O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu nesta quarta-feira (19) lideranças de igrejas evangélicas. No encontro, que ocorreu em um hotel na cidade de São Paulo, foi lida uma carta de Lula ao eleitorado evangélico (leia a íntegra ao final desta reportagem).
A leitura do documento foi feita por Gilberto Carvalho, ex-ministro da
Secretaria-Geral da Presidência.
Na carta, Lula diz que:
- no período que governou o Brasil, manteve o
'mais absoluto' respeito à liberdade religiosa;
- assinou leis e decretos que asseguram a
prática religiosa no país;
- mentiras a seu respeito tentam gerar 'medo'
nas pessoas de boa-fé;
- nunca houve risco ao funcionamento das igrejas
enquanto presidiu o país;
- se eleito, não vai criar 'obstáculos' ao livre
funcionamento de templos;
- vai estimular parcerias com igrejas;
- é um 'escândalo' o uso da fé para fins
eleitorais;
- assume compromisso para fortalecer famílias e
combater as drogas;
- é 'pessoalmente' contra o aborto e que não
cabe ao presidente, mas ao Congresso decidir sobre o tema;
- o
povo brasileiro está em 'desespero' e precisará do apoio das igrejas para
reverter situação.
A elaboração da carta contou com a articulação da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que é da Igreja Assembleia
de Deus.
O texto não faz referência ao adversário de Lula na disputa
presidencial, Jair Bolsonaro (PL).
Em um dos momentos, o petista afirma que "de nada adianta se dizer
defensor da família e ao mesmo tempo destruí-las pela miséria, pelo desemprego,
pelo corte das políticas sociais e de moradia popular".
Busca do voto evangélico
Lula chegou ao hotel em que o ato ocorreu por volta das 10h e foi
recebido pelos religiosos com aplausos e músicas. Um pastor fez uma oração na
abertura do encontro.
A 11 dias do segundo turno da eleição presidencial, o candidato do PT
tenta conquistar votos dentro do eleitorado evangélico. De acordo com as
pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro tem ampla maioria no segmento.
Levantamento feito pelo instituto
Ipec divulgado na última segunda-feira (17) aponta que o
candidato do PL à reeleição tem 60% das intenções de voto no eleitorado
evangélico, enquanto Lula tem 32%.
Parlamentares evangélicas acompanharam Lula no encontro com os
religiosos. Estavam presentes, por exemplo, a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), a deputada reeleita Benedita da Silva (PT-RJ) e a senadora Eliziane Gama.
Geraldo Alckmin (PSB), que concorre a vice na chapa de Lula, e o
candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, também compareceram à reunião.
Durante a campanha, de olho no voto cristão, Lula afirmou, mais de uma
vez, que é contra o aborto. E que cabe ao Congresso o papel de discutir eventuais mudanças na legislação em
vigor sobre o tema.
Íntegra
Leia a íntegra da carta pública de Lula ao povo evangélico, divulgada
pela campanha do petista:
Carta compromisso com os evangélicos
Meus Amigos e Minhas Amigas, nesta reta
final do segundo turno, decidi escrever esta Carta Pública ao Povo Evangélico.
A grande maioria dos brasileiros e
brasileiras que viveram os oito anos em que fui Presidente da República, sabe
que mantive o mais absoluto respeito pelas liberdades coletivas e individuais,
particularmente pela Liberdade Religiosa.
Como todos devem se lembrar, no período
de meu governo, tivemos a honra de assinar leis e decretos que reforçaram a
plena liberdade religiosa. Destaco a Reforma do Código Civil assegurando a
Liberdade Religiosa no Brasil, o Decreto que criou o dia dedicado à Marcha para
Jesus e ainda o Dia Nacional dos Evangélicos.
Mantenho o mesmo respeito e o mesmo
compromisso que me motivou a apoiar essas conquistas do povo evangélico.
E o nosso Povo sabe também que cuidei,
com especial carinho, dos mais pobres e injustiçados e assim, sob as Bênçãos de
Deus, meu governo contribuiu para melhorar a vida de milhões de famílias
brasileiras. Sempre penso, neste sentido, no trecho bíblico que diz: “a
verdadeira religião é cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades…”
(Tiago, 1,27)
Vivemos, entretanto, um período em que
mentiras passaram a ser usadas intensamente com o objetivo de provocar medo nas
pessoas de boa fé, e afastá-las do apoio a uma Candidatura que justamente mais
as defende. Por isso senti a necessidade de reafirmar meu compromisso com a
liberdade de culto e de religião em nosso País.
Todos sabem que nunca houve qualquer
risco ao funcionamento das Igrejas enquanto fui Presidente. Pelo contrário! Com
a prosperidade que ajudamos a construir, foi no nosso Governo que as Igrejas
mais cresceram, principalmente as Evangélicas, sem qualquer impedimento e até
tiveram condições de enviar missionários para outros países.
Não há por que acreditar que agora
seria diferente. Posso lhes assegurar, portanto, que meu Governo não adotará
quaisquer atitudes que firam a liberdade de Culto e de Pregação ou criem
obstáculos ao livre funcionamento dos Templos.
