Na última terça-feira, quando o jornal O Globo divulgou a decisão do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro de quebrar os sigilos bancário e
fiscal de 95 pessoas e empresas ligadas ao antigo gabinete do
primogênito do presidente, Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), uma luz de alerta piscou no Palácio
do Planalto. De todos os nomes elencados pelo Ministério Público
estadual, nove eram de parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, a
segunda mulher de Jair Bolsonaro e mãe do seu quarto filho, Jair Renan.
Ana Cristina, com quem Jair Bolsonaro viveu em união estável por dez
anos, entre 1998 e 2008, foi a ponte para que a família Siqueira Valle
começasse a integrar a extensa lista de funcionários do clã Bolsonaro há
cerca de 20 anos. Uma pessoa próxima à família falou com ÉPOCA sob
condição de anonimato e disse que os parentes nomeados nunca fizeram o
trabalho de assessoria parlamentar na cidade ou na Alerj. De acordo com
essa pessoa, ao menos dois familiares admitiram que repassavam cerca de
90% dos salários de volta para os parlamentares. ÉPOCA também teve
acesso a gravações em que dois deles relembram as devoluções, em
dinheiro vivo, feitas à Flávio na Alerj.
De quatro em quatro anos, a única coisa que os parentes faziam era
distribuir santinhos no período de campanha pela reeleição de Flávio e
Jair Bolsonaro. Assim, sequer eram vistos como funcionários. Outros três
parentes de Ana Cristina ainda foram lotados pelo próprio Jair
Bolsonaro, em seu gabinete, quando era deputado federal em Brasília.
Para além da possibilidade de configurarem nepotismo, as nomeações
revelam fortes indícios da prática da “rachadinha”, quando assessores
são nomeados para repassar parte — ou o total — do salário ao político
que o nomeou.
NOTA DE FLÁVIO BOLSONARO:
“O senador Flávio Bolsonaro se recusa a comentar uma suposta gravação
a qual não teve acesso. É uma irresponsabilidade divulgar qualquer
áudio sem que se saiba quem fala, quem grava e em que contexto a
gravação foi feita. Em tempos de Fake News, esse tipo de conteúdo é uma
armadilha que pode induzir os leitores ao erro e a julgamentos
enganosos”.
Tá frito.
Época
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