O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira que estuda criar
o Ministério Extraordinário da Amazônia. A ideia foi apresentada pelo
deputado federal Átila Lins (PP-AM), com quem ele se reuniu nesta manhã
no Palácio da Alvorada. Na saída da residência oficial, ele também
chamou a ONG ambientalista Greenpeace de “porcaria” e “lixo” e defendeu a
exclusão dos governadores do Conselho Nacional da Amazônia Legal, órgão
transferido para o comando do vice-presidente Hamilton Mourão esta
semana.
Bolsonaro se aproximou dos repórteres e disse que a pauta única da
entrevista seria o Amazonas, por estar acompanhado do deputado federal
do Estado. Ao ser questionado sobre a manifestação do Greenpeace de que o
novo conselho da Amazônia “não tem plano, meta ou orçamento”, o
presidente rebateu:
— Quem é Greenpeace? Quem é essa porcaria chamada Greenpeace? Isso é um lixo. Outra pergunta.
Sobre a retirada dos governadores do colegiado, agora composto apenas
pelo vice-presidente e por ministros do governo federal, Bolsonaro
argumentou que a nada seria resolvido com inclusão de representantes de
estados e municípios. Mas disse que o conselho não tomará decisões sem
ouvi-los.
— Ó, se você quiser que eu bote — tá aqui o Átila Lins para responde
—, se você quiser que eu bote governadores, secretários de grandes
cidades, pode ter 200 caras. Sabe o que vai resolver? Nada. Nada. Tem
bastante ministros. Nós não vamos tomar decisões sobre estados da
Amazônia sem conversar com governador, com a bancada do estado. Se botar
muita gente é passagem aérea, hospedagem, uma despesa enorme, não
resolve nada — comentou.
Ele destacou ainda que Mourão, que já serviu na região como general,
vai ser toda a estrutura da Vice-Presidência, sem custos adicionais,
“para até se antecipar a problemas, ajudar no desenvolvimento” da
região. E então citou a ideia de Átila Lins de criar uma pasta
extraordinária:
— Lógico, teria uma reação grande porque seria mais um ministério, é
proposta do Átila Lins a criação do Ministério Extraordinário da
Amazônia — declarou.
Questionado se vai ateder ao pleito do deputado, ele comentou que vai levar para estudar porque não pode “aceitar aqui agora”.
— Isso envolve despesa, o impacto negativo de mais um ministério. Se
bem que nós estamos perdendo um ministério agora quando o Banco Central
passar a ter independência, né? Não sei se vai perder o status de
ministério ou não. Porque o objetivo de o Banco Central ser um
ministério é evitar ações de primeira instância — justificou.
Ao ser indagado sobre quais seriam as atribuições do novo ministério,
Bolsonaro redirecionou a pergunta a Lins. O deputado explicou
genericamente que a pasta faria “ações integradas” ligadas à
Presidência, diferentemente do conselho, que “faria essa parte mais
ampla”.
— O ministério seria o órgão executor. Um ministério extraordinário,
uma estrutura enxuta e que ficaria ligada à .Presidência da República. É
um pedido… — comentou o parlamentar.
Bolsonaro então se negou a responder se o vice-presidente acumularia funções no comando do eventual ministério:
— Nem nasceu… eu nem casei e você quer saber o sexo da criança? Porra…
‘Não pega fogo’
O presidente também foi questionado se a pasta ficaria responsável
pelas questões ambientais, hoje comandadas pelo Ministério do Meio
Ambiente, chefiado por Ricardo Salles. E ironizou:
— Ambiental é mole… A Amazônia equivale a uma Europa Ocidental, é
mole resolver o problema lá. Pega fogo na Floresta Amazônica? Sim, não e
por quê? — perguntou a Átila Lins, que disse se tratar de uma “coisa
episódica”, que acontece todo ano.
O deputado então comentou que a Austrália queimou “não sei quantos
dias e meses e ninguém falou nada” e disse que a floresta brasileira é
úmida e se recompõe facilmente.
— Não pega fogo floresta úmida. Ninguém fala na Austrália, pegou fogo
na Austrália toda, ninguém fala nada. Cadê o Sínodo da Austrália? —
interrompeu Bolsonaro. — O Papa Francisco ontem falou que a Amazônia é
dele, do mundo, de todo mundo. Por coincidência, eu estava com o
embaixador [na verdade, foi o chanceler] da Argentina, eu falei “olha, o
Papa é argentino, mas Deus é brasileiro” – concluiu.
Na verdade, na exortação apostólica “Querida Amazônia”, divulgada
ontem, o Pontífice afirmou que os governos nacionais têm uma
responsabilidade cada vez mais “grave” com a preservação da Amazônia, e
que só pode ser realizado pelo poder público:
“É louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da
sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma
crítica, inclusive utilizando legítimos sistemas de pressão, para que
cada governo cumpra o dever próprio e não-delegável de preservar o meio
ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a espúrios
interesses locais ou internacionais”, escreveu o Papa.
‘Postura incondizente’
Em nota, o Greenpeace condenou as declarações de Bolsonaro, e lembrou
que existe há quase meio século e está presente em 55 países. No
Brasil, atua há 28 anos.
“O Greenpeace Brasil lamenta que um Presidente da República apresente
postura tão incondizente com o cargo que ocupa”, informou a ONG, em
comunicado. “Ao longo da história, nossa postura crítica a quem promove a
destruição ambiental já causou muitas reações desequilibradas dos mais
diferentes personagens. Estamos apenas diante de mais uma delas. Nestes
casos, o incômodo de quem destrói o meio ambiente soa como elogio”.
A ONG ressaltou que tem combatido o governo Bolsonaro pelas políticas
que “levaram ao aumento do desmatamento e ao desmantelamento dos órgãos
de fiscalização”, além dos “absurdos ataques aos direitos dos povos
indígenas”:
“Continuaremos trabalhando incansavelmente na defesa do meio
ambiente, da democracia e dos direitos das populações. Irrite a quem
irritar”
Sendo ele mesmo seu moço.
O Globo
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