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* Pacientes de médico preso mostram deformações após plásticas.

 Fernanda Almeida, de 24 anos, sempre sonhou em colocar silicone. Queria ostentar seios fartos, “bem com cara de silicone mesmo”, como faz questão enfatizar. Trabalhava como vendedora em 2020, e juntou cada salário, cada comissão e ainda fazia bolo de pote para aumentar a renda e realizar o sonho do silicone próprio.

“Sabe o que é não gastar com nada? Não comprei roupa de Natal, de Ano Novo, não saía, nada. Tudo para juntar dinheiro para a cirurgia”, diz ela, sobre os R$ 8,1 mil cobrados pela cirurgia no Hospital Santa Branca, do cirurgião plástico Bolívar Guerrero Silva – preso esta semana sob suspeita de manter uma paciente em cárcere privado, segundo a polícia.

A realização do sonho veio em janeiro de 2021. Ocorreu tudo bem na cirurgia, e Fernanda teve alta no mesmo dia. Mas, com o passar do tempo, achou os seios meio tortos. Ouviu que deveria esperar, que o local estava inchado e o resultado iria melhorar. Ela reclamou do resultado e ouviu que poderia fazer um retoque, mas, para isso, deveria pagar mais R$ 3,1 mil.

O tratamento também mudou. Foi mais rude, impaciente, com direito a ouvir: “Essa aí tá gostando de fazer cirurgia”, de uma anestesista. O retoque não melhorou a situação. O peito até subiu, deixou de ficar caído, mas ficou um mais alto do que o outro. A auréola do seio também ficou uma mais cortada do que a outra e em sentidos diferentes, uma mais acima.

“Fiquei horrível, com uma cicatriz horrorosa, além de ter tido problemas nos pontos, que abriram e não paravam de sair líquido. Foi um dinheiro jogado fora. Sonhava em ostentar um decote e, hoje, ando mais tapada do que antes da cirurgia. Tenho vergonha”, diz.

Vergonha também é o que sente a dona de casa Ana Cláudia Pedrosa Rodrigues, de 49 anos. Do sonho de transformar o corpo, ela quase perdeu a vida e teve o umbigo, a barriga e a região do baixo ventre deformados. “Sempre fui gordinha, mas queria ser ajeitadinha, ficar bonita. Mas em vez disso, fiquei sem umbigo, minha barriga é deformada, dura, e desenvolvi uma série de problemas, inclusive psicológicos, de ansiedade, diz.

Ana Cláudia operou com Bolívar Guerrero em 2019. Foi fazer abdominoplastia e as mamas. Mas, quatro dias depois, já em casa, começou a passar mal, gritando de dor. Teve convulsão, foi levada para um UPA, onde foi constatada uma infecção generalizada.

Foi parar no CTI, onde teve duas paradas cardíacas. A hospitalização durou três meses, com muita dor, dificuldade para fechar o abdômen e com parte da pele necrosada. “Fiquei muito arrependida, com sequelas e faço acompanhamento neurológico até hoje. Já pensei em operar para tentar melhorar, fazer outro umbigo, mas prefiro não mexer em mais nada”, diz ela que é uma das oitos ex-pacientes que esteve na Delegacia da Mulher para depor contra o médico.

A prisão do médico

Bolivar foi preso na última segunda-feira (18), quando estava dentro do centro cirúrgico do Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias. Segundo a polícia, ele mantinha uma mulher em cárcere privado depois que ela teve complicações depois de uma cirurgia de abdominoplastia e está em estado grave.

Erros médicos.

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