A aprovação da condução da crise do novo coronavírus pelo Ministério
da Saúde disparou, e já é mais do que o dobro da registrada por Jair
Bolsonaro. Governadores e prefeitos também têm avaliação superior à do
presidente.
É o que revela pesquisa do Datafolha feita de quarta (1º) até esta
sexta (3). O levantamento ouviu 1.511 pessoas por telefone, para evitar
contato pessoal, e tem margem de erro de três pontos percentuais para
mais ou menos.
Na rodada anterior, feita de 18 a 20 de março, a pasta conduzida por
Luiz Henrique Mandetta tinha uma aprovação de 55%. Agora, o número
saltou para 76%, enquanto a reprovação caiu de 12% para 5%. Foi de 31%
para 18% o número daqueles que veem um trabalho regular da Saúde.
Já o presidente viu sua reprovação na emergência sanitária subir de
33% para 39%, crescimento no limite da margem de erro. A aprovação segue
estável (33% ante 35%), assim como a avaliação regular (26% para 25%).
Nessa duas semanas entre as pesquisas, Bolsonaro antagonizou-se com
Mandetta em diversas ocasiões. Contrariando a recomendação internacional
seguida pelo ministro, insistiu que o isolamento social não é medida
salutar para conter o contágio do Sars-CoV-2.
Chegou a fazer pronunciamento em rede nacional na semana passada para
fazer a defesa da abertura do comércio e foi pessoalmente visitar
ambulantes no entorno de Brasília. Após uma tentativa de enquadramento
por parte da ala militar do governo, modulou seu discurso e fez nova
fala, na terça (31), mais ponderada.
Na quinta (2), contudo, voltou a criticar Mandetta em entrevista.
Durante o período, panelaços contra o presidente se tornaram frequentes
em grandes cidades, o que se espelha na sua reprovação mais alta em
regiões metropolitanas: 46% de ruim ou péssimo.
Bolsonaro é mais mal avaliado por mulheres (43% de reprovação),
pessoas com curso superior (50%) e mais ricos (acima de 10 salários
mínimos mensais, 46%).
A erosão entre instruídos e mais abastados, antes bases
bolsonaristas, manteve o padrão da pesquisa anterior. Jovens (16 a 24
anos, 45% de ruim/péssimo) e ouvidos de 25 a 34 anos (47%) são os que
mais o rejeitam. A aprovação geral, ainda que não seja comparável
metodologicamente a pesquisas presenciais anteriores, vai em linha com o
suporte geral do presidente no eleitorado.
A sucessão de ordens e contraordens na gestão da crise cobra um
preço. Para 51%, Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda no combate ao
vírus. Pensam o contrário 40%.
O Datafolha voltou a aferir a aprovação de governadores e incluiu a
de prefeitos nesta pesquisa. O presidente está em pé de guerra com os
chefes estaduais desde que a crise eclodiu, e ameaça baixar um decreto
para romper o fechamento do comércio em locais como São Paulo.
Aprovam a gestão de seus governadores 58% dos brasileiros, ante 54%
da rodada anterior. Os reprovam os mesmos 16% e a avaliação regular caiu
de 28% para 23%. Já os prefeitos recebem ótimo e bom e 50%, 25% de
regular e 22% de ruim e péssimo.
A rejeição ao trabalho de Bolsonaro subiu mais entre moradores do
Sudeste (de 34% para 41%) e no Norte/Centro-Oeste (24% para 34%) —neste
caso, é notável a dissidência de um expoente da região, o governador
goiano Ronaldo Caiado (DEM), que rompeu com Bolsonaro na semana passada.
Ainda assim, essa região é a que melhor avalia (41% de ótimo/bom) o
presidente, juntamente com o Sul (39%), onde um governante aliado,
Comandante Moisés (PSL-SC), também deixou as hostes bolsonaristas.
O Nordeste se cristaliza como um centro de rejeição ao presidente
nesta crise, com a maior taxa de ruim e péssimo, 42%. Também por lá
acham que Bolsonaro mais atrapalha a gestão 57%.
Já as avaliações do desempenho dos governadores se mantiveram
alinhadas à tendência apontada há duas semanas, com o Nordeste (64%) e o
Norte/Centro-Oeste (61%) liderando o índice de satisfação.
Entre prefeitos, os da região Sul recebem ótimo ou bom de 58% de seus
moradores, ante 48% do Sudeste, 53% do Nordeste e 44%, do
Norte/Centro-Oeste. A maior insatisfação é nesta última região, 24%,
empatada com os 23% do Sudeste.
O embate entre governadores e o Planalto teve na altercação entre
João Doria (PSDB-SP) e Bolsonaro, na semana passada, um ponto alto. O
tucano, que é presidenciável para 2022, tem buscado estabelecer
diferenças de condução da crise em relação ao mandatário máximo.
Ele chegou a recomendar que os brasileiros não seguissem as
orientações do presidente sobre o isolamento social, e lançou uma
campanha pedindo para os moradores ficarem em casa. Segundo o Datafolha,
57% dos entrevistados concordam com Doria, ante 32% que acham que ele
está errado e 11%, que não sabem.
A maior aprovação à frase do tucano vem do Nordeste (65%), dos jovens
de 16 a 24 anos (66%) e dos mais ricos e instruídos (64%). Já ficam
mais do lado de Bolsonaro, ainda que minoritários, homens (38%) e quem
ganha de 5 a 10 salários mínimos (39%).
Por fim, outra novidade da pesquisa foi a inclusão da avalição do
Ministério da Economia, cujas medidas são fundamentais para atacar o
flanco da crise econômica que se antevê com o coronavírus.
A maioria dos ouvidos considera o trabalho da equipe de Paulo Guedes
ou bom e ótimo (37%) ou regular (38%). Para 20%, ele é ruim ou péssimo. A
maior aprovação vem de empresários (43%), e a pior, de funcionários
públicos (27%).
Acham a condução, que tem redundado em diversos conflitos entre a
pasta e o Congresso sobre a velocidade da implementação das medidas,
mais regular estudantes (55%) e trabalhadores assalariados sem registro
(49%).
PESQUISA FOI FEITA POR TELEFONE PARA EVITAR CONTATO
A pesquisa telefônica, utilizada neste estudo, procura representar o
total da população adulta do país, mas não se compara à eficácia das
pesquisas presenciais feitas nas ruas ou nos domicílios.
Por isso, apesar de aproximadamente 90% dos brasileiros possuírem
acesso pelo menos à telefonia celular, o Datafolha não adota o método em
pesquisas eleitorais, por exemplo.
O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização de
estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos. Além disso,
torna mais difícil o contato com os que não podem atender ligações
durante determinados períodos do dia, especialmente os de estratos de
baixa classificação econômica.
Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de sexo e
idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos
resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com
alguma cautela.
Na pesquisa divulgada nesta sexta-feira, feita dessa forma para
evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha
adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados se
aproximem ao máximo do universo que se pretende representar.
Todos os profissionais do Datafolha trabalharam em casa, incluídos os
entrevistadores, que aplicaram os questionários de suas casas através
de central telefônica remota.
Os limites impostos pela técnica telefônica não prejudicam as
conclusões pela amplitude dos resultados apurados e pelos cuidados
adotados.
Foram entrevistados 1.511 brasileiros adultos que possuem telefone
celular em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de
três pontos percentuais. A coleta de dados aconteceu do dia 1º ao dia 3
de abril de 2020.

Sem comentários.
Folha de SP
Registe-se aqui com seu e-mail



ConversãoConversão EmoticonEmoticon