“A tese apresenta falsa
aparência de autoria e originalidade”. A frase está no laudo pericial da
Justiça Federal que confirma o plágio cometido por Ludimilla Carvalho Serafim
de Oliveira, ex-reitora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa). O
documento, assinado por duas peritas judiciais, conclui que houve apropriação
sistemática de trechos de outros trabalhos acadêmicos, o que compromete a
validade do título de doutorado defendido em 2011.
O caso, revelado pela Agência
Saiba Mais em setembro de 2020, expõe não apenas uma violação à integridade
acadêmica, mas também lança luz sobre o contexto político em que Ludimilla
chegou à reitoria. Ela foi nomeada pelo então presidente Jair Bolsonaro em
agosto de 2020, apesar de ter ficado em terceiro lugar na consulta à comunidade
acadêmica.
No pleito realizado em junho
daquele ano, Rodrigo Codes venceu com 37,55% dos votos, seguido por Jean Berg
(24,84%) e Ludimilla (18,33%). A lista tríplice foi enviada ao MEC, e Bolsonaro
escolheu a candidata menos votada, repetindo uma estratégia que marcou sua
gestão: a intervenção nas instituições federais de ensino. No mesmo período, o
IFRN teve como reitor nomeado um nome que sequer participou das eleições
internas.
Plágio confirmado por perícia
judicial
O laudo, produzido no âmbito do
processo nº 0806324-11.2023.4.05.8400, movido pelo Ministério Público Federal,
analisou a tese “De repente, tudo mudou de lugar: refletindo sobre a
metamorfose urbana e gentrificação em Mossoró-RN”, defendida por Ludimilla
no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN.
De acordo com o documento, foram
identificados múltiplos trechos que correspondem literal ou estruturalmente a
conteúdos de outras obras acadêmicas sem atribuição autoral adequada. O
principal texto copiado é a dissertação de mestrado de Karisa Lorena Carmo
Barbosa Pinheiro (UFRN, 2006), mas também foram encontrados trechos plagiados
de outras dissertações e livros.
Entre as estratégias de
apropriação textual, as peritas apontam cópias literais sem aspas, paráfrases
com manutenção da estrutura sintática e colagens de parágrafos reorganizados.
“A prática de plágio
constatada na tese não é pontual, mas sistemática e recorrente, atingindo
partes significativas da fundamentação teórica, introdução e discussão, o que
compromete a autenticidade intelectual da obra”, afirma o laudo.
“Reconhecemos, com elevado
grau de certeza técnica, a ocorrência de infração à legislação de direitos
autorais e às normas da escrita científica, configurando plágio acadêmico
deliberado”, conclui.
O laudo judicial que confirma o
plágio na tese de doutorado de Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira não
apenas aponta a apropriação sistemática de trabalhos alheios, mas evidencia uma
violação grave à integridade acadêmica. A análise detalhada, baseada em
software especializado e conferência manual das fontes, mostra que cerca de 60%
do conteúdo da tese reproduz textos de outros autores sem referência adequada.
De acordo com o relatório, “há 21 documentos dos quais foram transcritos
trechos curtos, longos ou mesmo parágrafos inteiros“.
Em setembro de 2020, a Agência
Saiba Mais publicou a primeira reportagem sobre os indícios de plágio na tese
de Ludimilla. A apuração apontou cópias parciais ou integrais em pelo menos 16
páginas das 195 que compõem o trabalho, incluindo trechos técnicos e análises
teóricas reproduzidas sem aspas ou referência correta.
A denúncia ganhou repercussão
nacional, especialmente porque ocorreu no momento em que Bolsonaro nomeava
reitores sem respeitar a escolha das comunidades acadêmicas. Ludimilla assumiu
a Ufersa na mesma visita presidencial a Mossoró em que Bolsonaro reforçou sua
política de confrontar universidades, questionando sua autonomia e prometendo
intervir nas nomeações.
Linha do tempo do caso
Setembro de 2020 – A
Agência Saiba Mais publica reportagem revelando indícios de plágio na tese de
doutorado de Ludimilla.
Junho de 2023 – A
UFRN decide anular o título de doutorado de Ludimilla após conclusão de
processo administrativo disciplinar, que apontou que 44% das palavras do
trabalho não foram redigidas pela autora.
– A Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN) negou um pedido de liminar da
reitora, que tentava derrubar a anulação do título de doutorado por plágio em
tese apresentada na UFRN.
Julho de 2023 – O
Ministério Público Federal (MPF) solicitou o afastamento de Ludimilla Carvalho
Serafim de Oliveira do cargo de reitora da Universidade Federal Rural do
Semi-Árido (Ufersa) por abuso de poder e intimidação.
– O juiz federal Fabrício Ponte de Araújo negou o pedido do Ministério Público
Federal (MPF) de tutela cautelar de caráter antecedente de afastamento de
Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira do cargo de reitora da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) por abuso de poder e intimidação.
Agosto de 2023 – O
desembargador Edvaldo Batista da Silva Júnior, do TRF5, em Recife, suspende a
decisão da UFRN que cassava o título da ex-reitora e todos os atos
administrativos decorrentes dela, até que o processo transite em julgado. A
defesa de Ludimilla alegou prescrição administrativa e o direito à manutenção
do título após cinco anos, mas em decisão anterior, na 1ª Vara da Justiça
Federal no RN, o juiz havia negado pedido similar por entender que não cabia ao
Judiciário anular decisões internas das universidades.
Agosto de 2025 –
Laudo pericial da Justiça Federal confirma que a tese de doutorado contém
plágio sistemático, reforçando a perda de autenticidade do título.
Registe-se aqui com seu e-mail




ConversãoConversão EmoticonEmoticon