No fim de 2019, o hacker Marcos Roberto Correia
da Silva foi preso pela primeira vez, em Uberlândia (MG), por atacar sites
governamentais e aplicar golpes de internet. Foi pego enquanto visitava um
amigo, mas se preocupou menos com o constrangimento e mais com a repercussão do
fato. A todo tempo, com entusiasmo, perguntava aos policiais quando teria o
nome e a imagem estampados. A publicidade dos feitos reforça a reputação de
cibercriminosos como VandaTheGod, como é conhecido, e a divulgação - que não
ocorreu - seria uma espécie de prêmio às avessas.
A propaganda que o jovem não obteve há um ano e meio agora
lhe foi dada por um deputado bolsonarista interessado em usá-lo para colocar em
xeque a credibilidade das urnas eletrônicas. Filipe Barros (PSL-PR) mandou uma
equipe ao presídio Professor Jacy de Assis, em Minas, para que o hacker falasse
para as redes sociais sobre as supostas habilidades capazes de derrotar a
Justiça Eleitoral.
O vídeo
enfeitado com trilha de suspense e com a indicação de ser "bombástico"
foi visto 500 mil vezes. Reproduzido por canais e sites bolsonaristas como
suposta prova de fragilidade das urnas, ele é repleto de informações falsas e
enganosas. Fontes com acesso às investigações a que ele responde garantem que
suas capacidades são muito menos sofisticadas do que o jovem quer fazer
parecer.
Marcos
Roberto foi perguntado se com tempo e estrutura conseguiria "invadir o
sistema eleitoral". Algemado, afirmou: "conseguiria". E disse
que poderia inserir votos artificialmente em servidores: "manipularia
tudinho". Há anos a Justiça Eleitoral usa tecnologia de ponta e recebe
especialistas para testes públicos de segurança. Nenhum atestou o que Marcos
declarou.
Com 25
anos, o jovem até pouco tempo usava um velho notebook Samsung e morava com uma
companheira no assentamento Glória, na área de Uberlândia. Sem formação
acadêmica, aprendeu sozinho a interagir com computadores e a programar. O vídeo
foi ao ar em 16 de julho, dia em que Filipe Barros por pouco não amargou uma
derrota. Perto de ver a proposta do voto impresso ser sepultada na comissão
especial, ele e os governistas adiaram a análise até agosto. O presidente Jair
Bolsonaro tem insistido que a urna eletrônica é passível de fraude.
No dia em que foi gravado pela equipe do deputado, o hacker contou ter sido chamado para conceder "entrevista a uma empresa de cibersegurança". O jovem foi levado ao cartório da prisão, onde duas pessoas o aguardavam com câmera. Uma terceira fez perguntas por meio do celular de um dos presentes.
Os advogados do hacker tomaram ciência da gravação só após ela ir ao ar. Para eles, houve claro prejuízo à defesa e às garantias do preso, uma vez que o rapaz foi submetido a um contexto que pode implicá-lo em processos a que responde sem que tenha tido orientação técnica. "O deputado usou o Marcos como boneco de manobra política", diz o advogado André Coura.
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