A repercussão negativa do episódio da carta sobre o Hino Nacional
enviada a escolas pelo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez,
fez com que nomes ligados a Olavo de Carvalho fossem afastados da pasta.
Ele é considerado um pensador do governo de Jair Bolsonaro.
Um deles é Silvio Grimaldo, aluno de Olavo, que trabalha diretamente
com o ministro, no gabinete, e que teria influenciado Vélez em decisões
com o viés ideológico.
Eduardo Melo, que era sub secretário executivo, deve ir para a
Fundação Roquette Pinto. Murilo Resende, também aluno de Olavo, que
chegou a ser indicado para coordenador da diretoria que cuida do Enem e
depois ficou com um cargo de assessor, também estaria saindo. Procurado,
disse que não foi comunicado dessa decisão.
O objetivo, segundo fontes, é “reorganizar a casa” e colocar o foco
no que importa na educação. A decisão teria sido do próprio Vélez,
durante o carnaval, depois de ser aconselhado a mudar o posicionamento
para ser “um ministro de fato”.
A ideia de divulgar a carta que pedia que o slogan de campanha de
Bolsonaro fosse lido nas escolas e que as crianças fossem filmadas não
foi compartilhada nem com gestores de mais alto cargo no MEC. A notícia
foi dada com exclusividade pelo Estado. O alto escalão do ministério
soube pela imprensa da carta de Vélez.
A medida foi duramente criticada por educadores, juristas e até pelo
movimento Escola sem Partido. O Ministério Público Federal pediu
explicações do ministro, que acabou reconhecendo o erro e voltando atrás
duas vezes.
Em uma reunião, com militares e membros da Casa Civil, na tarde desta
sexta-feira, teria sido batido o martelo que oito funcionários do MEC
devem ser exonerados. As demissões seriam consequência do
enfraquecimento do ministro nas últimas semanas.
Vélez também foi indicado por Olavo para o cargo e essa seria uma
maneira de mostrar sua independência e se manter no ministério.
Silvio Grimaldo postou em sua página no Facebook que o “expurgo de
alunos do Olavo de Carvalho do MEC é a maior traição dentro do governo
Bolsonaro que se viu até agora” (sic). “Nem as trairagens do Mourão ou
Bibiano chegaram a esse nível”.
Mais cedo, o próprio Olavo de Carvalho havia aconselhado, em post em
sua página no Facebook, os alunos de seu curso online a deixarem o
governo de Jair Bolsonaro. “Todos os meus alunos que ocupam cargos no
governo – umas poucas dezenas, creio eu – deveriam, no meu entender,
abandoná-los o mais cedo possível e voltar à sua vida de estudos. O
presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do
povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como
eles”, escreveu.
Depois da carta enviada às escolas, o MEC, de fato, recebeu muitas
gravações. No entanto, o material mostrava as condições precárias das
escolas e não o Hino sendo entoado. O grande volume de vídeos recebidos
teria sido avaliado como um indicativo da baixa popularidade de Vélez.
Mestrando na área de Filosofia da Educação da Universidade Estadual
de Londrina, Grimaldo foi uma das indicações de Olavo para o ministério.
Nesta sexta, ele compartilhou uma publicação de seu guru, em que diz
“tudo o que estão dizendo e fazendo contra os meus poucos alunos que têm
cargos no governo é para bloquear a Lava-Jato na Educação”.
Olavo na pauta.
Estadão Conteúdo
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