Prestes a fechar o acordo de delação
premiada que lhe rendeu imunidade penal, Joesley Batista entrou no carro
entusiasmado com a negociação com os procuradores da PGR
(Procuradoria-Geral da República). Pretendia amanhecer o dia seguinte em
Nova York.
O ânimo do empresário está registrado em
uma conversa resgatada do gravador do sócio da JBS, divulgada nesta
sexta (29) pela revista “Veja”. O áudio sugere que ele havia acabado de
entregar as gravações que fez do presidente Michel Temer (PMDB) e do
senador Aécio Neves (PSDB).
Nessa nova peça, Joesley está no carro, a
caminho do aeroporto, conversando com os advogados, Fernanda Tórtima e
Francisco de Assis e Silva, e o executivo Ricardo Saud.
Os três avaliam a reação dos
procuradores (“eles gostaram, querem evitar o máximo mostrar que
gostaram, mas a pressa deles mostra”, diz Tórtima; “eles gostaram pra
cacete”, opina Silva), especulam sobre o futuro e os efeitos da “bomba”
que tinham acabado de soltar.
Também sugerem ter mais gravações, além das feitas por Joesley, que escolheram ocultar dos investigadores.
“Você [Saud] quase pisou na bola, falou que gravou Cai fora. Deixa só eu gravando”, diz o empresário a seu funcionário.
“Sorte que não encompridou [sic] a
conversa. Deixa que sou eu porque aí, pronto. Um filho da puta de
plantão e acabou”, disse o empresário.
No final do áudio, de cerca de meia
hora, Joesley diz que tem que abastecer o carro. Murmura: “Quatro horas e
quarenta de gravação”.
Não contava que viriam a público os
registros que iriam comprometem os benefícios legais, como a imunidade
penal, que acordaram com a Justiça.
O acordo de delação dos empresários
suspenso pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no início de setembro.
Joesley e seu irmão, Wesley Batista, estão presos na carceragem da PF
(Polícia Federal) em São Paulo.
Veja, abaixo, os principais temas abordados no diálogo.
“Agora eu vou para Nova York. Vou
amanhecer em Nova York. Eu vou ficar aqui, você tá louca? Soltar uma
bomba dessas e ficar aqui fazendo o quê?”.
Os efeitos da “bomba”, explicou Joesley,
começariam com o operador Lúcio Funaro, que acabaria fechando seu
próprio acordo de delação premiada.
“O que eu vou provocar, além de tudo?
Uma: quem gravou. Não é que foi o garçom que gravou, porra. Foi o maior
empresário brasileiro, 11h da noite e tal”, diz o empresário.
Ele se refere à conversa noturna em que gravou Michel Temer, no palácio do Jaburu.
“O segundo é o seguinte: quando isso
explodir, vai quebrar a aliança Eduardo Cunha e Lúcio [Funaro]. Vamos
parar de pagar o Lúcio”, continua Joesley.
Na conversa com o presidente, ele sugere
que mantinha pagamentos a Cunha e Funaro, ao que o peemedebista
responde “tem que manter isso aí”.
Em outro áudio, também divulgado nesta
sexta pela “Veja”, Joesley Batista fala sobre como enxerga a “onda” de
delações: “Começou os operadores, depois os empresários, agora os
políticos. Depois dos políticos, não sei quem vai delatar. Vai ser o
Judiciário”. E ri.
Ainda animado com a perspectiva de
acordo com a PGR, o empresário citou a possibilidade de anulação dos
benefícios conquistados pela delação —o que acabou acontecendo.
Ele falava sobre a necessidade de tomar
cuidado para não mencionar assuntos e pessoas —que poderiam vir a
delatar— além do material que apresentavam ali aos procuradores.
“É a goleada deles [procuradores], sabe o
que é? Você vir aqui, ajoelhar no milho, contar tuuuuudo e deixar um
rabinho de fora. Aí vem outro, conta, e ele derruba seu acordo. Aí você
ficou com cara de idiota. Ou seja: ele pegou tudo e te fodeu.”
Ainda especulando se Rodrigo Janot
aceitaria ou não o acordo de delação premiada, o empresário conversa com
seus advogados sobre as relações políticas do ex-procurador-geral da
República.
“Nós temos um risco. O risco é um: o comprometimento político de Janot com Tener”, diz advogado Francisco de Assis e Silva.
“Eu acho que não existe”, responde Joesley. Silva diz notar uma disposição dos procuradores em temas ligados ao PMDB.
“Eles querem foder o PMDB, eles querem acabar com eles”, diz o advogado.
Minutos antes, Fernanda Tórtima tinha
descartado a proximidade de Temer e Janot: “Ele não tem mais nenhum
[compromisso], ele está saindo [da PGR]. E o candidato que ele gostaria
de colocar no lugar dele, não vai conseguir”.
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