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* Deputados ‘youtubers’ irritam colegas e escancaram desordem de base aliada.

“Está iniciada a votação”, anuncia o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), às 20h15 de quarta-feira (22). O que está em jogo é a retirada do Coaf, conselho que fiscaliza atividades financeiras suspeitas, da alçada do ministro Sergio Moro, na Justiça.

Os governistas querem evitar a mudança para a pasta da Economia. E sacam suas armas: de repente o plenário da Casa se inunda com celulares de todos os tipos e tamanhos, gravando vídeos para redes sociais.

A gravação de Carla Zambelli (PSL-SP), feita ao lado da Major Fabiana (PSL-RJ), teve 32 minutos de duração, 14 mil comentários e 5.000 curtidas. Já a de Hélio Lopes (PSL-RJ) teve 23 minutos, 2.000 likes e 3.400 comentários. O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), e a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), também estavam online.

Na Câmara, porém, o placar não é tão favorável: por 228 votos a 210, o Coaf foi retirado do ministério de Moro. A medida segue para o Senado.

A votação desta semana é a epítome de um fenômeno que tem tomado os corredores de comissões e do plenário em 2019: o crescimentos dos parlamentares “youtubers”, que preferem falar para suas bases do outro lado da tela a articular com seus pares.

O problema é que tão característica da 56ª legislatura quanto o frenesi das redes sociais é a irritação de parte dos deputados (entre veteranos e novatos, ressalte-se) com a bancada das redes.

Durante a cena da deliberação da MP 870, que decidiu pela transferência do Coaf para o Ministério da Economia, até parlamentares jovens se mostraram chocados com a quantidade de lives.

“Rapaz, quando eu cheguei aqui eu fazia sempre uma livezinha por semana, e o pessoal me achava esquisito”, comenta um tucano da ala dos cabeças-pretas, como são chamados os mais novos do partido. Quando a reportagem diz que ele tinha sido vanguarda nas tendências do Parlamento, ouve como resposta: “Não quero ser vanguardista disso não.”

Outro passa apressado, com uma proposta de emenda para a reforma da Previdência nas mãos. “Não vai fazer live?”, perguntam jornalistas. “Eu não, vou ali pegar assinatura que eu ganho mais”, responde o deputado, membro de um dos partidos de centro.

Os parlamentares levaram até um pito de Maia. “Eu peço só que, daqui para frente, o parlamentar que for à tribuna utilize a tribuna sozinho. A imagem com cinco, seis, sete ou oito parlamentares no entorno não é a imagem que deve ser passada para a sociedade”, afirmou, depois que Filipe Barros (PSL-PR) discursou ladeado por correligionários devidamente aparelhados com seus celulares.

Em discurso inflamado pouco depois, o líder do DEM, Elmar Nascimento (BA), reclamou: “Isso aqui não é um circo em que as pessoas pegam o celular para ficar transmitindo”, disse. Pouco antes, outro líder do centrão, Arthur Lira (PP-AL) também tinha ido ao microfone reclamar dos “internautas de plantão”.

Não são só os governistas, obviamente, que utilizam as redes sociais para interagir com suas bases. Também nesta quarta-feira, a deputada Marília Arraes (PT-PE) criticou o ministro da Educação, Abraham Weintraub, em uma live no Facebook.
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