Kayla Bergeron ainda descreve a manhã de 11 de setembro de 2001 com riqueza de detalhes: ela estava trabalhando em sua mesa no 68.º andar do World Trade Center
quando o prédio chacoalhou. Alguém entrou e disse que um avião havia
atingido a Torre Sul. Um pequeno avião, ela pensou. De repente, ela
percebeu que não se tratava de um Cessna.
Ela começou a correr em desespero, uma descida angustiante em uma escada
escura e molhada, pois os canos estouraram quando as Torres Gêmeas
começaram a entrar em colapso. Ela foi uma das únicas sobreviventes de
um andar tão alto.
Bergeron também descreve sua vida desde então: a demissão de
empregos, a perda da casa para uma execução hipotecária, duas
condenações por dirigir embriagada e, no ano passado, o diagnóstico de
um transtorno de estresse pós-traumático decorrente do 11 de Setembro.
“O estresse pós-traumático (EPT) nunca me ocorreu”, disse Bergeron,
funcionária de alto escalão da Autoridade Portuária de Nova York e New Jersey.
Nos
18 anos desde os ataques terroristas, os policiais e bombeiros que
invadiram as torres em chamas foram homenageados com um memorial no
Marco Zero. Hoje, os nomes dos que morreram, foram lidos mais uma vez em
uma cerimônia no local. O Congresso, após uma luta promovida pelo
comediante Jon Stewart, votou em julho para fornecer mais dinheiro para o fundo que cobre os cuidados médicos dos socorristas.
No
entano, milhares de civis como Bergeron – pessoas que trabalhavam no
centro comercial ou estavam na área próxima das Torres Gêmeas – também
sobreviveram. Alguns desenvolveram sintomas físicos. Outros não. Mas se
tornaram um segmento esquecido da comunidade do World Trade Center.
Agora,
muitos temem que a atenção nacional esteja voltada para outro lugar e
as pessoas esqueçam que aqueles que testemunharam o horror do 11 de
Setembro ainda podem desenvolver doenças como o estresse pós-traumático.
“O EPT não tem um limite de tempo”, disse Jacqueline Moline, diretora
do Programa de Saúde Queens World Trade Center, da rede de saúde
Northwell, que fornece acompanhamento e tratamento para dezenas de
doenças. “As pessoas podem desenvolver estresse pós-traumático
relacionado a um evento anos depois.” Segundo ela, muitas vezes, não
está claro o que desencadeia o distúrbio.
Dos 24.550 atendentes
de emergência do 11 de Setembro, 7.425, ou 30,25%, apresentam transtorno
de estresse pós-traumático. Dos que fugiram das torres ou da destruição
nas proximidades, 2.625 – ou cerca de 12,3% dos sobreviventes
registrados no programa – têm transtorno de estresse pós-traumático,
segundo dados da Northwell. Outros 675 têm transtornos de ansiedade e
661 têm o que o programa classifica como “transtornos depressivos
graves”.
“O EPT é a doença mais comum na comunidade do 11 do
Setembro”, disse John Feal, que trabalhou como supervisor de demolição
no Marco Zero e se tornou um dos principais defensores de um fundo de
compensação para as vítimas permanentes do atentado.
Sobreviventes repetem desastre em suas mentes
Mesmo
agora, alguns sobreviventes repetem o desastre em suas mentes. Eles têm
pesadelos, pulam quando ouvem barulho e evitam qualquer coisa que
lembre daquele dia. Segundo Rachel Yehuda, psiquiatra e vice-presidente
da Faculdade de Medicina de Icahn, no Hospital Monte Sinai, uma pesquisa
mostrou que pessoas “próximas de um trauma que não apresentam sintomas
podem tê-los mais tarde”. Normalmente, de acordo com ela, os sintomas
são acionados por “um gatilho”.
Por exemplo, uma manhã brilhante
no final do verão poderia servir como lembrete do 11 de setembro de 2001
e recordar os aviões que miravam as Torres Gêmeas. Os sons podem ter um
efeito semelhante.
“Desde os 17 anos, eu não conseguia ouvir um
avião, um helicóptero ou o estouro de um escapamento”, disse Lila
Nordstrom, que estava no último ano da Stuyvesant High School, em Lower
Manhattan, em 2001, e agora mora em Los Angeles. “Se eu estiver no
trânsito e alguém buzinar, isso pode levar a um período prolongado de
pânico. Demorou um pouco para eu perceber que o que estava acontecendo
estava relacionado ao 11 de Setembro.” Ela disse que foi diagnosticada
com transtorno de estresse pós-traumático pelo Programa de Saúde do
World Trade Center em 2015.
Para Elinda Kiss, professora de administração de empresas que
participava de uma conferência no hotel Marriott World Trade Center, no
11 de Setembro, passar pelo Aeroporto Internacional Newark trazia uma
repetição de sua frenética corrida pela segurança naquele dia. “Eu
revivia tudo, vendo o avião atingir a Torre Sul.”
Ela acreditava
que seu estresse pós-traumático havia desaparecido ao longo dos anos. No
entanto, no domingo à noite, acordada, o pesadelo se repetia várias
vezes. “Eu continuava vendo o avião atingindo o meio do World Trade 2”,
disse.
“Existem muitos sobreviventes por aí que não percebem que
têm problemas”, afirmou Cilento, uma terapeuta que estava em casa em
Long Island quando os aviões atingiram o centro comercial. O nome de seu
filho, bombeiro voluntário, está na lápide no Marco Zero. “Muitos
sofrem em silêncio. Já são 18 anos. Mas, para alguns, é tudo muito
recente.”
Memorial...
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