Dando
continuidade à série de entrevistas ao vivo na TV Assembleia, a respeito do
Setembro Cidadão, na manhã desta segunda-feira (21) foi a vez da pauta
“Cidadania e Cultura”, em que foram discutidas as adaptações dos artistas e
produtores culturais para continuar trabalhando a cultura do Estado na
pandemia. Participaram do debate a diretora de produção da Orquestra Sinfônica
do Rio Grande do Norte, Tatiane Fernandes; a diretora Legislativa da ALRN,
Tatiana Mendes Cunha; a cineasta e produtora do Setembro Cidadão, Suerda
Morais; a jornalista e apresentadora da TV Assembleia, Cristiane Rodrigues; e o
mediador Gerson de Castro.
Iniciando os debates, Tatiane Fernandes falou da importância das
lives para o reconhecimento da arte no auxílio à saúde mental das pessoas.
“Desde que há registro da humanidade, há expressão artística do homem. E, nessa
pandemia, muitos de nós tivemos a nossa saúde mental mais equilibrada por causa
da arte. Mas isso não precisaria ser apenas nesse período. Infelizmente, fomos
treinados a cuidar do corpo e muito pouco treinados a cuidar da essência da
existência humana. E, sem a arte, nós perdemos parte do que somos em essência.
Mas a pandemia nos deixará esse legado de valorização da arte e
consequentemente da nossa essência”, destacou.
Na sequência, a diretora legislativa da Assembleia Legislativa
do RN, Tatiana Mendes, falou das mudanças que o isolamento social causou na sua
relação com a cultura. “Eu continuei trabalhando normalmente, mas deixei de
sair para ter lazer. E nesse aspecto as lives me ajudaram bastante. Elas foram
a verdadeira concretização de que Cultura é um direito humano, pois nós
passamos a perceber que não conseguimos viver sem ela. E infelizmente existe um
preconceito em relação a isso, porque as pessoas dão mais valor à Saúde,
Educação, Segurança. E nesse período de pandemia houve essa conscientização da
Cultura com direito, pois não houve nada mais marcante do que as lives ajudando
as pessoas a superarem mentalmente o isolamento social”, ressaltou.
O mediador Gerson de Castro indagou Suerda Morais sobre a área
de produção cultural durante as medidas de distanciamento e quais os desafios
para o pós-pandemia.
“O cinema, por exemplo, é a arte mais coletiva. E ele não é só
entretenimento; é também uma indústria que gera milhões de empregos. Então
quando eu olho para o cinema enquanto indústria, que já não era tão forte, com
a pandemia ele piorou. Eu fico imaginando como estão as pessoas que trabalhavam
nos bastidores. Mas as lives foram janelas abertas para que pudéssemos nos
reinventar e criar uma nova comunicação. E eu sei que iremos sair dessa. Quem
estava com seus projetos em andamento teve que dar uma parada, até porque não
tinha como sair para campo e filmar. Mas, diante de tudo que aconteceu, nós
vamos voltar ainda mais fortes. Se havia coisas que nos limitavam, a gente
aprendeu a ‘se virar’ e agora nós iremos pensar diferente. A gente com certeza
sai mais amadurecido para filmar e produzir conteúdo audiovisual”, detalhou a
cineasta e produtora.
Falando sobre os desafios enfrentados pelo jornalismo cultural,
Cristiane Rodrigues disse que foi preciso se reinventar e buscar alternativas
na internet e nas mídias sociais. “A gente também teve que procurar
alternativas, porque não tinha mais aquela equipe externa. Daí começamos um
garimpo nas redes sociais dos artistas e produtores culturais, para que
pudéssemos adaptar o nosso programa e mostrar um pouco do que estava
acontecendo. E eu até me surpreendi com a quantidade e a qualidade dos
projetos. Eu, sinceramente, não estou tendo dificuldades para colocar o
programa ‘Momento Cultural’ no ar”, contou.
A jornalista da TV Assembleia também falou da necessidade de dar
voz às campanhas de financiamento, que, segundo ela, contribuíram para o
sustento de muita gente.
“Essas campanhas pesaram muito para nós. Procurávamos mostrar as
lives dos artistas, claro, mas também demos visibilidade às campanhas de
financiamento coletivo, por exemplo, para lançamento de livros e para apoiar a
economia informal do beco da lama. Então nós procuramos pensar de que forma
poderíamos ajudar os artistas e produtores que de uma hora para outra perderam
o espaço colaborativo e criativo, que é a rua”, explicou.
