A escalada da violência e o nível
de sofisticação tática do Comando
Vermelho (CV) vistas na megaoperação Contenção deflagrada pelas forças
de segurança do Rio de Janeiro, em 28 de outubro deste ano, não são obra do
acaso.
São resultado de uma política
deliberada de investimento em treinamento e capacitação, um programa de
militarização do crime que tem produzido uma nova elite dentro da facção.
Longe de se limitarem ao tráfico
de drogas, os líderes do CV têm formado verdadeiros exércitos paralelos, sob a
orientação de criminosos com formação técnica e experiência militar.
Esses instrutores são conhecidos
nas investigações como “professores do crime”, especialistas responsáveis por
transformar jovens traficantes em matadores de guerra, com domínio sobre
armamento pesado, táticas de emboscada e operações de confronto direto com
forças policiais.
Entre os nomes que simbolizam
essa mutação do crime organizado estão Rian Maurício Tavares Mota, ex-militar
da Marinha do Brasil, e Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, conhecido como BMW.
Ambos representam a face mais perigosa do CV, a de uma facção que aprendeu a
agir como um exército
O engenheiro militar e a guerra
aérea
Rian Maurício Tavares Mota é
descrito pelos investigadores como o “engenheiro militar” do Comando Vermelho.
Ex-integrante da Marinha, especializado em mergulho e operações táticas, ele
transferiu para o crime o conhecimento adquirido nas Forças Armadas.
De acordo com a Polícia Federal, Mota foi o cérebro por
trás da adaptação de drones para lançar granadas e explosivos, uma tecnologia
até então inédita em confrontos urbanos no Brasil
Gravações telefônicas
interceptadas pela PF mostram o ex-militar orientando lideranças da facção,
como Edgar Alves de Andrade, o Doca, sobre como transformar drones comuns em
armas aéreas: “É só botar o dispensador. O drone segura o pino e libera a granada
quando chega no alvo.”
As instruções de Mota deram
origem a uma célula especializada em ataques aéreos, responsável por projetar
métodos de bombardeio sobre tropas que avançam pelas áreas de mata do Complexo
da Penha e do Alemão.
Essa inovação, inspirada em
técnicas vistas em zonas de guerra como a Ucrânia e o Oriente Médio, elevou o
nível de risco das operações policiais no Rio.
Preso em 2024 dentro de um
quartel, Rian Mota estruturou o setor de drones do CV e formou operadores
dentro das comunidades, ampliando o poder de fogo e a capacidade estratégica da
facção.
Segundo a polícia, o papel dele
foi crucial na modernização bélica do grupo, um salto que levou o Comando
Vermelho a confrontar o Estado em pé de guerra.
BMW: o treinador de matadores
Se Rian representa a inteligência
técnica, Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, simboliza a brutalidade
operacional. Ele é apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e
pela Polícia Civil como instrutor de atiradores e executores dentro da facção.
Os treinamentos conduzidos por
BMW ocorrem em áreas de mata e pedreiras no Complexo da Penha, e funcionam como
uma espécie de “curso de guerra” para novos soldados.
Segundo as investigações, o
programa inclui treinamento intensivo com fuzis e armas de calibre militar;
táticas de emboscada, ataque e fuga; e execuções simuladas e punições reais de
membros que desobedecem à hierarquia.
BMW comanda o chamado Grupo
Sombra, célula especializada em punições e assassinatos ordenados pela cúpula
do CV. O grupo realiza “tribunais do crime”, aplica torturas como forma de
controle social e executa rivais sob ordens diretas das lideranças.
Além disso, BMW é responsável por
integrar criminosos de outros estados, especialmente do Pará, Mato Grosso e
Acre, às fileiras do CV.
Muitos desses homens chegam ao
Rio após executarem policiais em seus estados de origem, o que, na lógica da
facção, funciona como um “passaporte”, uma espécie de currículo de sangue que
garante o ingresso no núcleo armado do Comando Vermelho.
O exército paralelo e o
treinamento da morte
O que antes era apenas um
conjunto de gangues tornou-se uma estrutura paramilitar, com hierarquia,
logística e divisão de funções. O CV passou a recrutar especialistas em
explosivos, drones, balística e comunicação criptografada
A cada operação policial, as
forças de segurança se deparam com criminosos melhor equipados, mais
disciplinados e com comportamento tático semelhante ao de forças regulares.
A existência desses “professores
do crime” representa um desafio sem precedentes para o Estado. A resposta tem
sido o isolamento desses instrutores no sistema penitenciário federal de
segurança máxima, em uma tentativa de quebrar a cadeia de comando e interromper
a transferência de conhecimento.
Mas, segundo fontes da
inteligência policial, os métodos e manuais criados por Mota e BMW já circulam
digitalmente entre faccionados de diferentes estados, garantindo que a máquina
de guerra do Comando Vermelho continue a operar, mesmo à distância.
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