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* “Pedreira gata” quer ser a influencer da construção.

Nae casa de um cômodo, logo na entrada de Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo, Jessica Mayra, 28 anos, mostra a parede do quarto pintada em tom de vermelho escuro com brilho dourado. “Essa cor foi criada por mim”, diz, antes de mostrar arte parecida na parede do banheiro.

“Eu queria uma tinta que lembrasse barro seco”, conta ao explicar o tom da tinta sobre o cimento texturizado, também de sua autoria. Além das criações com tintas, Jessica conta ter erguido as paredes e ornado o teto com gesso e luzes coloridas da casa onde mora com a filha de 3 anos, construída sobre uma laje.

O trabalho com obras começou aos 13 anos, quando Jessica carregou sacos de material de construção para a vizinha que construía uma escada. “Queria comprar um tênis da Adidas, mas minha mãe não tinha dinheiro para me dar e ainda soltou um palavrão quando eu pedi. Comecei a catar material reciclável em um terreno baldio, mas o dinheiro não foi suficiente. Vi que a vizinha precisava de ajuda e fui para cima. Meu primo ajudou, mas desistiu no segundo saco de cimento e eu continuei”, conta.

O apelido “Pedreira gata”, que virou sua marca, veio recentemente, quando ela começou a postar vídeos na internet com dicas de acabamento em obras. “Os seguidores me deram esse apelido”, diz ela, e explica que o “gata”, mais do que um elogio, é um termo usado na construção referente a quem consegue o serviço e subcontrata outros profissionais para ajudar.

Apesar da estatura pequena, Jessica diz conseguir levantar até 75 quilos de material, bem mais do que os seus 53 quilos, e quer atrair mais mulheres para o ramo. “As mulheres têm mais atenção aos detalhes e ao acabamento. Quero ensinar elas a construir suas casas como eu construí a minha.”

A ajuda para aprender as técnicas e lidar com os materiais sempre veio de sócios e colegas de obra. Apesar de serem pedreiros profissionais, o pai e o irmão nunca trabalharam com ela. “Quando comecei a trabalhar, meu pai me disse que essa não era a profissão que ele tinha pensado para mim. Minha mãe também não entendeu no começo, mas agora aceita.”

Criada em Paraisópolis, ela conta que tem a veia empreendedora desde criança, quando vendia bolinhas de gude aos amigos da rua que perdiam nas apostas, e emprestava ao pai o dinheiro da mesada com juros. “Eu queria ter tido aulas de educação financeira. Se tivesse esse tipo de informação nas comunidades, não estaríamos passando por tudo isso”, diz ela sobre as dificuldades financeiras enfrentadas durante a pandemia.

Depois de passar meses vivendo de alguns bicos, Jessica agora comemora a retomada da sua agenda. “Estou na correria para ser rica e ajudar o próximo”, diz ela, com bom humor.

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