No último domingo (9) o jornalista Glenn Greenwald se tornou uma das
figuras mais faladas do Brasil. Um dos fundadores do Intercept Brasil,
ele foi coautor da série de reportagens que revelou diversas mensagens
vazadas supostamente do celular de Sergio Moro, ministro da Justiça.
As revelações feitas pelo Intercept mostram que Moro poderia ter
influenciado no andamento da Lava Jato, culminando com a prisão do
ex-presidente Lula, e nas eleições de 2018, que colocaram Jair Bolsonaro
no poder
Em entrevista ao Yahoo, o jornalista afirmou que o próximo material a
ser relevado irá “tirar a máscara de Sergio Moro”, mas recusou dar mais
informações sobre o seu teor. Greenwald também fez novas críticas à Rede
Globo, segundo ele o único veículo de comunicação grande do país a não
se interessar pelas informações obtidas pelo Intercept.
Greenwald também falou que iria ao Senado sem problema para falar sobre
os dados que obteve. Lembrou que à época em que fez uma reportagem com
Edward Snowden, analista de sistemas ex-CIA e NSA, que colocou em xeque
diversas instituições norte-americanas, falou em comissões mesmo sem
convite. “O que quero é que a informação chegue ao público como deve
chegar”, afirma.
Leia a entrevista na íntegra:
O que você tem achado do ritmo de publicação das matérias? O Intercept prometeu uma por dia, mas no momento a média não é essa?
Nós publicamos 4 artigos enormes, muito complexos. Depois disso, um
trecho sobre o ministro Fux e depois mais conversas envolvendo Moro e
Deltan. E temos muito mais para mostrar. Acho que isso é muita
publicação para cinco dias. Nós não vamos correr e priorizar velocidade,
precisamos ser responsáveis jornalisticamente. Faz pouco tempo que isso
começou, então é bastante coisa que divulgamos até agora.
Você diz que os arquivos estão muito bem protegidos e espalhados por
diversos países. Então por que o material foi lançado sem o outro lado
ter sido ouvido?
Sim, não tenha dúvidas de que esse arquivo está bem protegido. Mas em
países onde a censura é comum, como o Brasil, onde jornalista tem medo,
eu vejo como necessidade. É normal não procurar os comentários, ainda
mais quando se fala dos mais poderosos do país. O Globo já foi censurado
recentemente, O Antagonista já foi censurado também, então nós temos
medo da censura. Sabemos que Moro tem um microfone enorme para se
defender na mídia, da maneira que bem entender. No minuto que
publicamos, já mandamos os artigos e falamos que qualquer comentário
colocaríamos lá imediatamente e nós fizemos isso.
Você fala em muito poder do Moro, para além do cargo dele. Na quarta,
Bolsonaro posou ao lado do ministro no estádio Mané Garrincha e o fez
vestir uma camisa do Flamengo. Como vê isso neste momento delicado de
Moro na mídia?
Acho que Moro ficou construindo por 4 anos uma imagem muito forte aqui e
no mundo todo, de super herói, de que ele é o rei da ética.
Uma máscara, essa coisa que faz dele uma figura superior para o brasileiro.
Então ele [Moro] acaba sendo uma figura muito popular, e Bolsonaro sabe
disso. E ele sabe que o Moro é fundamental para a legitimidade do
governo, então eu não me surpreendo nenhum pouco com essa proteção.
Uma pesquisa divulgada nesta quinta mostra que a popularidade do Moro
caiu. Dá pra dizer que as reportagens vão destruir a reputação do Moro?
Moro não pode dizer que a reputação dele foi destruída. Mas a aprovação
dele caiu dez pontos e ainda vem muito mais coisa por aí, temos mais
material que não divulgamos ainda e que já está em um processo de
discussão editorial. Não me surpreende a posição do Bolsonaro com isso,
porque sabemos que ele tem conexões com corruptos, milicianos, então por
que surpreenderia? A questão é o que vai ser revelado sobre o Moro, a
máscara dele será derrubada.
Esse cara tem coragem viu seu moço.
Agência Brasil
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