O Grupo Globo divulgou neste domingo (1) uma série de diretrizes sobre
como os jornalistas de seus diversos veículos devem usar as redes
sociais. Em carta, o presidente do Conselho Editorial do grupo, João
Roberto Marinho, explica que o objetivo é que os jornalistas evitem tudo
aquilo que possa comprometer a percepção de que exercem a profissão com
isenção e correção.
Essas recomendações foram incorporadas aos Princípios editoriais do
grupo, publicados originalmente em 2011 e agora atualizados (veja a íntegra dos Princípios Editoriais).
A seguir, leia a carta que João Roberto Marinho enviou aos jornalistas
do Grupo Globo e as diretrizes de uso das redes sociais:
Carta de João Roberto Marinho
Caros companheiras e companheiros,
Ninguém
discordará de que o advento das redes sociais é um dos fenômenos que
definem o século XXI. De uma maneira inédita na história da humanidade,
elas conectaram pessoas em nível planetário, permitindo a formação de
comunidades, o compartilhamento de ideias, fatos e opiniões, a
aproximação de pessoas que frequentemente nem se conhecem. É algo
extremamente positivo e bem-vindo.
Como
tudo, porém, logo descobrimos que elas têm também um lado sombrio:
podem ser usadas para manipular grupos, disseminar boatos e mentiras com
fins antidemocráticos e permitir que a intimidade das pessoas seja
clandestinamente conhecida. Com a consciência desses defeitos, porém,
seus usuários se tornam cada vez mais capazes de produzir anticorpos
para esses males. Na balança entre o bem e o mal, nós acreditamos que o
lado bom das redes sociais supera o lado mau, embora seja necessário
ainda muito estudo e atenção para combater os malefícios. Somos, enfim,
entusiastas do potencial positivo das redes sociais.
Nós,
jornalistas, como todos os cidadãos, podemos fazer parte delas seja do
ponto de vista pessoal ou profissional. Podemos compartilhar impressões,
sentimentos, fatos do nosso dia a dia, assim como utilizá-las para
fazer fontes, garimpar notícias, descobrir tendências. Não é novidade
para nenhum de nós, no entanto, que o jornalismo traz bônus e ônus.
O
bônus é o prazer de exercer uma atividade fascinante cujo objetivo
último é informar o público, para que possa escolher melhor como quer
viver, como fazer livremente escolhas, uma atividade que nós, sem
modéstia, consideramos absolutamente nobre. O ônus é justamente aquele
que nos impomos para poder fazer um bom jornalismo: em resumo, tentar ao
máximo nos despir de tudo aquilo que possa pôr em dúvida a nossa
isenção.
Sei
que não é preciso, mas dou aqui um ou dois exemplos. Todos os
jornalistas que cobrem economia (e aqueles que compõem a chefia da
redação), por exemplo, se privam da liberdade de aplicar em papéis de
empresas específicas para que jamais levantem a suspeita no público de
que determinada notícia sobre esta ou aquela empresa tem por trás um
interesse pessoal. Um jornalista de cultura que seja parente de algum
artista se considerará impedido de cobrir as atividades dele. Nós
conhecemos bem as nossas restrições, aliás descritas em nossos
princípios editoriais que o Grupo Globo publicou em 6 de agosto de 2011.
E nada disso nos perturba ou incomoda porque temos a consciência de que
o propósito é permitir que façamos um bom jornalismo e que sejamos
reconhecidos por isso.
As
redes sociais nos impõem também algumas restrições. Diferentemente das
outras pessoas, sabemos que não podemos atuar nelas desconsiderando o
fato de que somos jornalistas e de que precisamos agir de tal modo que
nossa isenção não seja questionada. Já no lançamento dos princípios
editoriais, previmos isso quando estabelecemos o seguinte: “A
participação de jornalistas do Grupo Globo em plataformas da internet
como blogs pessoais, redes sociais e sites colaborativos deve levar em
conta três pressupostos: (...) 3- os jornalistas são em grande medida
responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem
levar isso em conta em suas atividades públicas, evitando tudo aquilo
que possa comprometer a percepção de que exercem a profissão com isenção
e correção.”
Desde
então, porém, o uso de redes sociais se universalizou de tal forma que é
necessário detalhar melhor como nós jornalistas devemos utilizá-las de
modo a não ferir, de maneira alguma, aquele que é um pilar da nossa
profissão: a isenção. É por essa razão que estamos acrescentando uma
seção aos nossos Princípios Editoriais sobre o uso das redes sociais.
Essas
recomendações sobre como devemos nos comportar nas redes não têm nada
de idiossincrático ou exclusivo. Na verdade, estão rigorosamente em
linha com o que praticam os mais prestigiados veículos jornalísticos do
mundo, como The New York Times e BBC, para citar apenas dois de dezenas
de exemplos.
É
fundamental que todos leiamos com atenção essas diretrizes e as sigamos
com o rigor que nos caracteriza em nossas atividades profissionais.
Dito isso, a Seção II de nossos Princípios Editoriais terá um novo item, de número 5, apresentado ao fim desta carta.
Tenho
absoluta convicção de que todos nós entenderemos as razões dessas
diretrizes mais detalhadas e as seguiremos. Agradeço pela atenção e
disponibilizo a seguir o texto que será acrescentado, a partir de hoje,
aos nossos Princípios Editoriais.
Rio de Janeiro, dia 1 de julho de 2018
João Roberto Marinho
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