A longevidade da prisão de Lula inquieta a cúpula do PT, produzindo
ajustes na retórica oficial da legenda. Conforme já comentado aqui, o
discurso que vendia Lula como herói da resistência vai sendo
gradativamente substituído por uma pregação que o apresenta com um
personagem frágil, cuja saúde estaria debilitada. Em discurso na tribuna
do Senado, Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, insinuou que a vida do
prisioneiro corre risco.
“O que querem é acabar com o Lula, o que querem é que Lula não
sobreviva”, declarou Gleisi, antes de apontar o dedo para o futuro
presidente da República e seu ministro da Justiça: “Eu quero dizer desta
tribuna: o que se pretende é que Lula morra. É isso que estão fazendo. É
esta a promessa de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista: deixá-lo
apodrecer na prisão. E esta é ação do senhor Sergio Moro, que não tem
outra coisa na vida a fazer senão a sua vingança, o seu ódio contra Luiz
Inácio Lula da Silva.”
Em meio a ataques dirigidos ao delator-companheiro Antonio Palocci,
ex-ministro dos governos de Lula e Dilma Rousseff, Gleisi emendou: “Que
fique bem claro: se algo acontecer a Lula, a responsabilidade é dessa
Operação Lava Jato, que não tem nenhuma – nenhuma! – responsabilidade
com a verdade, com as provas e com o devido processo legal.”
O discurso foi proferido nesta terça-feira (27), mesmo dia em que a
Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu que julgará antes do
final do ano o mais recente pedido de liberdade protocolado pela defesa
de Lula. Nele, os advogados sustentam que Sergio Moro “revelou clara
parcialidade e motivação política” ao condenar Lula. Alega-se que a
hipotética falta de isenção do ex-juiz da Lava Jato ficou patente no
instante em que ele aceitou o convite para ser ministro da Justiça da
gestão Bolsonaro.
Moro dá de ombros para a acusação. Declara que Lula está preso porque
cometeu crimes. Reitera que a sentença condenatória foi ratificada pelo
TRF-4, que elevou a pena para 12 anos e um mês de prisão. ”Não posso
pautar minha vida por um álibi falso de perseguição política”, afirmou
Moro sobre o fato de ter migrado da Lava Jato para a Esplanada dos
Ministérios.
O julgamento do recurso de Lula pode ser marcado para os dias 4, 11
ou 18 de dezembro. A hipótese de o preso ser libertado é considerada
remota até pela oligarquia petista. Daí a mudança de tom. Tenta-se
transformar o “Lula livre” numa espécie de causa humanitária. Preso
desde 7 de abril, Lula deve passar o Natal, o Ano Novo e até o Carnaval
na cadeia.
Lula deverá cortar muita cadeia ainda seu moço.
JOSIAS DE SOUZARegiste-se aqui com seu e-mail
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