Com braços muito além do setor de alimentos, o grupo J&F, dono do
frigorífico JBS, tentou em 2014 se aproximar de governadores de ao
menos cinco Estados com o objetivo de entrar no setor de saneamento.
O delator Ricardo Saud,
executivo do grupo, diz que a ideia era criar uma concessionária dos
serviços de água e esgoto pelo país e que o grupo chegou a pesquisar as
estatais mais deficitárias.
Segundo ele, as propinas paga aos atuais governadores do Rio Grande
do Norte, Robinson Faria (PSD-RN), e de Santa Catarina, Raimundo Colombo
(PSD-SC), tinham esse objetivo.
No Rio Grande do Norte, contou o delator, o plano da empresa era
ousado: indicar um secretário estadual para coordenar a privatização.
Saud também disse que o grupo dono da JBS procurou as campanhas dos
governadores Renan Filho (PMDB-AL), Reinaldo Azambuja (PSDB-MS) e
Fernando Pimentel (PT-MG).
“Dissemos, ó Fernando. Tem a Copasa [Companhia de Saneamento de
Minas] lá, a gente sabe que é difícil, mas dá um pedaço da Copasa para a
gente.”
Para Robinson Faria, disse ele, foram pagos R$ 10 milhões dentro
desse plano, sendo parte em doação oficial. Saud afirma que o deputado
federal Fábio Faria (PSD-RN), filho de Robinson, buscou dinheiro vivo.
A discussão sobre o assunto, falou o delator, ocorreu em um jantar em
São Paulo em que esteve a mulher do deputado, Patrícia Abravanel, que é
filha do apresentador de TV Silvio Santos.
“[Falamos:] sem nós, você não ganha a eleição. Mas tem que deixar
firmado que nós vamos indicar um secretário de Estado, que vai
acompanhar tudo de perto porque vocês não são confiáveis.”
Em Santa Catarina, relatou Saud, a aproximação contou com o apoio do
secretário da Fazenda, Antonio Gavazzoni, que pediu demissão após a
divulgação do teor da delação.
O delator disse que foram pagos R$ 10 milhões, sendo R$ 8 milhões em
doações ao PSD nacional, e R$ 2 milhões em dinheiro vivo, entregues em
Florianópolis.
Ele afirma que a J&F precisaria de facilitação nos editais porque
não teria como competir com a OAS ou a Odebrecht. O projeto do grupo de
Joesley Batista, porém, acabou não se concretizando.
Diante da crise nas empreiteiras em decorrência da Operação Lava
Jato, o grupo desistiu da ideia porque “já tinha problema” o suficiente
para enfrentar mais adiante.
Saud atuava como lobista da J&F e era uma das principais pontes
entre o grupo e políticos. Ele diz que o grupo fez pagamentos a mais de
1.800 candidatos pelo país.
A privatização do saneamento também apareceu na delação da Odebrecht,
mas em prefeituras do Estado de São Paulo. O ex-executivo Fernando Reis
afirmou que a divisão ambiental da empreiteira procurou se aproximar de
candidatos na eleição de 2012 porque tinha em vista os processos de
licitação do setor nos municípios.
Ladrão estilo X9!
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