Em meio à guerra contra o coronavírus (Covid-19), o presidente Jair
Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, têm travado uma
batalha pessoal. Os dois divergem sobre a melhor forma de enfrentar a
pandemia. Em uma conversa recente, Bolsonaro, defensor do fim do
isolamento total, confrontou Mandetta: “Só toma cuidado com uma coisa.
Você vai salvar o pessoal da gripe, mas vai matar o pessoal de fome.
Olhe para o que acontece na Venezuela”. Segundo o presidente, se a
quarentena recomendada pelo ministro se estender por mais alguns meses, o
Brasil poderá mergulhar em uma profunda crise econômica. Assessores que
presenciaram esse embate tentaram apaziguar os ânimos. Mas não
adiantou.
Na manhã desta quarta-feira, 8, Bolsonaro terá uma reunião com
Mandetta no Palácio do Planalto. O cargo do ministro da Saúde está por
um fio. Nos últimos dias, o presidente deu o aval para o deputado
federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania e candidato a
assumir o posto de Mandetta, para conduzir a interlocução do Palácio do
Planalto com uma equipe de médicos renomados e companhias do setor. O
parlamentar chegou a dizer para alguns empresários e governadores que o
ministro da Saúde poderia ser demitido a qualquer momento. Bolsonaro
também tem tido contato permanente com o diretor-geral da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, que tem
reportado os avanços dos estudos do uso da hidroxicloroquina para o
tratamento do coronavírus.
A insatisfação de Bolsonaro com Mandetta é anterior ao coronavírus. O
presidente estava decidido a trocar o seu subordinado, porque vinha
recebendo diversas acusações. Uma delas dizia que o ministro estava
utilizando a estrutura da pasta para impulsionar a sua campanha à
prefeitura de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Além disso, circulavam
entre os assessores de Bolsonaro um vídeo com denúncias que sugeriam,
sem qualquer prova, um negócio escuso no ministério da Saúde relacionado
ao desenvolvimento de um software para a implantação do programa de
telemedicina. Essas acusações voltaram a ser compartilhadas entre
bolsonaristas nos últimos dias.
No domingo passado, o presidente ameaçou demitir Mandetta. “(De)
algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se
achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas,
falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda, não.
Vai chegar a hora deles, porque a minha caneta funciona”, disse
Bolsonaro a um grupo de religiosos em frente ao Palácio da Alvorada.
“Não tenho medo de usar a caneta nem pavor. E ela ver usada para o bem
do Brasil”, afirmou.
Um dia depois desse recado, a queda de Mandetta começou a ser
especulada em Brasília – e ganhou força com as movimentações de Osmar
Terra para assumir a pasta. Pressionado pelas redes sociais, por
empresários e lideranças políticas, a tinta da caneta de Bolsonaro
falhou. O presidente decidiu recuar para evitar uma defecção maior de
seus apoiadores. Os dois conversaram e, por ora, resolveram dar uma
trégua. Em uma entrevista coletiva para a imprensa, o ministro não
escondeu a sua apreensão com o chefe, disse que seus assessores chegaram
a limpar as gavetas e pediu um ambiente de paz para trabalhar.
Bolsonaro, incomodado com a popularidade de seu subordinado, não gostou
das declarações. O embate, ao que tudo indica, continua.
Essa guerra vai até quando seu moço?
Veja
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