O esquema
envolvendo o pagamento do auxílio emergencial investigado pela Polícia
Federal no município de Aurora, na Região do Cariri do Ceará, fazia com
que os beneficiários furassem a fila para o recebimento do dinheiro,
pago em uma lotérica do município, uma vez que a cidade não tem agência
da Caixa Econômica. O Ministério Público Eleitoral recebeu denúncia de
que o esquema teria fins eleitoreiros, já que envolve políticos. Um dos
investigados é um vereador do município e outro um pré-candidato a
prefeito, informou a Polícia Federal, que não informou as identidades
dos suspeitos.
Segundo a
denúncia, um político intermediava os pagamentos realizados na lotérica,
entregando cheques aos beneficiados. A investigação tem como base um
áudio no qual supostamente o esquema é exposto.
A operação,
realizada pela Polícia Federal, em cooperação com o Ministério Público
Eleitoral, foi deflagrada nesta quinta-feira (21), e teve início após o
compartilhamento de áudios em redes sociais que detalhavam o esquema.
Pelo menos três pessoas são investigadas no caso, mas a PF não divulgou
os nomes. Ninguém foi preso.
Documentos levados à casa de político
Em um dos
áudios, um frequentador da igreja avisa aos "irmãos" que precisam sacar o
benefício do Governo Federal que podem levar seus documentos à casa de
um político da cidade, e que este providenciaria um cheque no mesmo
valor do benefício, emitido pela lotérica, a ser descontado na mesma
data prevista para o saque do auxílio pelo beneficiário.
Com isso, as
pessoas evitariam enfrentar a fila, e ainda o uso obrigatório da máscara
no local, determinado em decreto estadual devido à pandemia, explicou a
PF.
Lotérica é investigada
O delegado
Bruce Miller, que coordenou as investigações do caso, afirmou que foram
cumpridos mandados de busca e apreensão em quatro endereços, dois na
sede do município de Aurora e dois no distrito de Ingazeiras. Um destes
foi a lotérica envolvida no esquema.
Miller disse
que ainda não é possível confirmar se os cheques foram emitidos pela
lotérica, mas confirmou que "é o que consta nos áudios". O conteúdo dos
áudios não foi divulgado detalhadamente pela PF.
Questionado
sobre uma possível intenção de vantagem eleitoral por parte do dono da
lotérica, que seria pré-candidato no município, o promotor eleitoral de
Aurora, Luiz Conga, respondeu que a investigação ainda é inicial, e é
necessário analisar "os elementos técnicos que vão resultar da perícia
do cumprimento dos mandados de busca e apreensão".
"É direito de
todo cidadão que esteja com os requisitos da lei receber esse auxílio,
sem dever conta pra ninguém. É um direito dele, então quem está dentro
dos requisitos deve receber na forma prevista na lei. Nós estamos
acompanhando para que isso seja feito com a maior lisura possível",
ressaltou o promotor.
A lotérica
permanece funcionando normalmente, já que a cidade não possui agência
bancária e a população recebe os benefícios do governo através de
lotérica.
Se comprovada a irregularidade, os envolvidos podem responder por crime eleitoral.
“A questão da
corrupção eleitoral é um crime formal. A mera oferta, se comprovada, em
troca de voto ou qualquer outro tido, já é entendida. Nesse período de
pandemia, a população mais vulnerável se torna suscetível de aceitar
qualquer tipo de vantagem e essa vantagem eventualmente cria um vínculo
psicológico. E elas se sentem obrigadas a votar naquele que facilitou o
benefício”, esclareceu o delegado Bruce Miller.
Nossa...
G1/CE
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