da política brasileira,
inclusive Temer, Lula e FHC, os três citados nas delações de executivos
da Odebrecht por recebimento de dinheiro de forma indevida, por exemplo.
As
acusações contra Lula e FHC foram encaminhadas a instâncias inferiores
pelo relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin, visto que ambos não têm
foro privilegiado. Temer, por sua vez, apesar de citado em dois
inquéritos, não é investigado por sua “imunidade temporária” como
presidente.
A convergência entre os três é: se não houver
entendimento para assegurar um processo eleitoral “tranquilo” em 2018,
aparecerá um “outsider” ou “aventureiro”.
O acordo de bastidores
passaria pela manutenção de Temer até 2018 e a realização de eleições
diretas, em outubro do ano que vem, com a participação de Lula.
A
tese de quem está à frente das negociações é que não há tempo para uma
condenação em segunda instância do petista até 2018, o que o deixaria
inelegível. E, caso exista, garantem, haveria recursos em instâncias
superiores.
As conversas, por ora, estão divididas entre as
articulações de cúpula, que costuram o pacto para a classe política, e
as do Congresso, que buscam medidas práticas para eliminar o que
consideram abusos da Lava Jato e fazer uma reforma política.
Pacto pela "vida" política.
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