Da sede da Polícia Federal, em Natal, o ex-deputado Henrique Alves
acompanha o depoimento, aguardando sua vez de ser interrogado.
Veja alguns pontos do depoimento de Cunha que ainda está acontecendo:
‘Penúria’ financeira
Preso desde outubro de 2016, Cunha disse que atualmente não possui
nenhuma renda. Ele citou o bloqueio dos bens e disse que está passando
dificuldades.
“Estou em absoluta penúria”, afirmou o ex-deputado. Ele se queixou
das dificuldades para bancar os gastos com sua defesa, como o pagamento
de honorários ao advogado e das passagens para eles se reunirem em
Curitiba, onde ex-deputado está preso.
Cunha disse que, por esse motivo, a sua defesa tem sido cerceada e
que a sua transferência temporária para Brasília para depor e acompanhar
os interrogatórios dos demais réus tem facilitado o contato com seu
advogado.
‘Tudo é o Eduardo Cunha’
O ex-presidente da Câmara prestou depoimento em uma investigação
sobre o suposto esquema de propinas envolvendo financiamentos do Fundo
de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica
Federal.
O esquema é investigado pela Operação Sépsis, um desdobramento da
Lava Jato. Além de Cunha, também são réus nesse processo Lúcio Funaro,
Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa, e Henrique Eduardo Alves,
ex-ministro e ex-presidente da Câmara.
Cunha atacou Funaro logo no início do depoimento. O operador do PMDB,
em audiência no fim de outubro, confirmou a existência do esquema de
corrupção e listou políticos do partido que teriam se beneficiado, como
Cunha e o presidente Michel Temer.
“A delação que ele [Funaro] faz agora está me transformando num posto
Ipiranga. Tudo é Eduardo Cunha”, disse o ex-presidente da Câmara.
Cunha refutou as acusações de corrupção e disse que irá contestar
todas. “Nenhuma delas é verdadeira e eu quero rebater cada ponto delas”,
continuou Cunha.
Ao detalhar a sua relação com Funaro, Cunha disse que os dois se
aproximaram em 2003, quando o operador fez doações para a campanha do
ex-deputado.
A partir daí, contou que se tornaram amigos e começaram a operar juntos no mercado financeiro.
“O fato de ele [Funaro] dizer que não é doleiro, é só quebrar o
sigilo. Essa muita movimentação é que vai mostrar que ele era doleiro”,
disse Cunha. “Isso é só para explicar que ele era doleiro, apesar de
negar”, completou.
Cunha relatou ainda diversas situações em que as informações
políticas beneficiaram Funaro e ele nessas operações. “Eu tinha muito
boas informações e ganhava na maioria. O Lúcio começou a entender que as
informações que vinham de Brasília acabavam tendo repercussão no
mercado financeiro”, disse.
Por conta disso, segundo o ex-deputado, Funaro ficou interessado em
disputar uma vaga como deputado por Pernambuco, mas cabou desistindo das
suas pretensões eleitorais porque seu nome veio à tona no escândalo do
mensalão.
Cunha negou que Funaro tenha relação com o PMDB e seja operador de propina do partido, conforme acusa o Ministério Público.
“Nenhuma [relação com o PMDB], zero, zero. Ninguém sabe quem é Lúcio
Funaro. Operador nenhum, operador coisa nenhuma. É uma historia que ele
está criando para ter uma delação. Todo mundo que ele conheceu foi
através de mim”, declarou o ex-deputado.
Michel Temer
Em seu depoimento, Eduardo Cunha isentou Michel Temer de ter relação com Funaro.
“Lúcio Funaro nunca teve acesso ao Michel Temer”, disse Cunha.
Segundo o ex-deputado, as três ocasiões de encontro citadas por Funaro
em sua delação não são verdadeiras.
Uma delas teria sido em um culto religioso em um templo, outra em um
comício de campanha e a terceira na base aérea de São Paulo.
“O culto era em um lugar para 12 mil pessoas sentadas e não é
qualquer um que entra no púlpito. O Temer estava no púlpito, o Lúcio não
deve nem ter passado perto”, disse.
E continuou: “É mentira. Só se houve outros momentos. Na minha
frente, ele nunca cumprimentou o Michel Temer. Nessas três ocasiões, eu
estava com Michel Temer”.
Recusa em analisar assinatura
Durante a audiência, o representante do Ministério Público questionou
Cunha sobre um papel entregue momentos antes pela defesa do doleiro
Lúcio Funaro. O procurador queria saber se a assinatura que constava no
documento era dele, mas o ex-deputado se recusou até mesmo a olhar o
papel.
Ele alegou que só responderia depois que o documento fosse
formalmente juntado ao processo e uma perícia, feita. “Faça o juntamento
[aos autos], com a perícia comprovando que é minha a letra, e aí venha
me questionar”, contestou Cunha.
Cunha negou que Funaro pagasse contas pessoais suas, mas admitiu que
às vezes usava a estrutura do escritório dele, em São Paulo, para fazer
pagamentos. Ele justificou que isso era necessário porque, quando estava
na cidade, não tinha assessoria parlamentar como em Brasília ou no Rio
de Janeiro.
“A nossa atividade deixa a gente muito desregrado com a nossa vida pessoal, às vezes pagava muita coisa atrasada”, disse.
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