Para a Polícia Federal, Walter Delgatti Neto, preso na última
terça-feira (23) sob suspeita de atuar como hacker, foi a fonte do
material que tem sido publicado desde junho pelo site The Intercept
Brasil com conversas de autoridades da força-tarefa da Lava Jato em
Curitiba.
Em depoimento, Delgatti, um dos quatro presos pela PF, disse que
encaminhou as mensagens ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site,
de forma anônima, voluntária e sem cobrança financeira.
Os contatos com Greenwald, segundo o preso, foram virtuais, somente
pelo aplicativo de conversas Telegram, e ocorreram depois que os ataques
aos celulares das autoridades já tinham sido efetuados.
A polícia agora trabalha para confirmar se as informações dadas por
Delgatti, de que agiu de forma voluntária e sem pedir dinheiro em troca,
são verdadeiras. Não há até agora indício de que tenha havido pagamento
pelo material divulgado, segundo investigadores.
Em depoimento, Delgatti afirmou ainda ter agido neste caso por não
concordar com os caminhos da Lava Jato. A apuração da PF é a de que o
grupo hackeava contas do Telegram e contas bancárias por dinheiro.
A perícia criminal da Polícia Federal copiou dados guardados pelo
suspeito preso em plataformas de nuvens na internet que sugerem
veracidade em pelo menos algumas das declarações de Delgatti até aqui.
Nesse material apreendido, estão conversas entre procuradores da Lava Jato como as que foram divulgadas pelo Intercept.
De acordo com envolvidos na busca e apreensão na terça-feira, um
celular de Delgatti estava na conta do Telegram do ministro da Economia,
Paulo Guedes, quando agentes chegaram à casa dele, em Araraquara. O
episódio, para a PF, reforça que era o mesmo grupo que agia.
O ministro da Justiça, Sergio Moro, já havia associado a prisão dos
quatro suspeitos à divulgação pelo site das mensagens que mostram
interferência do ex-juiz da Lava Jato nas investigações da força-tarefa.
“Parabenizo a Polícia Federal pela investigação do grupo de hackers,
assim como o MPF [Ministério Público Federal] e a Justiça Federal.
Pessoas com antecedentes criminais, envolvidas em várias espécies de
crimes. Elas, a fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas
mensagens obtidas por crime”, escreveu Moro, no Twitter, nesta
quarta-feira (24).
Os jornalistas responsáveis pelo Intercept rebateram a mensagem de
Moro. Glenn Greenwald disse no Twitter que o ministro da Justiça “está
tentando cinicamente explorar essas prisões para lançar dúvidas sobre a
autenticidade do material jornalístico”.
“Nunca falamos sobre a fonte. Essa acusação de que esses supostos
criminosos presos agora são nossa fonte fica por sua conta [Moro]”,
acrescentou Leandro Demori, editor-executivo do Intercept.
Quando as primeiras mensagens vieram à tona, em 9 de junho, o site
informou que obteve o material de uma fonte anônima, que pediu sigilo. O
pacote inclui mensagens privadas e de grupos da força-tarefa no
aplicativo Telegram a partir de 2015.
Além de Delgatti, foram presos Gustavo Henrique Elias Santos, Suelen Priscila de Oliveira e Danilo Cristiano Marques.
Os quatro suspeitos foram detidos temporariamente (por cinco dias,
prorrogáveis por mais cinco) na terça-feira. As ordens de prisão foram
cumpridas em São Paulo, Araraquara (SP) e Ribeirão Preto (SP). Os
envolvidos foram transferidos para Brasília.
Na decisão que fundamentou as prisões, o juiz Vallisney de Souza
Oliveira, da 10ª Vara Federal do DF, apontou “fortes indícios” de que os
quatro investigados “integram organização criminosa para a prática de
crimes e se uniram para violar o sigilo telefônico de diversas
autoridades brasileiras via invasão do aplicativo Telegram.”
Segundo ele, os fatos demonstram que os suspeitos são “responsáveis pela prática de delitos graves”.
O inquérito em curso foi aberto em Brasília para apurar,
inicialmente, o ataque a aparelhos de Moro, do juiz federal Abel Gomes,
relator da Lava Jato no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região),
do juiz federal no Rio Flávio Lucas e dos delegados da PF em São Paulo
Rafael Fernandes e Flávio Reis.
Segundo investigadores, a apuração mostrou que o celular do
procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em
Curitiba, também foi alvo do grupo. O caso dessas autoridades está
sendo tratado em inquérito aberto pela Polícia Federal no Paraná.
A Folha teve acesso ao pacote de mensagens atribuídas aos
procuradores da força-tarefa da Lava Jato e ao então juiz Sergio Moro e
obtidas pelo Intercept.
O site permitiu que o jornal analisasse o seu acervo, que diz ter
recebido de uma fonte anônima. A Folha não detectou nenhum indício de
que ele possa ter sido adulterado. O jornal já publicou cinco
reportagens decorrentes deste acesso.
A Folha não comete ato ilícito para obter informações, nem pede que
ato ilícito seja cometido neste sentido; pode, no entanto, publicar
informações que foram fruto de ato ilícito se houver interesse público
no material apurado.
Hackers na pauta.
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