– Quem está aí?
– É a polícia!
Em seguida, houve a primeira sequência de tiros.
Na época, de acordo com a polícia, o suspeito teria ameaçado abrir a porta dos fundos e respondido:
– Eu vou sair!
Mas, segundo a polícia, o homem teria pulado uma janela e com um fuzil calibre AR-15 atirado “às cegas” contra os agentes. Na troca de tiros, Valdetário Carneiro foi ferido por aproximadamente 13 disparos e socorrido para uma unidade de saúde local. Até então, os policiais não tinham certeza que o suspeito baleado realmente era o inimigo número um das forças de segurança. Pouco tempo depois de dar entrada no hospital da cidade, veio a confirmação da morte e só após o corpo ser recolhido para a sede do ITEP de Mossoró, que a identidade foi confirmada. Estava morto, José Valdetário Carneiro um dos homens mais procurados do Brasil.
O sepultamento aconteceu na tarde do dia seguinte, 11 de dezembro, no cemitério público de Caraúbas, terra natal do homem considerado um dos criminosos mais perigosos da Região Nordeste entre os anos 1990 e início dos anos 2000. O cortejo, segundo registros da época reuniu cerca de dez mil pessoas e parou o município que já estava ‘acostumado’ com o derramamento de sangue provocado pela rivalidade entre as famílias Simião e Carneiro.
Equipes de emissoras de televisão de Natal foram encaminhadas para acompanhar o velório e sepultamento. O clima na cidade era de tensão e medo. Por isso, Policiais civis e militares de cidades da região e até da capital potiguar reforçaram a segurança do município.
Prisões
Após a morte de José Valdetário, houve um período de ‘trégua’, nos roubos a estabelecimentos bancários principalmente no interior do Rio Grande do Norte. Os comparsas do precursor do Novo Cangaço teriam fugido do Estado em busca de uma vida ‘mais tranquila’. Apesar disso, mais de duas décadas depois da morte do maior fora da lei que o RN já viu, segundo a polícia, alguns daqueles que um dia foram peças fundamentais para sitiar cidades e espalhar o terror durante as ações criminosas acabaram presos.
Em 10 maio de 2017, Osiel Pinto de Sousa foi preso em Patu, interior do RN, durante uma operação da Polícia Civil, através da DEICOR. Segundo a Polícia, Bio de Zé de Pinto era investigado desde o ano de 2016. O ex-integrante da quadrilha de Valdetário era um dos poucos que estaria em atividade. Meses antes de ser detido, a polícia apreendeu vários materiais normalmente utilizados em explosões a caixas eletrônicos. O material estava em uma fazenda ligada ao suspeito no município de Messias Targino.
Em abril de 2023, uma ação conjunta entre a Polícia Civil da Paraíba e agentes da DEICOR do Rio Grande do Norte resultou na prisão de Florêncio das Chagas Soares do Nascimento. A Polícia Civil não divulgou quanto tempo Terinho, como é mais conhecido o suspeito, estava foragido ou quantos anos ele tem a cumprir, mas informou que o homem de 57 anos foi preso em cumprimento a um mandado de prisão preventiva e que o ex integrante da quadrilha de José Valdetário Carneiro levava uma vida normal em um condomínio popular no bairro Pajuçara na Zona Norte de Natal.
Dois meses depois, em 29 de junho de 2023, uma equipe da Delegacia de Macaíba, na Grande Natal com o apoio da Polícia Civil do Pará prendeu na cidade de Capanema (PA) um homem de 58 anos apontado como membro remanescente do bando de Valdetário Carneiro. Ele estava foragido da justiça do Rio Grande do Norte há mais de duas décadas e nesse período utilizou um nome falso. Segundo a polícia, Rosivan de Oliveira fugiu da Cadeia Pública de Caraúbas no dia 1º de junho de 2001 e antes de deixar a cidade teria assassinado o companheiro de sua ex-mulher, por não ter aceitado o fim do relacionamento enquanto estava detido.
História
José Valdetário Benevides, nasceu em Caraúbas, no interior do Rio Grande do Norte em 07 de março de 1959. Apesar de não ter o sobrenome Carneiro no registro de nascimento foi através dele que a rivalidade entre os Carneiro e os Simião ganhou repercussão em todo o Brasil, através do Programa Linha Direta, da Rede Globo. Até completar sete anos, Valdetário não havia cortado o cabelo e usava uma bata marrom com uma corda amarrada à cintura em alusão ao santo católico São Francisco de Assis.
Nos anos 1970, segundo parentes Valdetário teria dito que queria ser ator de teatro e interpretar a vida do médico e guerrilheiro argentino Ernesto “Che” Guevara. O potiguar amava as artes e o teatro. Além disso, gostava de usar chapéu de couro, semelhante aos modelos utilizados por um dos seus ídolos, Virgulino Ferreira da Silva ‘Lampião.
Ainda ao fim da década de 1970 inicia a trabalhar como mecânico em uma oficina da cidade-natal. Já em 1980 abre sua primeira oficina mecânica em Caraúbas.
Vinte e um anos após a morte de José Valdetário, o nome do ‘fora da lei’ mais conhecido da região Nordeste ainda aguça a curiosidade de muita gente. A história do primeiro e único filho do casal Luís Cândido Benevides e Antônia Amabília de Paiva virou livro e foi escrito pelos jornalistas Rafael Barbosa e Paulo Nascimento. O livro Valdetário Carneiro: a essência da bala foi publicado em 2013 vendeu 2 mil exemplares em menos de um ano. Em 2022, os autores lançaram a versão E-book do livro.
Se estivesse vivo, em 2024 Valdetário estaria com 65 anos.
Lenda...
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