Há duas semanas, um casal de namorados era brutalmente assassinado com
79 tiros de fuzil 556 e pistolas de diferentes calibres. O alvo, segundo
a Polícia, era Adair Brizola da Silva, 31 anos. Quatro homens saltaram o
portão de condomínio na Rua Emílio Jung, no Centro de Araricá, e
arrombaram o apartamento do jurado de morte por volta das 23 horas de 5
de junho. Depararam-se com o alvo e a namorada, a modelo e digital
influencer Caruel Quendi da Silva Barbosa, 24. Conversaram por um minuto
com o casal, que jogava videogame na sala, e abriram fogo. "É um caso
complexo, certamente relacionado ao crime organizado", declara o
delegado de Sapiranga, Fernando Pires Branco, responsável pela
investigação.
Sigilo
O delegado tem imagens do
prédio e pistas mantidas sob sigilo. "As câmeras captaram a dinâmica do
crime, como a movimentação dos executores, e também o áudio dos tiros,
mas não contribuem com a identificação." Além dos quatro que invadiram o
imóvel, conforme ele, havia mais um aguardando no carro." Para Branco, a
suspeita é de desavença no tráfico de entorpecentes.
Adair tinha antecedentes
por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e de moeda falsa. Era
de Sapiranga e morava há pelo menos quatro anos no apartamento alugado.
Caruel, de Campo Bom, não possuía qualquer passagem pela Polícia.
"Se é que o namorado fazia alguma coisa errada, acredito que a Caruel não sabia", diz pai
A jovem sonhadora das
redes sociais, com mais de 100 mil seguidores e prósperos negócios de
vendas, era filha única do casal Vilson, 56, e Isabel, 42. A ausência de
Caruel nos vídeos produzidos no quarto, nas conversas em família sobre o
futuro profissional, nos afagos aos três cachorrinhos da casa no bairro
Paulista, em Campo Bom, derrubaram o ânimo dos pais. "Em tudo que a
gente olha, ela está", comenta Vilson, que vai seguidamente à delegacia
para saber como está a investigação. "Por que fizeram isso com a nossa
filha?" Caruel tinha ensino médio concluído na Escola Técnica 31 de
Janeiro, no Centro da cidade, e estava radiante com o recém-conquistado
diploma de estética e maquiagem. Vendia cosméticos, era modelo e
garçonete. Juntava dinheiro para empreender um salão de beleza. Nas
redes sociais, ela se identificava como "Karuel". "Quando fui registrar o
nosso bebezinho queria com "k", mas o cartório não aceitou e ficou com
'c'. E ela gostava mais com 'k'".
Quem era a Caruel?
Vilson - Uma super filha,
que todo pai e mãe gostaria de ter. Nunca precisamos chamar a atenção de
nada. Um conselho e outro, claro, que ela sempre aceitava de bom grado.
Muito tranquila, querida, comunicativa e trabalhadora. Um orgulho para
nós.
No que ela trabalhava?
Vilson - Era muito ativa.
Sempre criando negócios. Ela estava vendendo cosméticos de uma marca
importada. O que ela anunciava vendia, pois tinha mais de 100 mil
seguidores nas redes sociais e era muito benquista. Também fazia fotos
como modelo para lojas, restaurantes e comércio. Também fez curso de
maquiagem, onde gastou R$ 5 mil. Há umas duas semanas tinha pego o
diplominha dela. Estava muito feliz. Já tinha clientes e fazia unha,
maquiagem em casa. O plano dela era juntar dinheiro para abrir um salão
de beleza. Era uma menina cheia de sonhos, que batalhava por eles. Para
ver a força de vontade e humildade dela, ainda trabalhava como garçonete
num sushi aqui em Campo Bom. Era das 5 da tarde à meia-noite, mas, por
causa da pandemia, não estava indo todos os dias. Ela gostava muito
desse serviço.
O que ela fez no dia do crime?
Vilson - Passou o dia com a
mãe dela trabalhando em lojas, fazendo fotos para divulgação. Nem
pareciam mãe e filha. Pareciam duas amigas. A mãe tirava as fotos. Já
tinha agenda cheia para o dia seguinte.
Como ela foi à casa do namorado à noite?
Vilson - Pois é. Ela não
ia lá durante a semana, porque passava ocupada nos trabalhos. Ia lá só
no fim de semana, mas muitas vezes ficava com a gente no sábado. O
namorado veio buscar ela e depois aconteceu o fato.
Sabe por que o namorado buscou ela?
Vilson - A gente não sabe.
Para nós, ela estava dormindo no quarto dela. Acontece que, quando ela
está em casa, a gente ficava tranquilo. Eram quase 21 horas. Vi ela no
quarto e fui dormir. A mãe dela dormiu assistindo filme no computador.
Pouco depois o namorado ligou dizendo que ia buscá-la. Para não nos
acordar, ela enviou mensagem para a mãe dela avisando e foi. Umas 23
horas, a mãe percebeu que não estava no quarto e viu a mensagem que
tinha saído. O carro dela ficou aqui na garagem.
Como vocês ficaram sabendo do crime?
Vilson - Quase à
meia-noite, uma irmã dele (do namorado) mandou mensagem para uma
sobrinha nossa, prima da Caruel, dizendo que tinham entrado no
apartamento e que estava indo para lá, sem contar detalhes. A sobrinha
nos avisou e fomos para lá. Chegamos e… terrível. Tudo isolado. Não
conseguimos entrar. Nossa filha estava lá daquele jeito…
Segundo a Polícia, o alvo era ele.
Vilson - Para nós, era um
rapaz bom, educado. Não tem como saber. E, se eu desconfiasse que estava
envolvido em alguma coisa e pedisse para a Caruel largar ele, talvez
não ia resolver. Ela poderia pegar as coisas dela e ir morar com ele.
Acredito que ela também não sabia. Se davam bem. Ele cuidava bem dela.
Ela gostava muito dele.
A Caruel nunca comentou ameaças, que sofria algum risco?
Vilson - Nunca. Ela sempre
conversava com a gente. Dizia tudo. Se é que o namorado fazia alguma
coisa errada, acredito que a Caruel não sabia. Porque minha filha era
muito honesta. Lá na delegacia, vi um recibo que ele tinha feito um
curso para operar em compra e venda de ações. Os policiais disseram que
era legal.
Como vocês estão lidando com a situação?
Vilson - Está difícil. Em
tudo que a gente olha dentro de casa, ela está. Quando vamos ao
quartinho dela, vemos os vídeos, fotos. Dá uma tristeza muito grande. Os
bichinhos estão tristes (três cachorros da casa). Parece que ficam
esperando ela para receber carinho. A gente está indo na psicóloga. Vou
duas, três vezes por semana à delegacia. A gente quer saber: por que
fizeram isso com a nossa filha?
Triste.
Jornal NH
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