O
governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta
segunda-feira, em entrevista à CNN, que nunca foi "bolsonarista
raiz", comunga principalmente das ideias econômicas do governo de Jair
Bolsonaro (PL) e não vai entrar em "guerra ideológica e cultural".
— Eu nunca
fui bolsonarista raiz. Comungo das ideias econômicas principalmente desse
governo Bolsonaro. A valorização da livre iniciativa, os estímulos ao
empreendedorismo, a busca do capital privado, a visão liberal. Sou cristão,
contra aborto, contra liberação de drogas, mas não vou entrar em guerra
ideológica e cultural — afirmou o ex-ministro da Infraestrutura à CNN.
Tarcísio
tem sido alvo de críticas por parte de bolsonaristas, que acusam o governador
eleito pelo Republicanos de entregar o governo para Gilberto Kassab, presidente
nacional do PSD, e antigos aliados do Ministério da Infraestrutura. O único
aceno recente em direção à base foi o anúncio do deputado federal Capitão
Derrite (PL) para a Secretaria da Segurança de São Paulo.
Como mostrou O GLOBO, o governador eleito já
sinalizou apoio ao deputado estadual André do Prado (PL) para a sucessão da
Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) sem mesmo consultar seu próprio
partido. Nomes como o deputado Gil Diniz (PL), um dos principais apoiadores de
Bolsonaro na Casa, foram ignorados por Tarcísio, que deve optar pelo principal
interlocutor de Valdemar Costa Neto na assembleia paulista.
Elogios a
Barroso
À CNN, Tarcísio ainda fez críticas
a Bolsonaro ao dizer que não cometerá o erro do governo federal de
"tensionar com Poderes". Ele ainda elogiou o ministro Luís Roberto
Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), alvo constante de críticas de bolsonaristas.
— Não vou
fazer o que erramos no governo federal de tensionar com Poderes. Vamos
conversar com ministros do STF. E Barroso é um ministro preparadíssimo,
razoável. Sempre que eu, na condição de ministro (da Infraestrutura), precisei
dele, ele ajudou o ministério. Sempre votou a favor das nossas demandas. Mas
"os caras" me esculhambaram — afirmou o futuro chefe do Executivo
paulista, para quem o país está "muito tenso e dividido" e, por isso,
é necessário pacificá-lo.
Em
outra crítica à sua base, Tarcísio citou o episódio no qual foi criticado por
publicar uma mensagem de apoio em suas redes sociais à família de Luiz Antônio
Fleury Filho, ex-governador de São Paulo que morreu neste mês.
— Depois,
tinha um evento em que teve um jantar com ministros do STF, STJ, TSE, TCU. E,
na divisão das mesas, me botaram ao lado do ministro Barroso. Queriam que eu me
levantasse e saísse? Sou governador eleito de São Paulo. Vou conversar com
ministros do STF — disse.
Bolsonaro
e o 'casulo'
O ex-ministro defendeu a
necessidade de Bolsonaro "sair do casulo", em referência às poucas
aparições e declarações do presidente da República após derrota nas urnas.
Tarcísio disse que Bolsonaro deve se posicionar como "liderança de
centro-direita", atuar na sucessão da mesa e ser voz crítica, por exemplo,
da maneira como a PEC da Transição foi apresentada.
Tarcísio
ainda admitiu ser "difícil" o ministro da Economia, Paulo Guedes,
aceitar fazer parte de sua gestão em São Paulo. Segundo ele, a tendência é que
o ex-assessor de Guedes Samuel Kinoshita seja o secretário. O convite para
Guedes foi relevado pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim.
Sobre a
relação com Lula, Tarcísio disse que é "fundamental ter uma conversa com o
governo federal".
—
Obviamente, quando for chamado, depois da posse, vou lá sem problema nenhum . E
quando entender que preciso recorrer a ele (Lula), também — afirmou ele, que
ainda acrescentou: — Graças a Deus, São Paulo depende pouco, mas há muitas
áreas em comum. Políticas de habitação são complementares, a saúde só funciona
bem quando for complementar a atuação, tem sempre a questão da recuperação da
saúde financeira das Santas Casas.
Sobre as câmeras nos uniformes policiais, medida que reduziu a letalidade policial e da qual foi crítico na campanha, Tarcísio disse que irá manter e ver que ajustes podem ser feitos. g1
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