Enquanto facções criminosas
incrustadas nas comunidades do Rio de Janeiro (RJ) movimentam cifras
milionárias com o tráfico de drogas e travam batalhas sangrentas com as
milícias pelo domínio territorial, os grupos paramilitares, formados por
ex-policiais, estipulam uma série de diretrizes dentro de suas “quebradas”.
Rentável, a venda de cigarros
falsificados se tornou um dos principais braços financeiros dos milicianos.
Para moradores que comprarem outra marca que não seja a vendida pela milícia,
por exemplo, a morte pode ser a punição.
Quando começaram a avançar pelo
controle das comunidades em pontos estratégicos, antes controlados pelo Comando
Vermelho (CV), os milicianos passaram a explorar, de forma ilegal, a venda de
gás de cozinha e o transporte alternativo.
Com isso, os grupos armados
cresceram e se tornaram organizações criminosas estruturadas, com dinâmicas
próprias e um único objetivo: o lucro voltado para a prestação de serviços
atrelada a ameaças e extorsões.
Os milicianos abocanharam uma
importante fatia de um mercado onde, a cada 100 cigarros vendidos, 32 são
ilegais, segundo os órgãos de controle.
Os criminosos ainda passaram a
falsificar uma marca paraguaia e transformaram o produto na “falsificação da
falsificação”, com alto índice de impurezas. Mesmo com a baixa qualidade do
produto, comerciantes locais são coagidos a vender a “marca do crime”.
Movimentação bilionária
A organizações criminosas que
exploram a venda do cigarro falsificado, entre elas as milícias cariocas,
movimentaram 34 bilhões de unidades de cigarro falso no Brasil, durante todo o
ano passado. O montante é avaliado em R$ 9 bilhões. Vale destacar que três das
10 marcas mais vendidas de cigarro no país são ilegais.
Presidente do Fórum Nacional
contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), Edson Vismona afirmou que as forças
policiais têm identificado a participação de milícias e facções na produção de
cigarro falsificado no Brasil. “Eles não só contrabandeiam como têm produzido
isso em território nacional. E ainda contam com uma facilidade logística, por
ocupar espaço no monopólio do crime”, analisou.
Edson Vismona acrescentou que
investigações conduzidas pelas forças de segurança apontam uma proibição pelos
milicianos sobre a venda de qualquer outra marca de cigarro, senão a
comercializada por eles. “Essas organizações vão ocupando espaços nas comunidades,
e os moradores só podem comprar o produto liberado pela milícia”, ressaltou.
Controle total
Uma onda de mortes violentas,
desaparecimentos, tentativas de homicídio e dívidas resolvidas à bala.
Propinas, lavagem de dinheiro, contrabando e sonegação fiscal. Essa é uma parte
da lista de crimes da máfia do cigarro ilegal comandada pelas milícias, que tem
crescido nos últimos anos no Rio de Janeiro e já controla ao menos 45 dos 92
municípios do estado.
Investigações das polícias Civil
(PCRJ) e Federal (PF) mostraram que o chefe por trás do monopólio da venda de
cigarro ilegal no RJ é Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho.
O nome dele ou de pessoas ligadas
ao bicheiro aparecem nas apurações da maioria dos homicídios investigados na
capital e na Baixada Fluminense, cometidos em decorrência da disputa pelo
cigarro.
Os detalhes de como age a
quadrilha que ele foi acusado de chefiar foram revelados por meio de duas
investigações recentes do Ministério Público no Rio de Janeiro (MPRJ) e da PF.
Nas operações Smoke Free, de novembro de 2022, e Fumus, no ano anterior, quase 70 mandados de prisão foram expedidos pela Justiça. Entre os alvos, estavam Adilsinho e o irmão dele Cláudio Coutinho de Oliveira. Metrópoles
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