A caminho de casa, por volta das 19h, o médico intensivista Thales
Stein, de 38 anos, refletiu: hoje foi o pior dia de sua carreira. Doze horas
antes, Stein, que dirige o Hospital Nilton Lins, começou a receber ligações de
pessoas apelando por leitos para seus parentes, que estão em casa cuidando de
parentes com Covid-19. Os 400 leitos da unidade particular, porém, estão
lotados. E os cilindros de oxigênio estão prestes a acabar — sua reserva não
deve durar mais de uma semana.
— Todos os
dias recebo pedido de leitos. Às vezes há um disponível e, quando ligo para a
família, descubro que o paciente já morreu — lamenta. — Como posso julgar quem
salvar, quem merece viver? É uma sensação de impotência. A Covid-19 mudou, está
evoluindo mais rápido. Estamos vendo um altíssimo número de óbitos em pessoas
de 40 e 50 anos, isso não acontecia antes. Só havia complicações entre pessoas
com doenças pré-existentes. O número de jovens internados também cresceu
bastante.
Faça o teste: Qual é o seu lugar na fila da vacina?
Questionada pelo repórter sobre como é sua rotina, a estudante de
enfermagem Hanna Maria Gomes, 21, adverte.
— Olha, vou chorar.
E chora.
Em dezembro — "se a pandemia deixar" — Gomes completará
seu curso. A estudante, porém, já está no front da batalha contra a pandemia.
Reveza-se entre três hospitais, mas em todos experimenta as mesmas frustrações.
— Os pacientes precisam de água e comida, mas não conseguem beber ou engolir. Estão cansados, pedem para aumentar o oxigênio. Nossas equipes estão adoecendo, sobrecarregadas e cansadas. Há profissionais de diversas áreas que querem nos ajudar, mas não podemos permitir porque pertencem a grupos de risco.
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