Hoje, o inacreditável deputado federal Alexandre Frota entrará com
pedido de impeachment de Jair Bolsonaro. Boatos de mercado discutem a
possibilidade do presidente da Câmara Rodrigo Maia abrir o processo
pretendendo uma licença compulsória de 180 dias.
É possível que seja mero boato, é possível que não. O país
se tornou um asilo tão generalizado de loucos que tudo é possível,
inclusive a imposição de uma junta psicológica para atestar a sanidade
de Bolsonaro.
Não é nenhuma autoridade, nenhuma figura reverencial. As s pessoas
que estão tomando à frente na missão profilática de tirar Bolsonaro é um
ator pornô – em todos os sentidos, nos filmes e nas declarações
públicas – e uma advogada do nível de Janaína Paschoal, ambos
diretamente chegados do asilo muito louco em que se tornou a política
brasileira.
É a prova maior de como as instituições públicas perderam totalmente o
protagonismo, até no momento de maior ameaça à democracia brasileira.
Os últimos episódios mostram um presidente totalmente desequilibrado,
pressionado pelas investigações contra a família e pela absoluta
incapacidade de articular qualquer ideia minimamente coerente em relação
às maneiras de enfrentar a coronavirus.
No final de semana, Bolsonaro espantou o lado racional do país
estimulando as manifestações contra o Congresso e o Supremo em um
momento em que o próprio Ministro da Saúde recomendava cautela e evitar
aglomerações.
Segundo estimativas de jornais, ele, provavelmente infectado – já que
9 membros da equipe que o acompanhou aos Estados Unidos estão
infectados – pode ter passado vírus para mais de 200 pessoas do seu
público, com quem teve contato direto. Mais que isso, quando começar o
pico da doença e aparecerem as primeiras mortes, qualquer relação com as
manifestações, sujeitará Bolsonaro ao crime de responsabilidade.
Nos dias seguintes Bolsonaro eximiu-se completamente de qualquer
atividade ligada ao combate ao coronavirus. Não participou das reuniões
com presidentes das instituições da República, faltou à reunião online
com presidentes latino-americanos, não teve a menor participação nas
reuniões ministeriais sobre o tema. E, pior, desentendeu-se com o
Ministro da Saúde quando este, republicanamente, veio a São Paulo
conversar com o governador paulista. Portanto, o país ficará exposto à
total falta de discernimento e de equilíbrio do presidente em uma das
fases delicadas de sua história.
Por outro lado, o pacote anunciado por Paulo Guedes confirma tudo o
que se disse aqui dele: não tem o menor conhecimento sobre a
complexidade de políticas de combate à coranovirus.
Todas as medidas de Guedes se resumem ao uso de fundos nacionais e
remanejamento do orçamento e liberação antecipada de alguns pagamentos a
aposentados e pensionistas. Não é por aí. Fazendo chuva ou sol, o
aposentado tem sua remuneração garantida. A vulnerabilidade maior é o
universo de informais, os que vivem de bico, as diaristas, que terão que
ficam em casa nos períodos em que as cidades pararem. Vão viver do quê?
Qual a estrutura que será montada para chegar o socorro até eles?
Ontem, foi anunciada uma ampliação do Bolsa Família, três vezes menor do
que a exclusão de famílias registrada no último ano.
Em relação à economia, a mesma tibieza. Haverá a possibilidade de
estender prazos de financiamento de setores mais afetados. Ou até de
repassar alguma ajuda para empresas que precisarem paralisar as
atividades.
Um ataque eficiente deveria envolver as Forças Armadas, unidas ao
esforço de distribuir camas de UTI por todo o país, convocação da rede
de saúde privada, articulação com empresas públicas com rede distribuída
– como os bancos, os Correios, a Receita.
No plano fiscal, enquanto economistas liberais, como André Lara
Rezende e Armínio Fraga, recomendam esquecer Lei do Teto, meta de
superávit primário, e ligar o motor o máximo que puder, Guedes fica
preso ao dilema que acompanha os pequenos gestores econômicos: não tem a
menor ideia sobre a dosagem adequada e os efeitos das medidas
necessárias sobre a economia.
Pior, há um tsunami se aproximando, e não é apenas o coronavirus. No
ano passado, houve um déficit de US$ 50 bilhões em transações correntes.
A crise atual jogará no chão preços de commodities, as exportações de
industrializados com profundas implicações no saldo comercial.
As pressões sobre o câmbio já se manifestaram criando um quadro
complicado: se a economia não se recuperar, não haverá condições das
empresas repassarem os aumentos de custos decorrentes da desvalorização
do real. Significará mais quebradeira. Se a economia mostrar o menor
sinal de recuperação, haverá repasse, inflação e, sem mudar o sistema de
metas inflacionárias, a retomada das altas da Selic.
Nossa...
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