O episódio do motorista Fabrício José Carlos de Queiroz não parece
ser um caso isolado na vida política do clã Bolsonaro. Se ficar
confirmada a suspeita do Ministério Público de que Queiroz administrava
uma caixinha de colaborações dos demais servidores, uma prática
semelhante, talvez com objetivos idênticos, é corroborada por outros
casos descobertos por ISTOÉ nos gabinetes do presidente eleito Jair
Bolsonaro e de seus filhos. Por mais de uma vez, funcionários fizeram
doações eleitorais e trabalhos políticos para as campanhas da família,
em valores que certas vezes chegavam a ultrapassar os próprios salários
ganhos.
As informações apuradas por ISTOÉ constam das próprias contas
eleitorais. Em vários casos, servidores de Jair Bolsonaro foram
responsáveis por doações, por meio de serviços ou em dinheiro em
espécie, aos filhos desde quando eles começaram a disputar eleições, a
partir de 2002. Ou seja, parece comum que servidores contratados por
eles empregassem – obrigados ou não – o dinheiro proveniente de seus
ganhos mensais no apoio político-eleitoral aos Bolsonaro.
Em abril deste ano, o presidente eleito interrompeu a sua então
intensa agenda de compromissos para participar do velório de um grande
amigo: o capitão do Exército Jorge Francisco. Francisco trabalhava com
ele havia 20 anos no seu gabinete em Brasília.
As prestações de contas mostram que, mais do que amigo, Francisco
praticamente foi um dos responsáveis pela eleição de Flávio Bolsonaro
como vereador, em 2002. Conforme a prestação de contas apresentada por
Flávio naquele ano, o servidor da Câmara doou R$ 5,9 mil para a campanha
do filho mais velho de Bolsonaro, no dia 1º de outubro. Foi tudo o que
Flávio Bolsonaro declarou ter gasto. Em valores atualizados, seria
equivalente a aproximadamente R$ 18 mil.
No ano seguinte ele passou a fazer parte do gabinete de Jair
Bolsonaro. Exerceu cargo de comissão na categoria SP25, hoje um salário
de aproximadamente R$ 15 mil. Durante o tempo como secretário
parlamentar, Francisco foi responsável por outras doações, em espécie, a
membros do clã Bolsonaro. Em 2004, doou R$ 10 mil para a primeira
eleição de Carlos Bolsonaro (PSL-RJ) à Câmara Municipal do Rio de
Janeiro. Naquele ano, Carlos recebeu R$ 34,5 mil em doações para a sua
campanha. Ou seja, apenas José Francisco foi responsável por
aproximadamente 30% das doações recebidas por Carlos na sua primeira
investida, vitoriosa, para a Câmara. Em valores atualizados, esses R$ 10
mil doados por Francisco seriam equivalentes a aproximadamente R$ 22
mil em 2018.
O dileto amigo de Bolsonaro aparece em outras doações superiores aos
seus vencimentos mensais. Em 2012, no dia 30 de agosto, ele fez uma
transferência eletrônica em favor de Carlos Bolsonaro, no favor de R$ 15
mil. Eduardo, deputado federal, também foi beneficiado pelo ex-capitão
do Exército em 25 de agosto de 2014. Ele doou R$ 11 mil por meio de um
depósito em espécie.
Além disso, durante o ano de 2016, está registrada nas contas
eleitorais de Carlos, na sua terceira eleição para a Câmara Municipal
fluminense, uma nova doação de Francisco, desta vez no valor de R$ 2,5
mil, por meio da cessão de serviços prestados para a campanha naquele
ano.
Não foram apenas Jorge Francisco e agora o motorista Queiroz. Em
2016, o vereador Carlos Bolsonaro recebeu a doação de R$ 1,5 mil, em
forma de serviços para a campanha de Alessandra Ramos Cunha. Dois anos
antes, ela havia sido nomeada para integrar o gabinete do deputado Jair
Bolsonaro.
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