De saída do governo federal, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou que foi vítima de uma “narrativa falsa e hipócrita” sobre a atuação para obter vacinas, o que causou sua demissão da pasta nesta 2ª feira (29.mar.2021).
“Ergueu-se contra mim uma narrativa falsa e hipócrita, a serviço de interesses escusos nacionais e estrangeiros, segundo a qual a minha atuação prejudicaria a obtenção de vacinas. Exibi todos os fatos que desmentem tais alegações, mas infelizmente, neste momento da vida nacional, a verdade não importa para as correntes que querem de volta o poder”, declarou.
A declaração está na carta que o chanceler endereçou ao presidente Jair Bolsonaro para entregar o cargo. No texto, Araújo afirma que se deparou com “correntes frontalmente adversas”. “Desse choque, –do qual não posso recuar sem renunciar aos princípios que com o senhor compartilho– surgiu nesses últimos dias uma situação que me torna impossível seguir trabalhando por nossos ideais na posição que neste momento ocupo”, disse.
Nos últimos dias, cresceu a pressão pela demissão de Ernesto Araújo. Senadores pediram a renúncia do chefe do Itamaraty na semana passada. No mesmo dia, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criticou a política externa brasileira em discurso em uma sessão da Casa.
No sábado (27.mar), um grupo de ao menos 300 diplomatas do Itamaraty escreveu uma carta com críticas a Ernesto Araújo. No domingo (28.mar.2021), Araújo se indispôs com o Senado depois de declarar que senadores o poupariam de ataques se ele apoiasse a adoção de tecnologia chinesa para a internet 5G no Brasil.
O chanceler disse que a presidente da Comissão das Relações Exteriores no Congresso, Kátia Abreu (PP-TO), pediu a ele um “gesto” em relação ao 5G. A congressista teria afirmado que isso faria dele “o rei do Senado”. A senadora rebateu e disse que o ministro age de “forma marginal”.
Vários senadores criticaram a declaração de Araújo. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que a fala do chanceler foi um “grande desserviço”.
Leia a carta de demissão:
No início do mês, Araújo afirmou que há um “esforço deliberado” de opositores do governo para prejudicar a imagem do Brasil no exterior e disse algumas correntes políticas tentam criar uma “obra de ficção” para ser “vendida como a realidade do Brasil”.
Também no começo de março, o chanceler disse a norte-americanos que o aumento de mortes por covid-19 em meio à vacinação contra o coronavírus é “normal” e que o sistema de saúde brasileiro “está conseguindo suportar bem” a pandemia. A declaração foi dada no mesmo dia em que a Fiocruz anunciou o colapso do sistema de saúde, com o pior momento em termos de ocupação de UTIs.
Na carta de renúncia, Araújo afirma que lutou “desde o início pela liberdade e dignidade do Brasil e do povo brasileiro”. “A verdade liberta e a mentira escraviza. Hoje, a mentira é despudoradamente utilizada para um projeto materialista que visa escravizar o Brasil e os brasileiros”, disse.
CARLOS FRANÇA SUBSTITUI
O diplomata Carlos Alberto Franco França substituirá Ernesto Araújo e será o novo ministro de Relações Exteriores. França é assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência e já chefiou o cerimonial da Presidência da República. Apesar de ser diplomata de carreira, nunca foi embaixador no exterior nem ocupou cargos de chefia no Itamaraty.
OUTRAS TROCAS
Nesta 2ª feira (29.mar.2021), houve 6 trocas na Esplanada. Foram feitas mudanças nos ministérios da Casa Civil, Justiça e Segurança Pública, Defesa, Relações Exteriores e AGU (Advocacia Geral da União).
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