O Centrão tem feito, apesar de tardiamente, acenos públicos de apoio ao sistema eleitoral nos últimos dias. Na prática, o movimento faz parte de um jogo duplo, uma estratégia típica do bloco quando não tem certeza absoluta se apostou no "cavalo certo": apoia Bolsonaro mas, como existe o dayafter – e eles não sabem se será Lula ou Bolsonaro –, melhor fazer movimentos que indiquem que a interlocução com o "outro lado" não estará interditada em caso de derrota do presidente.
Dono do
partido pelo qual Bolsonaro vai concorrer à reeleição, Valdemar disse a Fachin
– alvo de reiterados ataques do presidente – que confia na Justiça Eleitoral. E
mais: que é totalmente contra o voto impresso, uma das bandeiras do presidente.
O objetivo do
PL, repete Valdemar a integrantes do Judiciário, é fazer bancada no Congresso.
Traduzindo: a prioridade do Centrão é ter poder, como sempre, no Congresso
Nacional.
Na quarta,
Lula mudou o tom e, pela primeira vez, também acenou a Arthur Lira. Em
entrevista ao UOL, disse que quem precisa do presidente da Câmara é o
presidente da República – e que o presidente da República não deve interferir
na escolha pelo comando da Mesa Diretora.
Lira, nos
bastidores, não acredita nessa fala de Lula. Mas, por uma coincidência, também
na quarta – após nove dias em silêncio – disse que confia no sistema eletrônico. Lira fez o discurso ao
lado de Bolsonaro e dias depois de participar da convenção que oficializou Bolsonaro candidato. No evento do domingo,
Lira vestiu a camisa de Bolsonaro. Na quarta, assoprou: fez o discurso de
defesa das urnas ao lado de Bolsonaro, que permaneceu olhando para a mesa.
Mas por que esses movimentos
acontecem agora?
É consenso na
campanha de Bolsonaro que o presidente é o responsável pela "onda
errada" que domina o noticiário há semanas: a reunião com embaixadores. A partir dali, as reações
de diferentes autoridades, incluindo base do presidente como militar, Abin, PF
– reagiram com contundência aos ataques do presidente.
Mais
recentemente, aumentou a pressão sobre os que ainda não haviam se posicionado –
pois uma articulação por parte de empresários, juristas, artistas e outras
personalidades públicas, em torno de cartas de apoio à democracia, conseguiu a adesão de 230
mil assinaturas e conta com nomes de peso do mercado como Walter Schalka,
Roberto Setúbal, Pérsio Árida, entre outros.
Uma segunda é
pilotada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) –
que, na gestão Paulo Skaf, apoiou o impeachment de Dilma Rousseff (PT) – e que
conta com o apoio da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O comitê de
campanha de Bolsonaro sentiu tanto o manifesto que prepara, como resposta,
outros documentos de apoio ao combate a corrupção e contra a inflação.
O Centrão,
como gosta de lembrar um de seus principais caciques, apoia o mandatário – mas
desde que haja reciprocidade. Na política, isso significa conseguir acesso ao
poder ilimitado por meio de verbas, cargos, espaços e pautas. g1
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