Em seguida, Tatiane Fernandes abordou os projetos da Orquestra
Sinfônica do Estado durante e após a pandemia. “Quando veio o fechamento de
tudo em meados de março, nós estávamos com a temporada da orquestra marcada
para começar no dia 31 de março. Então tivemos que nos reinventar. E
conseguimos fazer um programa online. No primeiro episódio já tivemos um
público de 4 mil pessoas. E isso nos mostrou que nosso público presencial de
1.500 pessoas poderia ser muito ampliado”, disse.
Tatiane explicou que, além disso, foi lançado um concurso para
jovens instrumentistas. “Apesar das dificuldades, nós sabíamos que o estudo não
poderia parar. E agora em setembro estamos fazendo um concurso internacional de
canto, que teve 258 inscrições e conta com 60 jurados, de 12 países. Fora
outros projetos que estão sendo preparados. Então a gente se reinventou em
muita coisa”, concluiu.
Dando continuidade ao debate, Suerda Morais respondeu à pergunta
do mediador: “Você acha que a pandemia vai ser tema de filme?”.
“Eu não tenho a menor dúvida de que, quando virar a década, nós
teremos filmes e documentários por todo o mundo contando as histórias da
pandemia. É claro que já houve outras pandemias, mas essa nos trouxe uma série
de aprendizados. Por exemplo, a natureza. Durante esse tempo que ela ficou
livre de ação humana, ela se recuperou bastante. Outra coisa: as pessoas viviam
dentro de shopping. Mas com a pandemia nós percebemos que podemos viver sem
estar consumindo o tempo inteiro”, opinou.
Com relação às dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores da
Cultura no Rio Grande do Norte, Suerda disse que “a batalha é diária e imensa.
Aqui no RN a gente ainda luta muito para produzir, em todos os setores. Somos
verdadeiros guerreiros. Um exemplo disso é o Teatro Alberto Maranhão fechado.
Eu acho que os empresários precisam incentivar mais a cultura. Nós contamos com
o apoio do Legislativo também, na implantação de regras de incentivo e
financiamento, por exemplo, porque se os artistas, produtores e pessoal dos
bastidores não tiverem essa receptividade vai ficar muito difícil”, alertou.
Já a respeito do reconhecimento da cultura como atividade
econômica, Tatiane Fernandes disse que existem estudos europeus e asiáticos
sobre o potencial econômico da Cultura.
“O K-pop, por exemplo, estilo musical da Coreia do Sul, leva
milhares de pessoas todo ano para lá. E os investidores precisaram apostar e
investir na Cultura para perceber o seu valor econômico. Nos Estados Unidos, o
cinema e a indústria bélica se ajudam mutuamente. É por isso que os filmes
tratam muito de violência, mostrando armas, explosões em larga escala etc. E eu
espero que no Brasil também haja esse reconhecimento”, externou a produtora.
Tatiane acrescentou esperar que a população brasileira reconheça
que antes da pandemia não se vivia de modo normal. “Havia uma sociedade
anômala. Por isso eu acho que precisamos construir uma coletividade que entenda
o verdadeiro potencial econômico da Arte e da Cultura”.
Por fim, a diretora legislativa Tatiana Mendes falou da
importância do Estado cumprir seu papel de incentivador cultural perante a
população. “Nós temos investimento em Cultura, mas é muito pouco e sempre o que
sobra da Saúde, Educação, Segurança. E não pode ser assim. É preciso ter
políticas consistentes para essa área. Hoje em dia, por exemplo, muita gente
tem acesso fácil à internet, mas não é todo mundo. Então o Estado deve pensar
em modelos que levem a Cultura também para as populações mais pobres. Eu acho
que nesse momento pós-pandêmico não é preciso só pensar em fortalecer a Cultura
enquanto direito, mas prover o acesso universal”, finalizou.
A próxima e última live da série “Setembro Cidadão Entrevista”
acontece no dia 28 deste mês, abordando detalhadamente o projeto Setembro
Cidadão. Participarão da transmissão a advogada Lígia Limeira, idealizadora do
projeto; o diretor da Escola da Assembleia Legislativa, professor João Maria de
Lima; a diretora de comunicação institucional do Legislativo Potiguar, Marília
Rocha; e, novamente como mediador, o jornalista e gerente executivo da TV
Assembleia, Gerson de Castro.
Setembro
Cidadão
O projeto Setembro Cidadão, idealizado pelo juiz Jarbas Bezerra
e a advogada Lígia Limeira, é regulamentado pela Lei Complementar nº 494/2013,
a qual, além de instituir o mês da cidadania (Setembro Cidadão), criou o 10 de
Setembro como sendo o Dia Estadual da Educação Cidadã.
À época, o programa foi objeto de Proposta de Lei Complementar
enviada ao Governo do Estado, tendo sido submetida e aprovada à unanimidade
pela Assembleia Legislativa do RN.
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