Autoridades britânicas afirmaram, em matéria publicada em 2013, em
matéria publicada pela revista Exame, que o parceiro do jornalista Glenn
Greenwald estava envolvido com “terrorismo” quando foi detido durante
uma escala no aeroporto de Londres, em agosto, tentando transportar
documentos do ex-agente de inteligência norte-americano Edward Snowden,
segundo a polícia e documentos de inteligência.
O brasileiro David Miranda, parceiro de Greenwald e suplente de Jean
Wyllys, foi detido e interrogado durante nove horas pelas autoridades
britânicas no aeroporto de Heathrow, quando chegou em Londres, vindo de
Berlim, para uma escala com destino ao Rio de Janeiro, no mesmo ano.
Após a sua libertação e retorno ao Rio, Miranda entrou com uma ação
judicial contra o governo britânico exigindo a devolução dos materiais
apreendidos com ele por autoridades britânicas e uma revisão judicial da
legalidade de sua detenção.
Durante uma audiência nesta semana relacionada à ação de Miranda em
um tribunal de Londres, um documento chamado “Folha de Circulação de
Portos” foi lido para constar nos registros.
O documento foi elaborado pela Scotland Yard, em consulta com a
agência britânica de contraespionagem MI5, e distribuído aos postos
fronteiriços britânicos antes da chegada de Miranda. A data precisa do
documento não é clara.
“A inteligência indica que Miranda provavelmente está envolvido em
atividades de espionagem, com potencial para agir contra os interesses
da segurança nacional do Reino Unido”, segundo o documento.
“Nós avaliamos que Miranda transportava conscientemente material cuja
divulgação colocaria em risco a vida das pessoas”, diz o documento.
“Além disso, a divulgação, ou a ameaça de divulgação, pretende
influenciar um governo e é feito com a finalidade de promover uma causa
política ou ideológica. Isso, portanto, corresponde à definição de
terrorismo.” Miranda não foi acusado de qualquer crime, embora
autoridades britânicas disseram em agosto que tinham aberto uma
investigação criminal depois de inicialmente examinarem materiais
apreendidos com o brasileiro. Elas não esclareceram os objetivos do
inquérito.
Uma importante audiência sobre a ação de Miranda está marcada para a
semana que vem. Os novos detalhes de como e por que as autoridades
britânicas decidiram agir contra ele, incluindo trechos dos documentos
da polícia e da agência MI5, foram divulgados durante uma audiência
preparatória no início desta semana.
Autoridades britânicas disseram no tribunal que os itens apreendidos
com Miranda incluíam mídia eletrônica contendo 58 mil documentos da
Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados
Unidos e da agência britânica de monitoramento eletrônico GCHQ.
Greenwald, que já trabalhou para o jornal britânico The Guardian,
reconheceu que Miranda estava transportando material fornecido por
Snowden quando ele foi temporariamente detido em Londres.
Em um e-mail à Reuters, Greenwald condenou o governo britânico por rotular as ações de seu parceiro como “terrorismo”.
“Eles são absolutamente e explicitamente igualando o terrorismo ao jornalismo”, disse o jornalista.
O especialista em sigilo da Federação de Cientistas Americanos,
Steven Aftergood, disse que, dada a natureza do material que Miranda
estava carregando, uma resposta dura por parte das autoridades
britânicas não era inesperada.
“Parece que as autoridades britânicas estavam tentando apreender ou
recuperar documentos oficiais, os quais sem dúvida reivindicam”, disse
Aftergood. “A ação das autoridades foi dura, mas não incompreensível ou
obviamente contrária à lei”.
Em um documento separado lido na audiência, a MI5, também conhecida
como Serviço de Segurança, indicou que o interesse das autoridades
britânicas em Miranda foi estimulado por seu aparente papel de
mensageiro, transportando o material de Laura Poitras, uma cineasta
sediada em Berlim, para Greenwald, que vive com Miranda no Rio de
Janeiro.
“Avaliamos fortemente que Miranda está carregando itens que ajudarão
Greenwald a revelar mais material da NSA e da GCHQ que julgamos estar em
posse de Greenwald”, de acordo com o documento, descrito como
“Justificativa de Segurança Nacional”, preparado para a polícia.
“Nossos principais objetivos contra David Miranda são compreender a
natureza de qualquer material que ele esteja transportando, mitigar os
riscos para a segurança nacional que este material representa”,
acrescentou o documento.
Um porta-voz da embaixada britânica em Washington não fez nenhum comentário sobre o processo judicial ou documentos.
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