As investigações da Operação ‘Fratura Exposta’, deflagrada pela
Polícia Federal (PF), na última quinta (14), levantaram que somente um
dos médicos supostamente envolvidos num esquema de fornecimento de
material médico-cirúrgico ao Sistema Único de Saúde (SUS) teria sido
beneficiado com quase R$ 500 mil. O ortopedista é vinculado ao Instituto
Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza.
A reportagem do Sistema Verdes Mares também apurou que a lista de
médicos implicados é maior, pois há uma operação conexa que vai além dos
11 médicos investigados na ação da PF divulgada na semana passada.
De acordo com os documentos acessados pela reportagem, o médico
Eduardo Guedes Fernandes teria recebido R$ 110 mil diretamente da conta
da Ortogênese Comércio e Importação de Materiais Médicos e Cirúrgicos
Ltda., empresa investigada com sede no bairro Aldeota. Já as contas
pessoais de Silvio Roberto Lourenço Cavalcanti e Deivid Guedes Aguiar,
sócios proprietários da empresa, teriam transferido a ele R$ 100 mil e
R$ 40 mil, respectivamente. A clínica da qual o médico é sócio também
teria recebido R$ 233 mil da conta da Ortogênese.
Sócio de Eduardo e outro citado na investigação da PF, o também
médico do IJF Guilherme Moura Colares foi apontado em relatório do
Departamento Nacional de Auditoria do SUS no Estado do Ceará (Denasus)
como “requisitante/solicitante” em procedimentos ortopédicos nos quais
se utilizaram produtos fornecidos pela Ortogênese, entre 2015 e 2016.
A defesa dos médicos informou à reportagem que, de início, não vai se
pronunciar porque a investigação está na fase inicial. O que pode
adiantar é que a clínica não tem relação com o SUS ou qualquer outra
instituição pública.
Declarações
Guilherme já prestou esclarecimentos, mas Eduardo não conseguiu se
manifestar porque sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), na semana
retrasada, e ficou quatro dias em coma. Convalescente, ele ainda não tem
condições de prestar depoimento. “Mas estamos só aguardando uma melhora
para ele comparecer à Polícia”, declarou a defesa.
O IJF informou que não foi notificado oficialmente sobre a
investigação e nem confirmou o vínculo dos médicos. No entanto, dados do
Portal da Transparência de Fortaleza sustentam que os dois receberam
pagamento pelo serviço prestado à unidade, em dezembro de 2018.
Além do IJF, a investigação menciona profissionais ligados ao
Hospital Universitário Walter Cantídio (Huwc), ao Hospital Geral de
Fortaleza (HGF), e ao Hospital Regional do Cariri (HRC). A prisão
temporária de 11 ortopedistas chegou a ser solicitada pela PF, mas os
pedidos não foram acatados pela Justiça Federal. Dois mandados de prisão
temporária foram expedidos em desfavor dos empresários. Deivid foi
preso, mas Silvio Roberto estava nos Estados Unidos e não foi
localizado.
Por meio de nota, a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia
do Estado do Ceará (Sbot-CE) declarou que “acompanha com atenção os
resultados da Operação”. Ressalta que a entidade é a favor de toda
investigação que identifique fraudes no sistema de saúde ou qualquer
tipo de ato criminoso, mas salienta “a boa fé e o compromisso ético” da
grande maioria dos ortopedistas cearenses que lutam por uma medicina
“distante de práticas ilegais”.
Mais tem ladrão nesse Brasil seu moço.
Diário do Nordeste
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