O senador Flávio Bolsonaro diz ser um político honesto, muito
honesto, honestíssimo. Mas o Ministério Público do Rio de Janeiro
colocou em dúvida a honestidade do primogênito de Jair Bolsonaro. Correm
contra o Zero Um e seu ex-faz-tudo Fabrício Queiroz processos
constrangedores. Um inocente convencional faria questão de ser julgado
rapidamente, para demonstrar sua honorabilidade. Mas Flávio vai se
revelando um inocente sui generis.
Acusado de peculato, lavagem de dinheiro e formação de organização
criminosa, Flávio parece incomodado com a perspectiva de ser investigado
e julgado. O personagem conspira contra a celeridade do sistema
judiciário. Parece considerar que Justiça boa é Justiça lenta, de
preferência parada.
Eleito senador, Flávio pediu que o caso subisse para o Supremo. O
ministro Marco Aurélio Mello indeferiu. O Zero Um requereu à Suprema
Corte o trancamento do processo. O ministro Dias Toffoli deferiu a
trava. Agora, Flávio exige ser julgado em foro privilegiado de âmbito
estadual. Quer que seu processo migre das mãos de um juiz singular de
primeira instância para um colegiado do Tribunal de Justiça do Rio, com
25 desembargadores.
Os novos pedidos de Flávio Bolsonaro foram à mesa da desembargadora
Mônica Tolledo de Oliveira. Ela requisitou a manifestação do Ministério
Público. Coube à procuradora Soraya Taveira Gaya responder. A doutora
produziu para Flávio uma manifestação de sonho.
Soraya Gaya Anotou que a condição de filho do presidente faz crescer o
“interesse da nação no desfecho da causa…”. Escreveu que o juiz de
primeiro grau carrega “um grande fardo nos ombros”. Colocou-o em honrosa
companhia: “Nem Cristo carregou sua cruz sozinho”. Tomada pelas
palavras, a procuradora parece enxergar na primeira instância não um
juiz, mas uma piada.
No seu esforço para retardar o veredicto, Flávio Bolsonaro não deseja
apenas fazer o processo subir de instância. Ele reivindica que o
Tribunal de Justiça anule tudo o que foi enfiado dentro dos autos até o
momento —dos despachos do magistrado às provas e indícios recolhidos em
função das quebras de sigilo bancário e fiscal.
Flávio Bolsonaro quebra lanças por um julgamento lento. Apaixonou-se
pela dúvida que paira sobre sua cabeça. E vem sendo plenamente
correspondido. Atribui o rebuliço à sua volta a uma hipotética
perseguição.
O primogênito enxerga suspeitos em toda parte —no ex-Coaf, no
Ministério Público, na primeira instância do Judiciário… Para Flávio,
todos são suspeitos. Só ele é imaculado. No ritmo que escolheu ser
processado, o filho mais velho do presidente será candidato em 2022 não à
reeleição para o Senado, mas ao posto de santo.
Flávio é uma cria nítida da sobra da política.
JOSIAS DE SOUZA
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