WSCOM.COM.BR: O doutorando em Economia Aplicada pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Wallace Patrick, aborda em novo artigo, o excesso de
intervenção estatal nos impostos e a complexa burocracia. O artigo
semanal é uma parceria do Departamento de Economia da Universidade
Federal da Paraíba com o Grupo WSCOM.
"Um exemplo recente foi a tentativa em várias cidades brasileiras de
proibir e/ou regulamentar o aplicativo UBER, com a justificativa de
proteger os taxistas de uma concorrência desleal".
Confira o artigo na íntegra:
Por favor, Deixem o mercado funcionar!
Por Wallace Patrick
A obra “A Riqueza das Nações (1776)” de Adam Smith é um marco do
liberalismo econômico. Segundo Smith, numa economia de mercado os
incentivos levam as pessoas a realizarem trocas, interagindo umas com as
outras e conduzindo o sistema econômico, aparentemente desordenado, a
um equilíbrio, sem a necessidade de uma entidade que coordene esse
sistema. Esses incentivos são descritos através da metáfora da “mão
invisível”. É como se uma mão invisível agisse na economia de tal forma
que cada um agindo em interesse próprio contribuísse para o bem
coletivo. Basta percebermos que quando se tem pouca oferta de
determinado produto em uma região o seu preço aumenta, induzindo outros
produtores a ofertarem mais do bem, o que, por sua vez, fará o preço ser
reduzido no futuro.
No entanto, esse princípio econômico nem sempre é absorvido e
compreendido, seja pelo estado ou pela própria sociedade, e isso cria
barreiras para sua execução na prática, sobretudo no Brasil. O excesso
de intervencionismo estatal presente em impostos cada vez maiores e a
complexa burocracia sufoca a livre iniciativa. Imbuídos de um propósito
aparentemente nobre, como defender empresas e seus empregos, as ações de
políticos e burocratas acabam gerando mais benefícios a determinados
grupos e prejuízos ao restante da população. Um exemplo recente foi a
tentativa em várias cidades brasileiras de proibir e/ou regulamentar o
aplicativo UBER, com a justificativa de proteger os taxistas de uma
concorrência desleal.
Em geral os ganhos de uma economia mais livre são diluídos por toda
a população e os prejuízos são concentrados em uma pequena parcela por
um determinado período de tempo. As pessoas costumam olhar só para o
último efeito, pois na maioria das vezes é mais transparente.
Provavelmente o sindicato dos fabricantes de lampião protestaria contra a
difusão da lâmpada elétrica para iluminar ruas e casas, falando dos
prejuízos que esses trabalhadores sofreriam se perdessem seus empregos.
Mas creio que não há dúvidas que o benefício para toda a população
supera estratosfericamente o prejuízo causado a determinado grupo.
Ademais, esse processo não é um jogo de soma zero (onde sempre alguém
tem que perder para alguém ganhar), visto que os trabalhadores podem ser
realocados em outras funções no futuro.
Esses exemplos ilustram a mentalidade altamente estatista presente
no Brasil. Sempre que alguma externalidade é gerada, pede-se a presença
do Estado como solução imediata. Estamos acostumados com relações
contratutais e de mercado extremamente rígidas e amparadas pela
burocracia estatal, e não permitimos uma maior flexibilização, a qual
poderia conduzir um melhor funcionamento das instituições e do sistema
econômico como um todo. O debate em torno de reformas importantes
(trabalhista, previdenciária, etc) é marcado pelo forte viés ideológico
de grupos de pressão, sempre protegidos pela mão governamental
(sindicatos, associações de indústrias), cujas críticas apresentam
bastante retórica e pouca consistência.
A interferência demasiada do estado pode gerar inúmeras distorções
na Economia. Sem dúvida uma das principais é sobre o sistema de preços
relativos, causada pela regulação excessiva, ineficiência, falta de
concorrência, entre outros fatores que contribuem para aumentar o preço
pago pelo consumidor (aquele que o estado diz tanto defender).
Enquanto continuarmos pedindo mais Estado para resolver os problemas causados por ele mesmo, vamos continuar convivendo com problemas econômicos e de mercado sendo resolvidos por leis, decretos e “canetadas”, acreditando que “o petróleo é nosso” enquanto se paga gasolina cara e adulterada. No entanto, quando se fala em privatização ou abertura de concorrência para empresas internacionais, parece um pecado mortal.
Enquanto continuarmos pedindo mais Estado para resolver os problemas causados por ele mesmo, vamos continuar convivendo com problemas econômicos e de mercado sendo resolvidos por leis, decretos e “canetadas”, acreditando que “o petróleo é nosso” enquanto se paga gasolina cara e adulterada. No entanto, quando se fala em privatização ou abertura de concorrência para empresas internacionais, parece um pecado mortal.
Adotamos um modelo de crescimento de Estado de bem Estar Social,
que enraizou na mente do brasileiro que tudo tem que ser provido pelo
Governo e isso é entendido como um direito inalienável. Gastos públicos
com auxílio social e mega eventos ganham na maior parte das vezes o
apoio da população, ao passo que políticas de redução do Estado e
aumento da eficiência são condenadas (como as reformas, privatizações,
estímulo à produtividade).
Como bem colocou o economista Paulo Guedes na sua coluna de 31 de
julho no Globo: “um erro fundamental da social-democracia em suas mais
de três décadas governando o país foi à ininterrupta expansão dos gastos
públicos sob todas as formas, dos meritórios programas sociais de
transferência de renda inerentes a uma democracia emergente aos
reprováveis subsídios a grandes empresas agora configurados como
práticas de um capitalismo de quadrilhas”.
O pior é que políticas de expansão de gastos são apoiadas pela
população em geral, sem sequer se darem conta que são os mesmos que
pagam (e caro) por isso. Basta ver a resistência contra a PEC dos Gastos
que propõe limitar o crescimento dos gastos públicos nos próximos anos,
esquecendo que quanto maior o gasto maior deve ser o seu financiamento,
seja via impostos, endividamento ou emissão de moeda (todos com efeitos
negativos na economia).
Como citado por Erik Figueiredo (UFPB) em uma coluna anterior nesse
espaço “A crise econômica atual não é um mero fruto da nova matriz
econômica e da corrupção usada como estratégia de poder. A doutrinação é
muito mais nociva do que parece ser”. A aversão ao livre mercado é
apenas mais um capítulo nessa história. Ideias têm consequências.
Prega-se mais Estado, aumento de gastos públicos, condena-se a liberdade
econômica e as privatizações e depois ficam procurando culpados quando o
dinheiro acaba. É preciso repensar o tamanho do Estado, incentivar o
empreendedor individual e o setor privado de um modo geral.
A boa notícia é que segundo o economista Acemoglu do Massachusetts
Institute of Technology – MIT, nenhum país está condenado a ser pobre
para sempre. Contudo, entender leis básicas do funcionamento do mercado
pode ajudar bastante nesse processo.
Wallace Patrick Santos de Farias Souza – Doutorando em Economia Aplicada pela Universidade Federal do Rio Grande do sul.
O homem é bom! Wallace Patrick.
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