Relatório inédito da Procuradoria-Geral da República sobre a quebra do sigilo telefônico do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
detectou conversas com autoridades do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), Tribunal de Contas da União (TCU) e Conselho Nacional de Justiça
(CNJ). A análise, que está sob sigilo, abrangeu o período de 2012 a 2014
e foi autorizada pela Justiça Federal do Rio Grande do Norte para
trazer elementos às investigações em curso no estado. Os dados foram
considerados relevantes pelos investigadores porque mostram o trânsito
de Cunha com autoridades do Judiciário.
Cunha manteve sete contatos telefônicos – entre telefonemas e
mensagens de texto – com um celular do gabinete do ministro do STJ
Benedito Gonçalves – que, assim como o ex-parlamentar, também é do Rio
de Janeiro. Em relação ao TCU, o ex-deputado manteve 32 contatos
telefônicos por mensagem de texto com Bruno Dantas, sendo sete contatos
depois que ele se tornou ministro da Corte – antes, Dantas era consultor
legislativo no Senado. Cunha ainda fez oito contatos telefônicos com
José Múcio Monteiro,outro ministro do TCU, e 15 contatos com um servidor
do órgão chamado Wilson Carlos Ferreira Valente. Em relação ao CNJ, de
acordo com o relatório, Cunha manteve 11 contatos telefônicos com o
advogado Emmanoel Pereira, na época conselheiro do órgão. Ele também é
filho do atual vice-presidente do TST, Emmanoel Pereira.
O gabinete do ministro Benedito
Gonçalves informou que ele está de férias e que, por isso, não foi
possível contatá-lo para comentar. O ministro Bruno Dantas afirmou que
não tinha amizade com Cunha e que os contatos ocorreram durante o
processo de aprovação de sua indicação ao TCU, que ficou parada por três
meses na Câmara. Dantas disse ainda que trocou o número de celular ao
assumir o cargo de ministro e que o telefone antigo ficava desligado e
era acionado eventualmente por sua secretária para ver se havia recados
relevantes.
José Múcio afirmou que Cunha costumava entrar em contato para
conversas protocolares ou para pedir que recebesse algum aliado seu. O
escritório de Emmanoel Pereira informou que, nesse período, ele foi
indicado pelos líderes partidários para ser o representante da Câmara no
CNJ e, por isso, manteve esses contatos. Procurado, o TCU ainda não
respondeu sobre os contatos com o servidor Wilson Valente.
Em nota, a defesa de Eduardo Cunha disse que não teve acesso ao teor
das ligações para poder comentar, mas não vê ilícito algum em manter
contato telefônico com qualquer pessoa.
Esse Cunha sabe de muita coisa.
Expresso – Época
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