O escritor Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro, disse nesta
quinta-feira (16) que não fará mais comentários sobre a política
brasileira por enquanto.
“O que eu estou fazendo, estou decidindo hoje, é me ausentar
temporariamente do debate político nacional, do dia a dia, das miudezas
da política, porque se tornou uma coisa absolutamente insustentável”,
afirmou Olavo durante entrevista em vídeo para o site Crítica Nacional,
de perfil simpático ao presidente Jair Bolsonaro.
Crítico da imprensa brasileira e da ala militar do governo, Olavo de
Carvalho direciona seus ataques especialmente ao ministro general Carlos
Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo, e ao
vice-presidente, general Mourão. Para o escritor, eles são um entrave às
mudanças sociais propostas pelo bolsonarismo.
Os militares por sua vez, reagiram aos ataques e têm cobrado uma
postura mais incisiva do presidente, considerado por eles omisso na
disputa. O principal revide veio de Eduardo Villas Bôas, comandante do
Exército de 2015 até o começo deste ano, que chamou o escritor de
“Trótski de direita”, ao criticar o patrono da ala ideológica
associando-o ao líder comunista soviético Leon Trótski.
“Eles querem me tirar da parada? Tiraram. Eu vou ficar quietinho
agora, não me meto mais na política brasileira. O Brasil escolheu o seu
caminho. Escolheu confiar em pessoas que não merecem a sua confiança e
agora vai se danar”, completou Olavo.
As últimas postagens de Olavo no Twitter e no Facebook datam de
segunda-feira (13), nas quais estão presentes as críticas costumeiras
aos militares e à imprensa brasileira.
Na entrevista, Olavo —que vive nos Estados Unidos desde 2005— também negou exercer qualquer influência sobre o governo Bolsonaro.
“Quem sou eu nessa história toda? Esse grupo olavista jamais existiu.
Não existe nada disso. A minha influência é a influência de escritor
sobre um público difuso que não tem nenhum contato entre si. Não há
organização, não há diálogo, não há membros. O Brasil está vivendo
embaixo de uma alucinação, isso virou uma palhaçada.”
Embora negue exercer qualquer influência sobre o governo, Olavo de
Carvalho foi responsável pela indicação de dois ministros: Ernesto
Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Vélez Rodríguez, demitido do MEC
no início de abril. Seu substituto, Abraham Weintraub, foi aluno do
curso de filosofia oferecido por Olavo na internet e também expressa
admiração pelo escritor.
Apesar das críticas da ala militar ao comportamento de Olavo de
Carvalho, Bolsonaro e seus filhos Carlos e Eduardo vão na direção
inversa. O próprio presidente o considera um “ícone”, já defendeu seu
direito de expressão e afirmou que as obras do escritor contribuíram
para seu triunfo eleitoral em 2018.
No final de abril, Bolsonaro ainda concedeu ao escritor o mais alto
grau da Ordem de Rio Branco, condecoração dada pelo governo do Brasil
para “distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas, estimular a
prática de ações e feitos dignos de honrosa menção.”
Só acredito vendo seu moço.
Folhapress
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