O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) decidiu nesta
terça-feira (23) abrir um processo administrativo para apurar se o
procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba,
cometeu violação funcional e deixou de observar os deveres funcionais e
de guardar o decoro ao fazer críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF).
As críticas foram feitas durante entrevista à rádio CBN no dia 15 de
agosto de 2018. Dallagnol comentava sobre a decisão da Segunda Turma do
STF de transferir termos da colaboração premiada da Odebrecht da Justiça
Federal no Paraná para a Justiça Federal e eleitoral no Distrito
Federal.
O procurador afirmou que ministros do STF agiam como “panelinha” e
que a decisão de transferir os autos de comarca passava uma “mensagem
muito forte de leniência a favor da corrupção.”
“Os três mesmos de sempre do Supremo Tribunal Federal que tiram tudo
de Curitiba e mandam tudo para a Justiça Eleitoral e que dão sempre os
habeas corpus, que estão sempre se tornando uma panelinha assim… que
mandam uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”,
disse Dallagnol, segundo transcrição da reclamação disciplinar
apresentada contra ele no CNMP pela Corregedoria Nacional.
Dallagnol já havia sido investigado, pelas mesmas declarações, no
Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF). No último dia 2
de abril, porém, o CSMPF decidiu arquivar o inquérito administrativo e
concluiu que a fala do procurador não extrapolou o direito de liberdade
de expressão.
Votação no CNMP
Dez dos quatorze conselheiros do CNMP votaram pela abertura do
processo nesta terça, entre eles o vice-procurador-geral da República,
Luciano Maia Mariz, que afirmou que “a liberdade de expressão não
autoriza levantar a voz para agredir a principal instituição do estado
de direito, que é a Suprema corte.”
Ele fez críticas às manifestações do procurador Deltan Dallagnol,
defendeu o respeito ao Supremo Tribunal Federal e afirmou que a abertura
do processo não significa um ataque à liberdade de expressão.
“Ele não está impedido de dizer o que pensa. E ele diz o que pensa.
Nessa manifestação, ele ainda diz: ‘tiram tudo de Curitiba.’ Ora,
Curitiba é um juízo universal?”, questionou.
O conselheiro Dermeval Farias Gomes, um dos quatro que votaram contra
a investigação, apontou que Dallagnol não fez ofensas pessoais aos
ministros do STF e que a crítica feita por ele foi direcionada às
decisões tomadas pela corte.
“Ele pode ou não discordar do STF? Acredito que sim. Ele poderia
utilizar a palavra ‘panelinha’? Utilizado a palavra leniência?
Particularmente, acho que não. Se ficasse só aí, eu teria enorme
dificuldade em votar pela não abertura do PAD [processo administrativo].
Mas ele faz uma ressalva no final que deixa claro que a crítica se
dirige às decisões, ele teve essa preocupação”, justificou o conselheiro
Dermeval Gomes.
Em quem podemos acreditar seu moço?
G1
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