O diplomata Paulo Roberto de Almeida, de 68 anos, diz que o principal
motivo de sua exoneração do cargo de presidente do Instituto de
Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) não foram os posts publicados
em seu blog com críticas à atual gestão do Itamaraty, como divulgado
inicialmente. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele atribui
sua demissão às críticas que fez ao filósofo Olavo de Carvalho,
considerado responsável pela indicação do embaixador Ernesto Araújo para
o ministério das Relações Exteriores. Confira a seguir trechos da
entrevista.
Como o senhor recebeu sua demissão?
Já estava esperando por isso. É normal num processo de mudança de
governo e que se aproxima também de uma mudança de regime. No meu caso,
foi um pouco humilhante, na medida em que fui simplesmente comunicado de
que estava sendo exonerado por “mau comportamento”, por ter republicado
no meu blog, a palestra do embaixador Rubens Ricupero no Cebri (Centro
Brasileiro de Relações Internacionais), em 25 de fevereiro, no Rio, e o
artigo do ex-presidente Fernando Henrique, no Estado, no domingo, sobre a
política externa do País.
Não era previsível que isso fosse acontecer, com a publicação dessas críticas à atual gestão do Itamaraty?
Isso foi levantado pelo chefe de gabinete que telefonou para me
demitir. Eu disse que eram artigos publicados pela imprensa e que
figuravam no próprio clipping do Itamaraty. Tudo o que publico no blog é
público. Neste caso, convidei os leitores a iniciar um debate sobre a
política externa com base nos três artigos. Mas esse não foi o motivo
real da minha exoneração. O que foi um crime de lesa majestade foram as
críticas anteriores que fiz ao Olavo de Carvalho, que é supostamente o
patrono do Ernesto Araújo para o comando Itamaraty. Eu o chamei de
“sofista da Virgínia” (em referência ao Estado da Virgínia nos EUA, onde
ele mora). O Olavo é uma personalidade bizarra que faz um mal enorme à
política externa, com esse antiglobalismo irracional e conspiratório
assumido pelo Ernesto e com o antimultilaterealismo, anticlimatismo e
antimarxismo cultural que fazem parte de sua pregação.
O Olavo fez um post nas redes falando que não teve influência na sua exoneração.
Isso é correto. Ele não sabia de nada. Mas teve influência indireta.
Foram minhas críticas a ele que fizeram o ministro me demitir, porque o
Olavo é o legitimador do Ernesto Araújo. Não descartaria também uma
influência do Eduardo Bolsonaro, que contribuiu para a nomeação do
Ernesto. Outro responsável foi o Filipe Martins, assessor internacional
da Presidência, que é um desses olavistas fanáticos e muito próximo do
Ernesto Araújo.
Como está clima no Itamaraty?
O que sinto é uma grande paralisia, uma grande expectativa, um grande
temor, porque houve uma subversão da hierarquia, uma reforma imposta de
cima para baixo que deixou muita gente perplexa, muitos embaixadores
sem função. Pelo que posso notar, o Itamaraty está esperando instruções
de cima que não vêm. As decisões são tomadas num círculo extremamente
fechado vinculado ao próprio gabinete.
Pense num governo baseado na meritocracia, kkkk.
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