Em um ofício assinado na última segunda-feira 14, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,
informa a diretores de institutos ambientais subordinados à pasta a sua
decisão de determinar a “suspensão da execução de todos os convênios e
parcerias, incluindo termos de colaboração e termos de fomento com
instituições do terceiro setor” por um período de noventa dias. O
objetivo seria conferir prazo para que estes fossem reavaliados.
A medida provocou imediatamente críticas das organizações não-governamentais (ONGs) e de especialistas na área, que apontavam risco de descontinuidade de serviços prestados por programas do tipo.
Depois da repercussão, o Ministério do Meio Ambiente enviou uma nota a
VEJA afirmando que “não suspenderá convênios ou parcerias que estejam
em execução”. “Não haverá, portanto, suspensão unilateral daquilo que já
está em andamento para que não haja prejuízo para o meio ambiente.” O
comunicado acrescenta que todos os contratos atuais passarão por uma
análise em um prazo de 90 dias e que novos convênios só serão estudados
depois desse período.
Em entrevista para a Globonews, Salles já havia indicado o
recuo. “Nós não suspenderemos nada que está em execução. Entretanto, nós
vamos oficiar cada uma dessas entidades para que apresentem relatório
de atividades e a prestação de contas daquilo que estão fazendo”,
argumentou.
O ministro também respondeu as críticas das ONGs à sua medida e
afirmou que as entidades “sérias” devem ser as maiores interessadas em
seu “pente-fino” porque separa “o joio do trigo”. Essa reavaliação
também inclui solicitações sobre todos os repasses de fundos federais
para a área, incluindo o Fundo Amazônia, que é gerido pelo BNDES.
Críticas
A suspensão de contratos em execução tinha preocupado ONGs. Segundo
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, a depender
da extensão da medida até projetos de combate ao desmatamento poderiam
ser interrompidos, uma vez que o programa Áreas Protegidas da Amazônia
(Arpa) é financiado, entre outras fontes, pela ONG WWF-Brasil.
“Se seus efeitos forem abrangentes como deu a entender a medida, o
impacto será drástico. Você não pode deixar de cuidar de árvores
plantadas, por exemplo, por três meses e achar que ao final desses
noventa dias você vai encontrar a mesma situação ambiental no local”,
comentou.
Rittl vê ilegalidade na ação, alegando que convênios só poderiam ser
suspensos após um processo administrativo. “O ministro defendeu ampla
defesa para pessoas com multas ambientais mas está se contradizendo ao
suspender contratos sem que as ONGs possam se defender”, criticou.
Convênios
A modalidade de contratação por convênio é aquela em que órgãos do
poder público firmam contratos com outras entidades públicas ou do
terceiro setor, sem fins lucrativos, para a execução de projetos de
interesse público. O financiamento pode ter origem em recursos públicos
ou privados.
Caetano Scannavino, do projeto Saúde e Alegria, executa uma obra de
saneamento básico em uma comunidade ribeirinha, em projeto financiado,
segundo ele, por duas entidades privadas, as fundações Avina e
Coca-Cola. Com o Ministério do Meio Ambiente, ele mantém um convênio de
cooperação técnica que o permite operar na região.
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