O jornalista Dony De Nuccio pediu demissão da Globo nesta
quinta-feira (1º) após ter sido revelado que ele faturou nos últimos
dois anos um total de R$ 7.239.692 produzindo “road shows
telepresenciais”, vídeos, cartilhas e palestras para o Banco Bradesco.
Após a revelação, o jornalista enviou e-mail a Ali Kamel,
diretor-geral de Jornalismo, reconhecendo que contrariou o código de
conduta dos jornalistas da emissora e, por isso, pediu demissão. O
executivo aceitou a decisão “com pesar”, segundo nota divulgada pela
Globo.
No e-mail, De Nuccio reconhece que se envolveu em “serviço pontual
que pode ser interpretado como assessoria de imprensa”, o que viola as
normas de quase todos os veículos de comunicação. Além disso, ele disse
no texto ter sido vítima de “campanha para me destruir e sangrar a
qualquer custo” e de “criminosa invasão de computadores, arquivos e
mensagens”.
Leia a íntegra da carta de demissão de Dony De Nuccio:
“Caro Ali,
Como afirmei anteriormente, não tinha conhecimento de que os
tipos de serviços prestados pela empresa à qual estava ligado
contrariavam normas da Globo. Reitero que minha função não era negociar
valores com clientes, mas sim trabalhar na concepção dos projetos e em
seu conteúdo.
Frente à recente onda de ataques que venho sofrendo, e com
indícios de criminosa invasão de computadores, arquivos e mensagens,
procurei vasculhar o histórico de dois anos de emails enviados por mim
enquanto cumpria função na empresa. De fato, na esmagadora maioria das
vezes, eu não tratava de valores com contratantes. Mas, em algumas
circunstâncias pontuais, e das quais eu sinceramente não me recordava,
há sim menção a cifras e projetos. Nos poucos casos em que isso
aconteceu, a proposta geralmente não prosperou e a contratação não foi
efetivada. De qualquer forma, fui traído pela memória. E me penitencio
por isso.
Quero acrescentar também que depois de nossa longa conversa e do
relato mais pormenorizado que lhe fiz sobre as atividades já
desempenhadas pela PrimeTalk, há um serviço pontual que incluiu o que
pode ser interpretado como assessoria de imprensa. Entendo com os olhos
de hoje que o escopo dos serviços prestados ultrapassa os limites do que
a Globo espera de seus jornalistas. E lamento que, mesmo sem dolo, não
tenha percebido isso antes. Não quero mais – por qualquer que seja o
artigo ou vazamento na contínua tentativa de destruir minha reputação –
constranger você, a Globo ou a minha família.
Desde muito cedo na vida sonhei em trabalhar com televisão, e
procurei ao longo de toda minha trajetória me preparar para poder, algum
dia, agregar muito valor aos quadros da Globo. Foi pensando nisso que
procurei a formação acadêmica mais sólida possível, com jornalismo,
economia, extensão internacional e mestrado em economia e finanças.
Em 2011 abri mão de uma promissora carreira no mercado
financeiro, para me tornar repórter nos quadros da Globo. Parecia uma
decisão difícil, mas não foi: representava o começo de uma nova
caminhada, com a qual eu sonhava desde tempos remotos.
Dentro da emissora tive a possibilidade de trabalhar nos mais
diversos telejornais e funções, e participar de algumas das coberturas
mais marcantes da história do nosso país. Fui repórter do Jornal da
Globo, do BDSP, SPTV1 e SPTV2. Fui editor de economia e comentarista do
Jornal das 10 e do Hora 1. Ajudei a criar e depois apresentar programas
como o Conta Corrente e GloboNews Internacional, além de ancorar o
próprio J10, participando de análises políticas e econômicas com algumas
das maiores referências do ramo no jornalismo brasileiro. Nos últimos
dois anos, tive a imensa alegria e desafio de comandar o Jornal Hoje,
dividindo bancada com a talentosa, inspiradora e hoje amiga pessoal,
Sandra Annenberg. E ainda pude apresentar o Fantástico e o Jornal
Nacional em diversas ocasiões.
Olho no retrovisor com alegria e satisfação por toda essa
caminhada, e sou muito grato a você e à Globo pela oportunidade que me
deram de bater asas, trabalhar duro e voar alto, ocupando alguns dos
mais importantes postos do telejornalismo brasileiro. Fico orgulhoso e
feliz com o que pudemos construir e criar juntos.
Mas, assim como é preciso persistência e suor para crescer, é preciso sabedoria para parar.
Nas últimas semanas me vi mergulhado em uma infindável onda de
ataques, com a vida dentro e fora da Globo vasculhada e revirada,
sigilos fiscais violados, endereços expostos, trabalhos de exclusiva
veiculação interna publicados, e até e-mails privados hackeados.
Quanto mais perto estamos do topo da montanha, mais forte é o
vento. E é esperado que seja assim. Mas essa contínua campanha para me
destruir e sangrar a qualquer custo não pode prosperar. Não faz bem nem a
mim, nem à minha família e nem à emissora. Não é justo com nenhum de
nós.
Por esse motivo, embora com aperto no coração, solicito meu afastamento do telejornalismo.
E o faço com o espírito leve e a consciência tranquila, porque
jamais ajo de má fé. Jamais tive o intuito de burlar regras ou obter
benefício que julgasse incompatível com as funções que ocupava na
emissora (isso sim, seria incompatível com a minha história pessoal).
Trabalhei, duro e dobrado, para complementar a renda, fora do horário da
Globo, e dentro dos limites que ao meu ver eram compatíveis e
aceitáveis. Se errei, não foi com dolo, e humildemente peço desculpas.
Estou convicto de que em cada um dos dias em que aqui estive
tratei com respeito e lealdade a todos com quem interagi,
independentemente da função ou hierarquia. E sempre enxerguei a todos
não como colegas de trabalho, mas como amigos.
Saio, neste momento, certo também de que em cada um dos dias e
anos em que aqui trabalhei, sempre atuei com absoluta paixão e dedicação
para levar ao público a notícia da forma mais atraente, correta,
completa e interessante possível.
Mais uma vez, muito obrigado pela parceria, pelas oportunidades e pela confiança.
Construímos uma história incrível.
Dony de Nuccio.”
Leia a resposta de Ali Kamel:
“Caro Dony,
Agradeço sua carta honesta e transparente. Aceito o seu pedido de
demissão com pesar mas, assim como você e pelas razões que você aponta,
com a certeza de que é o melhor caminho a seguir. Entendo que é
absolutamente sincero quando afirma que não agiu com dolo, e esta carta é
uma prova eloquente disto. Nossa longa conversa de hoje cedo permitiu
que eu entendesse as suas motivações e você entendesse as razões da
Globo. Agradeço os anos em que trabalhou na Globo, que você descreveu
tão bem. E o seu empenho e a sua dedicação. Um abraço e sorte na sua
nova trajetória,
Ali Kamel.”
Saiu de boa e bem seu moço.
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