Envio-lhes esta mensagem, portanto, em
respeito à Verdade e ao apreço que tenho a esse Povo crente no Verdadeiro Deus
da Misericórdia e a seus dedicados pastores e pastoras.
Se Deus e o povo brasileiro permitirem
que eu seja eleito, além de manter esses direitos, vou estimular sempre mais a
parceria com as Igrejas no cuidado com a vida das pessoas e das famílias
brasileiras.
Sei muito bem que em todas as regiões
do Brasil há Igrejas com Irmãos e Irmãs que trabalham ativamente nas suas
comunidades com a propagação do Evangelho e com o cuidado do povo, dedicando-se
a tornar mais leve os fardos espiritual e social de milhões de pessoas.
Declaro meu respeito e minha admiração
pela fé, dedicação e amor com que os evangélicos realizam sua missão, seja na
área da difusão do evangelho, seja na área da assistência social, proteção da
infância, da juventude, das mulheres, dos idosos e das pessoas com deficiência.
Da mesma forma é bem-vinda a participação de Evangélicos nas diversas formas de
participação social no Governo, como Conselhos Setoriais e Conferências
Públicas.
Em meio a este triste escândalo do uso
da Fé para fins eleitorais, assumo com vocês este compromisso: meu Governo
jamais vai usar símbolos de sua Fé para fins político-partidários, respeitando
as leis e as tradições que separam o Estado da Igreja, para que não haja
interferência política na prática da Fé.
Esse é um ensinamento que a própria
Bíblia nos dá: andar pelo caminho da Paz com todos. Jesus nos mostra que a casa
dividida não prospera. A religião é para ser respeitada e vivida de acordo com
a livre escolha de cada pessoa.
Portanto, a tentativa de uso político
da fé para dividir os brasileiros não ajuda ninguém, nem ao Estado, nem às
igrejas, porque afasta as Pessoas da mensagem do Evangelho. Jesus Cristo nos
ensinou Liberdade e paz, respeito e união, disso precisamos. E os cristãos
evangélicos têm dado mostras, ao longo da História, de seu compromisso com a
paz, seguindo o que Jesus ensinou: “Dai a César o que é de César, dai a Deus o
que é de Deus” (Mateus, 22,21).
Outro compromisso que assumo:
fortalecer as famílias para que os nossos jovens sejam mantidos longe das
drogas. Nós queremos nossa Juventude na escola, na iniciação profissional,
realizando atividades esportivas e culturais para que tenham mais oportunidades
e exerçam cidadania de forma produtiva, saudável e plena.
O respeito à família sempre foi um
valor central na minha vida, que se reflete no profundo amor que dedico à minha
esposa, aos meus filhos e netos. Por isso compreendo o lugar central que a
família ocupa na fé cristã.
Também entendo que o lar e a orientação
dos pais são fundamentais na educação de seus filhos, cabendo à escola
apoiá-los dialogando e respeitando os valores das famílias, em a interferência
do Estado.
A preocupação com as Famílias
Brasileiras deve ser integral. O povo brasileiro está numa condição de
desespero, e precisaremos muito da ajuda das Igrejas para, o quanto antes,
reverter esta situação. De nada adianta se dizer defensor da Família e ao mesmo
tempo destruí-las pela miséria, pelo desemprego, pelo corte das políticas
sociais e de moradia popular.
Queremos dar às famílias, prosperidade
e segurança. O Lar é a garantia de proteção. É inaceitável que milhões de
brasileiros e brasileiras não tenham um teto. Por isso, vamos retomar o
vitorioso programa Minha Casa Minha Vida, com toda intensidade, para que todas
as Famílias brasileiras tenham uma casa onde possam viver com segurança e
dignidade.
Nosso governo implementará políticas
públicas consistentes para que nenhuma família brasileira enfrente o flagelo da
fome. Sobretudo, não pouparei esforços para que possam adquirir os necessários
e suficientes meios, para viver dignamente por seu trabalho, sem ter que
depender da ajuda do Estado.
Nosso Projeto de Governo tem
compromisso com a Vida plena em todas as suas fases. Para mim a vida é sagrada,
obra das mãos do Criador e meu compromisso sempre foi e será com sua proteção.
Sou pessoalmente contra o aborto e lembro a todos e todas que este não é um
tema a ser decidido pelo Presidente da República e sim pelo Congresso Nacional.
Meus Queridos e Minhas Queridas, peço
que recebam essas palavras como uma demonstração de meu desejo sincero de
servir, de ajudar e trabalhar pelo bem de nosso país. E estejam certos de minha
estima e meu compromisso com todo o povo cristão de nosso país. Reitero meu
compromisso, que é o mesmo de vocês: paz, união e fraternidade entre todos os
brasileiros e brasileiras.
Com as bênçãos de Deus, haveremos de
honrar nossa dupla condição, de cidadãos e cristãos, pois não há contradição
entre elas quando o propósito é servir, buscando a paz e o entendimento. E digo
tudo isso com muito amor pelo nosso querido Brasil e pelo Povo Brasileiro:
“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes Amor uns pelos
outros!” (João,13,35). g1
JUNTOS PELO BRASIL!
Luiz Inácio Lula da Silva
São Paulo, 19 de outubro de 2022.
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