Após assumir a liderança de um PSL rachado na Câmara, o deputado
Eduardo Bolsonaro (SP) afirmou à Folha que sua missão agora é pacificar a
sigla, mas reconhece que o futuro partidário dele e de sua família
ainda é incerto.
O deputado, que é filho do presidente Jair Bolsonaro, disse que
desistiu de ser embaixador do Brasil em Washington depois de ouvir seu
eleitorado, negou que não tivesse votos necessários no Senado para
aprovação de seu nome e admitiu que uma parte de sua base de apoio era
contrária à sua indicação.
Com o partido dividido, no entanto, o deputado disse que vai
conversar com todo mundo e que política não deve ser feita com o fígado.
Qual vai ser o objetivo do senhor como líder do PSL? Qual vai ser sua missão?
É preciso que o PSL retorne a ser um partido onde você coloque adiante
as pautas que nos elegeram, e não um partido em que, lamentavelmente,
como na semana passada, oriente contra o governo. A minha missão como
líder é retornar ao status quo, ao status que acontecia antes dessa
conturbada semana para o PSL. Os deputados que estavam na comissão xis
seguem na comissão xis.
Não tem retaliação? Não, nenhuma retaliação.
Como o senhor vê a ideia de o PSL querer destituir o diretório de SP, no qual o senhor está na presidência?
Olha, até agora, eu não recebi nenhuma notificação, nenhuma
oficialização disso daí. Se vier a ser feita, aí eu passo a discutir.
Mas tem muita coisa também que é melhor a gente discutir internamente.
Falar muito sobre tudo o que acontece de maneira pública dá margem para
desgaste, dá margem para interpretações outras. Então eu me resguardo
para tratar disso aí apenas internamente.
Como foi a decisão de desistir da embaixada dos EUA? Ela foi
tomada só pelo senhor, o senhor conversou com o seu pai, com outras
pessoas? O presidente sempre me deixou muito à vontade. Ele
nunca fez disso uma obrigação, ele nunca interferiu nessa minha decisão.
Tomei essa decisão falando com eleitores, uma parte a favor, uma parte
contra, mas bem dividido. Ouvindo pessoas próximas. Críticas
construtivas, de boa-fé. E uma avaliação onde seria mais importante
minha atuação. Nesse momento, eu acredito que o melhor é ficar aqui no
Brasil, ajudar na construção desse movimento conservador. Como você vê,
existem várias discussões, mesmo entre nós, na internet. Então a gente
traçar quais são as nossas metas, qual a nossa identidade. Para isso
também que serviu o CPAC, o maior evento conservador do mundo, que
trouxe para o Brasil, no mês passado, em São Paulo. Então a pegada é
mais ou menos essa daí.
Então não foi por falta de votos no Senado? Não,
não. Inclusive um dos senadores, foi até engraçado. Antes de eu vir
fazer o discurso, eu falei com alguns senadores que estavam me ajudando
no Senado. Falei com eles pessoalmente antes de vir aqui fazer o
discurso, para que eles não soubessem pela imprensa. E um deles chegou
para mim e se virou ‘ué, mas por que você vai desistir? Está tudo
encaminhado, a articulação está toda feita, seu nome vai passar aqui’.
Porque, na cabeça dele, eu estava desistindo por conta talvez de não ter
os votos. Então, na verdade, é bem tranquilo, eu acho que eu teria os
votos sim, mas é só uma questão de análise, onde seria melhor minha
posição, como meu eleitorado enxerga isso, porque eu confesso, era bem
dividido. E isso aqui que foi me dando esse norte.
Há críticas fortes de quadros do PSL ao senhor e a seus
irmãos, dizendo que os filhos atrapalham o presidente. Tem espaço para a
família Bolsonaro no PSL? Vocês vão sair do partido? Como está esse
impasse? A gente está esperando o presidente retornar da viagem
à Ásia, está tudo em aberto. Pretendo também conversar com o Rueda
[Antonio Rueda, vice-presidente do PSL]. Eu vivo um dia após o outro. A
minha missão agora é pacificar o PSL. Tenho escutado muita coisa, muita
coisa infundada, e eu prefiro nem citar nome de parlamentar ou de quem
esteja fazendo esse tipo de crítica para evitar elevar os ânimos
novamente.
Vai conversar com a outra ala? Tem conversa com
Luciano Bivar (presidente do PSL)? Eu conversaria com ele, estou
conversando com todo mundo. A nossa profissão aqui, político, a gente
engole muito sapo. A gente não precisa morrer de amores um com outro,
tudo que for preciso para colocar adiante as pautas que interessam aos
brasileiros vai contar comigo, com minha atenção, com minha paciência. E
ontem (terça) mesmo eu iniciei um trabalho de ir conversando com os
deputados que assinaram a lista do Waldir. Falei com o coronel Tadeu,
falei com o Francischini, com o delegado Pablo, delegado Freitas, enfim,
Charlles Evangelista. Não dá para a gente ficar aqui, como eu falei,
fazendo política com o fígado. Tem que ter um clima bom de trabalho.
Futuro é no PSL ou futuro da família Bolsonaro é em outro partido? Não sei, vai depender do decorrer dos dias.
Como senhor vê o documento em que Bivar diz que o senhor e seu irmão não têm condições de comandar diretórios?
Prefiro alguns assuntos tratar internamente para não dar margem à
elevação da temperatura novamente. Se ele falou isso ele vai ter as
fundamentações dele e eu vou certamente responder no foro adequado.
Eduardo na pauta.
Folhapress
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